domingo, junho 22, 2025

mofo

Até as pedras mofam por aqui

Se o mofo fossem como pernas 

Tudo andava 

Eu nunca tinha visto tanto mofo por toda parte

Nas paredes, nos telhados, nos cantos, todo lado

As margens do Douro e às margens mofo

Mofo mofa a vida de toda a gente

Se eu vivesse a voar como as gaivotas 

No mofo não iria pousar

É o limbo

Poderia ser passagem pra vida

O mofo é algum tipo de vida

Até as pontes mofam

O teto 

Mas é vida que faz mal para outros seres vivos

Se destrói paredes e as pessoas não querem ali estar

Por que não são flores?

Em toda parte 

Em vez do mofo ?

Fico a pensar se eu também 

Não estou a mofar..

sexta-feira, junho 13, 2025

Esquecer

esqueci que ontem não era minha folga, disseram que pareço que tenho 10 anos
não se esquece dos dias da semana, pra mim ontem era sexta
enfim, não fui despedida, tive que ir correndo à 1 da tarde
mas era pra ter entrado às 7:30
estava a estudar tranquilamente num café,
depois de fazer exames pela minha vida saudável longe da morte
decidi que é tempo de sober men
saí com meu lenço e levei uma garrafa de Porto 
que um hóspede me deu, e outra de água
achava toda a gente feia pela cidade
a beleza é tão difícil 
o amigo palhaço daquele que era pra ser bom pra mim, mas foi tão mau..
sentou ao meu lado, 
veio aquele cheiro de álcool 
eu decidi não deixar invadir minha aura e não perguntei nada
nem como tinha sido o Brasil
ou se estava bem, é claro, que com aquele cheiro, não estava
encontrei a Tay, sentamos na Cordoaria,
lembro-me que antes me sentia bem no meio dos jovens Erasmus
agora pareceu me que eu era um e.t. e não há um lugar na cidade
que eu possa me sentir como antes, 
a não ser a mirar o rio ou o mar,
acho que mais o mar por que sei que dali as águas
vão pra todos os lugares, lugares longe daqui
o Douro já me parece velho e mofado preso entre velharias
com suas águas escuras e seus redemoinhos assassinos 
É bonito apenas quando reflete alguma luz
e hoje é realmente o dia de folga
disseram-me que agora estou a dever à casa
os meninos da recepção claro devem estar a falar bem mal de mim
mas preocupo-me com o livro e com o projeto
acordo cansada do vinho do Porto
já são quase duas da tarde e ainda estou na cama, uau
grande dia de folga
vou tomar um banho e tentar enviar um artigo 
o livro
e olhar para o projeto
não vou lavar as roupas, nem fazer as unhas 
talvez corra agora pro restaurante brasileiro
procurando alguma comida que lembre minha terra
e pronto
esquecer que ouve algum amor pra viver,
esquece, os homens nunca amaram as mulheres.

terça-feira, junho 10, 2025

A ponte, o rio, o mar.

 A lua parecia invadir a mim

estava a caminhar pela rua

sabia que poderia ser livre

me perguntaram muitas coisas

não entenderam muito do que eu escrevi

isto não está claro, se quer conseguir isso

tem de ser clara

e se eu fosse tão clara como a lua

e pudesse ver até suas manchas

que podem ser até grandes crateras

sonhava que via um homem puro

ele me esperava em outro país

eu viajava junto ao mar

perdia-me no caminho

mas ele sabia que eu iria chegar

estava com outros estrangeiros perdidos

saio do trabalho à meia noite

sento-me na janela 

e miro a lua

corro pelas escadas do hotel

fujo de errar faturações

agora preciso abrir o bar todos os dias

voltei a abrir botelhas para estrangeiros

o projeto não parece estar bom 

eu não sei por que dizer que somos apenas animais não é o

suficiente

e tampouco sei dizer por que o hilemorfismo poderia ajudar

a melhorar alguma compreensão da ontologia pessoal

contemporânea

o livro foi assim mesmo revisei o quanto pude

e agora trabalho na recepção

voltei a me maquiar

a sentar no mercado pra tentar escrever ou ler por meia hora

consigo fazer ao menos meia hora de esteira

sinto falta do pesadelo que vivia e da falta de paz 

que era estar com o outro

mas melhoro a cada dia a dor de ver tanta dor

naquele que não pude fazer grande, tranquilo e infalível

como Bruce Lee

enfim, não sou deusa

sou uma mulher

que queria apenas um homem

tola

os homens não querem mulheres

falta ainda meia hora para entrar no trabalho

abrir o bar

ver a ponte pela esplanada

sorrir para estrangeiros

treinar meu inglês, meu espanhol, meu francês, 

sei lá, qualquer outra língua que eu puder falar

não é que eu queira ser feliz

não é nada disso

eu só quero ser filósofa

nem amada mais eu peço

chega disso

mas também queria ir pra outro país

mas e depois disso 

sei que estarei sem lugar no mundo 

sei que estarei sem lugar no mundo

ao menos homem nenhum mais vou querer salvar

que se destruam

como bem quiserem

agora aceitei fazer pareceres para artigos de revista

de educação

que sei eu

de educar homens

dizem de pluralidade, de alteridade, 

de formação para além da escola

de reconhecimento do outro

acho que os homens não sabem nada das mulheres

acho que só querem destruí-las

penso que deveria parar de pensar assim

e sonhei com um homem que era puro e me 

amava

era forte e trabalhava com as mãos

era calado

era bonito

enfim, o professor parece gostar de dizer "não entendo o que está a dizer"

