segunda-feira, dezembro 28, 2009
Emanuel
Agregado infeliz de sangue e cal,
Fruto rubro de carne agonizante,
Filho da grande força fecundante
De minha brônzea trama neuronial,
Que poder embriológico fatal
Destruiu, com a sinergia de um gigante,
Em tua morfogênese de infante
A minha morfogênese ancestral?!
Porção de minha plásmica substância,
Em que lugar irás passar a infância,
Tragicamente anônimo, a feder?!
Ah! Possas tu dormir, feto esquecido,
Panteisticamente dissolvido
Na noumenalidade do NÃO SER!
De suspirar em vão já fatigado,
Dando trégua a meus males eu dormia;
Eis que junto de mim sonhei que via
Da Morte o gesto lívido, e mirrado
Emprega noutro objeto os teus rigores;
que esta vida infeliz está guardada
para vítima só de meus furores.
Já sobre o coche de ébano estrelado
Deu meio giro a noite escura e feia;
Que profundo silêncio me rodeia
Neste deserto bosque, à luz vedado!
Só eu velo, só eu, pedindo à sorte
Que o fio, com que está minh'alma presa
À vil matéria lânguida, me corte:
Consola-me este horror, esta tristeza;
Porque a meus olhos se afigura a morte
No silêncio total da Natureza.
Poderia vê-lo e amá-lo,
não pode sentir o meu amor,
sempre penso..
Eu o amo em minha imaginação,
vejo-o crescendo junto aos meus sonhos.
Sinto-o em meu peito e como seria abraçá-lo.
É só uma dor por não tê-lo visto existir aqui fora,
e saber que existiu em mim.
É estranho chorar por ti, e amá-lo ainda mais
Vê-lo tranformar-se em meu Salvador,
àquele que sempre fora
o meu Emanuel.
Augusto dos Anjos, Bocage e eu...
terça-feira, dezembro 22, 2009
Mudadadada...
as coisas ficam mais claras
até o cinza, o meu cinza...
Foi bom pra mim ter tido
esse fim, ? , cicatriz _na alma, na vagina, na vida_
acabou o amor fugaz que viveu na
espera de um filho.
Perder o que não pode ter,
não quisera ganhar da espécie?
Grite sua infeliz vitória..
Jogue na loteria agora, quem pode saber?
Continue a viver chapada com tanta fumaça,
e com os mesmos planos de antes de antes...?
O compromisso com a vida resume em ter compromisso
consigo mesmo. Muda-se tudo... muda a relação, muda eu,
muda o outro, mudamos nós, muda a vida.
E fico muda de novo.
quinta-feira, outubro 08, 2009
Dia pra tomar chá e escutar Pink Floyd...
falar das impressões de hoje...
Dos novos olhares,
mesmo que seja recolher o lixo, com o fedor dos restos de comida.
Na mesmice da vida doméstica,
eu não lembro se era assim que brincava de casinha,
de mamãe-papai...
Ainda assim num dia em que só chove, e recolhe-se o lixo, eu posso escutar música,
viajar, lembrar, conhecer...
Num saudosismo tão brega... lembro que não pude sair pra caminhar, estou presa!! ahahahahahaha
Vou beber um chá e fingir que não há tanta metafísica em mim...
Num estranhamento de fenômenos, domésticos com tanta paz.
Ah! Eu não estava acostumada em estar em paz...
Numa ridícula vida doméstica, na espera de um filho e de uma mãe.
Chá, chá....
domingo, setembro 20, 2009
Conselho do dia
fechada melancolicamente num mundo que criastes pra si.
Digo-lhe com toda certeza, precisas de um conselho,
e assim o faço a mim;
deves recorrer a uma filosofia fácil, sabes bem, aquela voltada ao senso
comum, incorre em ação...sabes que é essa que lhe fará bem...
Já és melancólica, não precisa de tanta metafísica, menina...
Menina nada...sem essa de apelo infantil.
Encontra somente incertezas em teus discursos,
já sabes estás segura num entendimento prático que o porvir lhe reserva.
Nasce vida em ti,
uma nova vida em si.
Sinto muito não sei quando poderá lutar por ti, os teus anseios mudaram de lugar
na lista das prioridades.
Uma boa notícia, permaneces viva, sobrevivente eu diria, não fugindo de toda a dramaticidade
casual...
Será que é a minha aniquilação? o que será meu eu diante do outro?
Será a possível luta pelo outro a base de minha força doravante?
Será, será....?
Não sei dizer se é mais bom que ruim,
recuso escutar o senso comum, o que vai ser inevitável...se sou o senso comum.
O que eu sou agora?
Sem conselhos por ora.
domingo, setembro 06, 2009
Inferno
e matar o mal é propriamente se ferir..
Quando não há auto-ajuda ou algum manual que venha ser de alguma valia,
até mesmo porque ignora-se todos..
