terça-feira, outubro 28, 2008

Amor que morre

O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!

Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...

Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.

E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há-de vir!

Florbela Espanca

Inatingível

O QUE SOU EU, gritei um dia para o infinito
E o meu grito subiu, subiu sempre
Até se diluir na distância.
Um pássaro no alto planou vôo
E mergulhou no espaço.



Eu segui porque tinha que seguir
Com as mãos na boca, em concha
Gritando para o infinito a minha dúvida.
Mas a noite espiava a minha dúvida
E eu me deitei à beira do caminho
Vendo o vulto dos outros que passavam
Na esperança da aurora.
Eu continuo à beira do caminho
Vendo a luz do infinito
Que responde ao peregrino a imensa dúvida.

Eu estou moribundo à beira do caminho.
O dia já passou milhões de vezes
E se aproxima a noite do desfecho.
Morrerei gritando a minha ânsia
Clamando a crueldade do infinito
E os pássaros cantarão quando o dia chegar
E eu já hei de estar morto à beira do caminho.

Vinicius de Moraes

quarta-feira, outubro 22, 2008

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mais um ano
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sexo
momento sabático
merdas
da minha
cabecinha...

sexta-feira, outubro 03, 2008

Atitude

Minha esperança perdeu seu nome...
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.

O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.

Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.

E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes.

Cecília Meireles

4º Motivo da rosa

Não te aflijas com a pétala que voa:

também é ser, deixar de ser assim.

Rosas verá, só de cinzas franzida,

mortas, intactas pelo teu jardim.

Eu deixo aroma até nos meus espinhos

ao longe, o vento vai falando de mim.

E por perder-me é que vão me lembrando,

por desfolhar-me é que não tenho fim.

Cecília Meireles

quinta-feira, outubro 02, 2008

Apostila de semiótica

Que clichê, escrever em outra quinta cinza.
Posso senti-la pela manhã já sabendo das possibilidades de chuva,
para todo o dia.
As minhas, possibilidades, estão nubladas familiarizadas com a manhã.
Minhas possíveis representações, chapadas ainda de ontem, faz-me lembrar
o céu, a estrela que caiu e o pedido projeção ridícula e viciosa...
Aquele ritano, que nem é ele..
Vejo-as claras, projeções que não mais enganam-me, e meu desejo é
enforcá-las... eu já faço.
ah...aquela promiscuidade da carne, foi suja...limpa e suja...
Freud explica...
Essa vontade de engolir o mundo, faz-me comer tanta merda.
Usar, brincar com o sexo do outro... Freud explica e a natureza também...
O céu dessa manhã, e o que eu posso fazer se é cinza?
Minhas inúteis percepções apresentadas ao léu, mostram a cara batida que tem,
a banal comparação dos meus versos da quinta cinza da semana passada.
Eu estou como?
Permitindo que assistam-me todo o tempo, parece-me ingenuidade....
Que relação triádica quinta-feira cinza e Sâmara, signos que realmente se fizeram
melancólicos, impossível compreender isso... tal ordem e relação que só eu poderei
representar na síntese presente,
como um regalo, com ou sem chuva,
seguindo ao acaso, iguais aos fogos de ontem e o paraglider que voa sobre minha testa
agora...
Relação triádica perfeitamente concretizada na subjetividade
das possibilidades lógicas...
No fim, eu interpretante, com a apostila de semiótica ao lado.