e fala de si em terceira pessoa, assim como eu

adorei

eu não sei bem pra onde vou

e se vou

se vou passar o verão na recepção

a ver a ponte, o rio, e o mar

quando estou a passar

se vão me contratar

se vou conseguir escrever um forte projeto

se há amor

ou homens preferem comer a si próprios

eu não sei de educação

eu sei de solidão

da paz da solidão.


terça-feira, junho 03, 2025

Não virá

as águas das cataratas
fluem com força, sem parar
são quedas monstruosas
que tocam o chão duro da realidade
e seguem pra outro plano

em paz

e se o passado
nunca tivesse sido vivido?
se o amor que me prometeste
fosse só
um índio que nunca veio? nem virá 
de estrela nenhuma

que maldição tu carregas?

uma grande alucinação
de um amor idealizado
uma promessa que se evapora
antes mesmo de se concretizar

eu, forçando a ficar
forçando a ser grande, impávido sei lá o que mais

como quem espera
o futuro que nunca chega

uma presença sempre fugidia
o índio que desceria da estrela colorida
mas desceu foi ao inferno e leva este onde vai

banhos longos
pra limpar a alma de si
e foi-se, como se não fosse nada
talvez porque não fosse

a floresta cheia de perigos que te machucam

te corroem, corrompem

minha alucinação de amar-te
me fez ver a mim

não virá,

vá, teu nome está no lixo, já sabes

não me interessa mais
teus desejos,
teu sexo que não inclui
o corpo sagrado de uma mulher sagrada

tua vida na rua, numa floresta devastada
a minha, na torre

trazia essas energias pro meu leito


ergo a cabeça
foco na minha escrita

na minha vida

o axé do afoxé virá em mim

busco outro horizonte pro amor
meu Deus isso foi o que?

um pesadelo

eu sei da minha loucura

e a viste, a tua permanece em numbra

eu senti o cheiro que veio de ti

e das tuas ações más e vis

de onde vem o que já não serve mais

e não confiei no meu faro

tão explícito

era estranho mesmo amar alguém
que começava por ter o nome 
numa lixeira, pena dos índios 

dos povos originários

não se força beleza onde não há

o exótico obviamente mórbido e desvanecido

era pena, só pena —
sem casa, sem lar, sem reza
sem o índio prometido, que nunca virá tranquilo e infalível

pena do abandono
que ofereces

o gosto de morte

carregada de uma nostalgia inventada
em risos de beberrões

perdeu a estrela pra vir e

saíste com a mesma cara
da primeira vez que te vi
com angústia e raiva

o abandonado abandona a si mesmo

o índio não virá, nem como ideal nem preservado em corpo físico

esse índio nunca virá que eu vi seu fim

não há ideia romântica de índio nenhum, nem espírito dos pássaros

nem das árvores ali

ou de águas limpas, 

o corpo de índio surpreendeu em morte

fui eu que vim

renascida de volta para o sonho de luz

da minha paz e de voltar a buscar vida pra mim.

Milagres

Comecei num maravilhoso trabalho, comida com

sobremesa, tem restaurante e chef, yes! 

e nem é tão ruim ser simpática 8 horas seguidas 

a recepção de um hotel 3 estrelas, da igreja católica, com não sei quantos

seminaristas e padres a viver por lá, com um piano de cauda de sei lá qual ano,

com vista privilegiada para o Douro e a 10 minutos de casa,

tem capela, tem telas de 1898 com anjos...

comi gambas e almocei com portuguesas agradáveis,

milagres, acho que é porque Deus sabia que eu não 

voltava a ser empregada de balcão ou de mesa, uma vitória.

E depois de uma desilusão, a vida pode dar um giro 

afinal, as pessoas mostram realmente quem são, 

Ah um alívio, 

chego em casa, olho o desenvolvimento das escritas,

as deadlines em junho e agosto, ai ai

sentada com o laptop no colo e ainda não consegui escrever

por 2 horas, parece que já descansei das 8 de trabalho,

amar com paz de agora em diante,

parece que a paz é mais importante que o amor,

são 6 recepcionistas comigo, e todos homens,

Em paz, agora é trabalhar

pra sobreviver, e escrever nas horas que tiver na sobra dos dias, 

juntar os 3000 reais para pagar a validação dos diplomas, 

não desistir do amor, 

tem gente que só deixa gosto de morte, enfim, melhor nem pensar no terror

que deve ser ser aquele corpo

profanar o sagrado feminino irá pagar cedo ou tarde

mas agora

focar nos projetos em andamento

ir ao ginásio, 

escrever, trabalhar, viver em paz e penso que vou conseguir,

se calhar tudo vai correr bem em atividade, e o limbo deve

não será mal, sei lá até  quando a incerteza de não ser integralmente researcher,

nos melhores cenários possíveis, mais de um ano, mas olha, que ao olhar para ponte 

e o Douro a entregar as águas no mar,

o verão vindo, os dias azuis, a luz, a força da vida

eu com esperança, 

a ver o horizonte

e ver que a vida mostra os caminhos e os seres

ou está claro ou escuro, basta abrir os olhos

ou é bom ou mau, basta sentir.