Quando já se sabe a causa, os meios para algum fim otimista, mas com um discurso sempre
morno,
prestes a causar algum enjoô..
No fundo és egoísta, o seu próprio mal-estar insistente é um poço de egoísmo.
Fugiria de tudo e todos e logo depois se arrependeria, afinal você é o próprio inferno
em todos os lugares.
Vai chegar uma hora em que serás indefensável, se já não o és...
E permanece nos mesmos sonhos de fuga,
fugir de si mesma não se pode...
Sorria! O inferno não existe,
e olhe-se no espelho vê-lo em si
já causou transtornos demais.
sexta-feira, setembro 04, 2009
Romance LIII ou das Palavras Aéreas
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
ai, palavras, ai, palavras,
sois de vento, ides no vento,
no vento que não retorna,
e, em tão rápida existência,
tudo se forma e transforma!
Sois de vento, ides no vento,
e quedais, com sorte nova!
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
todo o sentido da vida
principia à vossa porta;
o mel do amor cristaliza
seu perfume em vossa rosa;
sois o sonho e sois a audácia,
calúnia, fúria, derrota...
A liberdade das almas,
ai! com letras se elabora...
E dos venenos humanos
sois a mais fina retorta:
frágil, frágil como o vidro
e mais que o aço poderosa!
Reis, impérios, povos, tempos,
pelo vosso impulso rodam...
Detrás de grossas paredes,
de leve, quem vos desfolha?
Pareceis de tênue seda,
sem peso de ação nem de hora...
- e estais no bico das penas,
e estais na tinta que as molha,
e estais nas mãos dos juizes,
e sois o ferro que arrocha,
e sois barco para o exílio,
e sois Moçambique e Angola!
Ai, palavras, ai, palavras,
íeis pela estrada afora,
erguendo asas muito incertas,
entre verdade e galhofa,
desejos do tempo inquieto,
promessas que o mundo sopra...
Ai, palavras, ai, palavras,
mirai-vos: que sois, agora?
- Acusações, sentinelas,
bacamarte, algema, escolta;
- o olho ardente da perfídia,
a velar, na noite morta;
- a umidade dos presídios,
- a solidão pavorosa;
- duro ferro de perguntas,
com sangue em cada resposta;
- e a sentença que caminha,
- e a esperança que não volta,
- e o coração que vacila,
- e o castigo que galopa...
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Perdão podíeis ter sido!
- sois madeira que se corta,
- sois vinte degraus de escada,
- sois um pedaço de corda...
- sois povo pelas janelas,
cortejo, bandeiras, tropa...
Ai, palavras, ai, palavras,
que estranha potência, a vossa!
Éreis um sopro na aragem...
Cecília Meireles
sábado, agosto 01, 2009
Macbeth,
sábado, junho 20, 2009
O que está feito, está feito...
às vezes, surge uma certa ambivalência
com momentos de aceitação e de rejeição
que se acompanham de um sentimento de culpa.
Quando meu filho nascer,
não façam desta vida um estandarte,
nem acenem para ele com esperanças de melhores tempos.
Não que a vida seja uma causa perdida,
pelo menos nunca sabida.
E a felicidade talvez seja uma causa velha..
Quem garante?
implore a si mesma...seja paciente...espere a vida.
O que pode querer uma mulher em seu estado?
Só poderá querer uma coisa... deverá que ser assim...
ES muss sein, es muss sein
sexta-feira, junho 19, 2009
terça-feira, junho 16, 2009
Desenvolvendo afetos
insanidade,
hormônios insólitos...
Pode também ser brisa,
com toda essa chapação.
Desenvolvendo tal maturidade no olhar
para a simplicidade fugaz da vida,
do tal milagre...
Percebendo tanta futilidade
antes mascarada.
O ser visto numa praticidade pura e
recebida por quem tanto apreciava o não-ser.
A vida bem-vinda,
os afetos invólucros,
crescem.
sexta-feira, maio 08, 2009
garota enxaqueca não terá mais tempo
pra mazelas...
Ah! conhecerá o amor incondicional...haha
É pra dar risada da espécie...é muita audácia!
A narração vai continuar no diário, no prazer e desprazer da
vida doméstica.
Pedia sentido, sentido...bem feito...agora tem.
Entender o valor do amor...haha bem feito, agora vai ser obrigada a sabê-lo.
sábado, março 21, 2009
sábado, fevereiro 28, 2009
O Pálacio da Ventura
Por desertos, por sóis, por noite escura,
Paladino do amor, busca anelante
O palácio encantado da Ventura!
Mas já desmaio, exausto e vacilante,
Quebrada a espada já, rota a armadura...
E eis que súbito o avisto, fulgurante
Na sua pompa e aérea formusura!
Com grandes golpes bato à porta e brado:
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado...
Abri-vos, portas d'ouro, ante meus ais!