domingo, maio 11, 2025

Fuzz future

 Gostaria que a minha energia crescesse exponencialmente, mas parece que se passa

o contrário

eu sei que é apenas uma fase de limbo, 

ao menos vou tentar validar os diplomas no Olimpo e quem sabe sigo e subo aquelas escadas 

um dia

não sei pra onde

não acho que vá estabilizar tão cedo,

agora preciso aceitar

que o fluxo sempre pode mudar sem nenhuma estabilidade

afinal o que é estável?

catedráticos, talvez

a mulher gato e mulher maravilha eram solteiras, todas as bruxas...

saio do inferno astral em 3 dias

não sei se melhora algo

ando ausente até de mim

mas continuo a trabalhar no projeto e no livro

como se fosse uma milionária, enviando currículos aleatoriamente sem nenhuma

pretensão de subemprego

ando pelas ruas do Porto como se não tivesse medo do futuro

sonho com países que nunca fui, 

sonho com países que já fui,

sigo, a vida segue, enquanto estivermos vivos

parece que envelheci e se tiver perdido o timing da minha vida?

mas quando seria isso?

sempre foi caos, eu deveria já ter percebido isso.

Agora quero responder por que precisamos de usar a palavra alma,

animal não é suficiente para explicar quem somos?

até o professor que escrevi que parecia tão estável, 

está a fazer greve no país que já não tem uma Rainha,

a Rainha morreu, e agora ele vai trabalhar com contrato, pareceu dizer-me

vês? estou instável...como pode não parecer...

A Utopia, tenho medo, afinal, ela já me disse pra voltar pra minha terra,

penso que talvez os Deuses do Olimpo me salvem de mim mesma,

por que se eu me perdi no sonho

os deuses devem ter alguma graça, eles já demonstraram que sim.

É onde me agarro, na graça dos deuses, por que estou a mercê

de homens no mundo, 

Mephisto virou fantasma e não responde se vai escrever alguma carta de recomendação 

devo precisar de umas quatro, Sofia escreveu que eu era good philosopher na sua, uau, 

foi uma vitória, depois de simpática, subversiva, ganhei um good philosopher, 

e preciso acreditar nisso, ou melhor, preciso provar, é difícil já que sempre estou em aporia

devo escrever para Andromeda, tenho medo como sempre

devo escrever pra Utopia... também tenho medo, parece que ando delirando, 

sinto-me perdida, editando capítulos, será que precisamos de dizer de alma? qual seria um termo

mais adequado? persona?

meu Deus, eu tenho medo disso

e se eu nunca conseguir ser quem sonhava?


sábado, abril 12, 2025

Eu só queria viajar

As cataratas que são quedas d´águas imensas

com um volume imenso de água

deveriam lavar qualquer coisa que lá mergulhe

toda a falta de amor que houvesse numa vida

Quando se cansa de olhar para os mesmos buracos na parede

já não se limpa a janela, mas o sol continua lá, lindo e imponente

eu sei que vou embora em breve

e tudo isso vai ficar pra trás

Pokémon que não evoluem e não quero mais pensar nisso,

enfim, não se força a nada a mudar de vida..

já disse o Rilke que "força era mudares de vida"

eu não sei se mudei a minha vida,

continuo no mofo dessa cidade, mas sinto que o fim

da torre a tombar está perto, já posso sentir

os dias estão com sol e claro que eu não quero mais 

nenhum entorpecente, nem álcool nem tabaco

açúcar e café sem açúcar, quem entende

o amor? já não quero nem pensar nisso

era pra sentir e se não foi, não foi

só vejo a feiura do meu desejo

quero seguir linda e plena como sempre

sei que sou o que quero

e minha loucura são marcas do passado

queria Istambul, algum lugar do oriente,

os balões da Capadócia e trabalho nas palavras

do index, o que é também maravilhoso

sinto que talvez alguns problemas cartesianos já 

começaram no Ari, e a particularidade e verdade da percepção

e todo o relativismo disso pode ter feito que a percepção tenha

sido colocada em pé de dúvida por tantos, ou seja, 

a verdade que é verdade pra cada um que sente,

e eu não sei, vou fazer detox de macho

por que não vale a pena tentar mais, 

a filosofia vai ser prioridade como sempre,

eu queria viajar,

mas estou desempregada

e não sei quando voltarei pra universidade

não sei de nada

sigo em desespero

mas em paz, o que parece contraditório

e eu sou contraditória

queria me lançar num volume de água de cataratas

pra submergir em outro lugar, 

nascer totalmente restaurada na manhã seguinte.

sábado, março 29, 2025

 Será que as aves sabem do poder que é voar?

Acho que elas não fazem ideia e apenas voam.