Abrem-se as portas d'ouro, com fragor...
Mas dentro encontro só, cheio de dor,
Silêncio e escuridão - e nada mais!
Antero de Quental
quinta-feira, fevereiro 05, 2009
Uma flor desidratada...
Que seu tempo passe.
Parece carecer de algo, ela é muito pobre, mas isso é o que ela é..
indelevelmente pobre...
Já não quer mais se levantar,
Os dias vão passando deitados,
nos olhos úmidos, numa casa onde não sabem o que é o amor.
O sentido de estar ali também não se sabe mais.
Como se existisse sem vontade, mas tivesse a lembrança do que poderia
vir-a-ser...
Não há mais pelo que chorar,
Já não está mais condicionada em nenhuma dor,
ainda sim tem as palpebras inchadas, talvez sejam lágrimas
aprisionadas...
Já não se questina a melancolia com que trata seus dias,
como uma flor desidratada, só espera que seu tempo passe...
Já não brinda à Dioniso, à nadie...
Permanece estática... tem preguiça até de seus pensamentos mórbidos...
O que há com essa vida que não sabe viver, senão como uma bulha?
Não sabe o que lhe falta para que possa enfim contemplar, que seja bucólicamente
pobre, que seja... mas lhe falta contemplação.
Onde está o desejo?
E o prazer?
Onde foi que ela perdeu aquela singular satisfação de viventes que se limitam em viver?
Ou que ela possa contentar-se simplesmente em ser...
Não que ela não seja interessante, ela é sim, ou o é o suficiente para desprezar quem quer
que seja, mas isso também é pouco, ou é nada.
Ela não sabe qual o atual problema, nem há problemas aparentes,
nem conceitos, há somente uma vida que já não busca sentido algum e como poderia deixá-la assim?
Sei que não quer inventar nenhum sentido,
por isso temo que seu tempo passe pobre assim...
quarta-feira, janeiro 21, 2009
Gozei...
Como se moço e não bem velho eu fosse
Uma nova ilusão veio animar-me.
Na minh'alma floriu um novo carme,
O meu ser para o céu alcandorou-se.
Ouvi gritos em mim como um alarme.
E o meu olhar, outrora suave e doce,
Nas ânsias de escalar o azul, tornou-se
Todo em raios que vinham desolar-me.
Vi-me no cimo eterno da montanha,
Tentando unir ao peito a luz dos círios
Que brilhavam na paz da noite estranha.
Acordei do áureo sonho em sobressalto:
Do céu tombei aos caos dos meus martírios,
Sem saber para que subi tão alto...
Alphonsus de Guimaraens
Sonetos pra eu gozar...
"Último Credo"
Como ama o homem adúltero o adultério
E o ébrio a garrafa tóxica de rum,
Amo o coveiro este ladrão
arrasta a gente para o cemitério!
É o transcendentalíssimo mistério!
o nous, é o pneuma, é o ego sum qui sum,
É a morte, é esse danado número Um,
Que matou Cristo e que matou Tibério.
Creio como o filósofo mais crente,
Na generalidade decrescente
Com que a substância cósmica evolue...
Creio, perante a evolução imensa,
Que o homem universal de amanhã vença
O homem particular que eu ontem fui!
Augusto dos Anjos
terça-feira, janeiro 13, 2009
Fa-Fa-Fa
I need a shot
I need a shot of ambition
I need a hit
I need a hit of nutrition
I need a fix
I need to fix my ignition
If you want to whip me into shape
I need a plan or a mission
Cause I'm gunna ride fast, going nowhere
And I left my brain in the past
I'm gunna ride fast
To where I don't care
Faa Faa Faa FA FA FA FA Faa
Datarock
sábado, janeiro 03, 2009
Meu deus
O que quer de mim
O que ele fará comigo?
Um homem bonito que planos
O que Deus me deu
E que ele fará com os seus
Braços de amansar desejos
Boca de beijo
Corpo de tocar
Meu coração muito tonto
Quer sair de mim
Olhos flechando meus zelos
Bem que o meu corpo já me mostrava
Tentação das mais safadas
Sem dor sem penar
Meu Deus, Ave Maria!
Se ele não é um dos Seus
Ninguém mais seria
Ninguém mais seria
Um homem bonito assim
O que quer de mim
O que ele fará comigo
Um homem bonito que planos
O que Deus me deu
E o que ele fará com os seus
Braços de arrancar desejos
Olhos de gato
Sabor de hortelã
Meu coração muito louco
Quer chegar-se em mim
Olhos flechando os meus zelos
Bem que o meu corpo já me mostrava
Conclusão das mais safadas
Sem dor sem penar
Meu Deus, Ave Maria!
Se ele não é um dos Seus
Ninguém mais seria
Ninguém mais seria
Meu Deus, Ave Maria!
Se ele não é um dos Seus
Ninguém mais seria
Ninguém mais