sexta-feira, setembro 27, 2013

Eu nado no nada, e a Hilda inunda tudo..

I
Que este amor não me cegue nem me siga.
E de mim mesma nunca se aperceba.
Que me exclua do estar sendo perseguida
E do tormento
De só por ele me saber estar sendo.
Que o olhar não se perca nas tulipas
Pois formas tão perfeitas de beleza
Vêm do fulgor das trevas.
E o meu Senhor habita o rutilante escuro
De um suposto de heras em alto muro.
Que este amor me faça descontente
E farta de fadigas. E de fragilidades tantas
Eu me faça pequena. E diminuta e tenra
Como só soem ser aranhas e formigas.
Que este amor só me veja de partida.

II
E só me veja
No não merecimento das conquistas.
De pé. Nas plataformas, nas escadas
Ou através de umas janelas baças:
Uma mulher no trem: perfil desabitado de carícias
E só me veja no não merecimento e interdita:
Papéis, valises, tomos, sobretudos
Eu-alguém travestida de luto. (E um olhar
de púrpura e desgosto, vendo através de mim
navios e dorsos).
Dorsos de luz de águas mais profundas. Peixes.
Mas sobre mim, intensas, ilhargas juvenis
Machucadas de gozo.
E que jamais perceba o rocio da chama:
Este molhado fulgor sobre o meu rosto.

III
Isso de mim que anseia despedida
(Para perpetuar o que está sendo)
Não tem nome de amor. Nem é celeste
Ou terreno. Isso de mim é marulhoso
E tenro. Dançarino também. Isso de mim
É novo: Como que come o que nada contém.
A impossível oquidão de um ovo.
Como se um tigre
Reversivo,
Veemente de seu avesso
Cantasse mansamente.
Não tem nome de amor. Nem se parece a mim.
Como pode ser isso? Ser tenro, marulhoso
Dançarino e novo, ter nome de ninguém
E preferir ausência e desconforto
Para guardar no eterno o coração do outro.

IV
E por que, também não doloso e penitente?
Dolo pode ser punhal. E astúcia, logro.
E isso sem nome, o despedir-se sempre
Tem muito de sedução, armadilhas, minúcias
Isso sem nome fere e faz feridas.
Penitente e algoz:
Como se só na morte abraçasses a vida.
É pomposo e pungente. Com ares de santidade
Odores de cortesã, pode ser carmelita
ou Catarina, ser menina ou malsã.
Penitente e doloso
Pode ser o sumo de um instante.
Pode ser tu-outro pretendido, teu adeus, tua sorte.
Fêmea-rapaz, ISSO sem nome pode ser um todo
Que só se ajusta ao Nunca. Ao Nunca Mais.

V
O Nunca Mais não é verdade.
Há ilusões e assomos, há repentes
De perpetuar a Duração.
O Nunca Mais é só meia-verdade:
Como se visses a ave entre a folhagem
E ao mesmo tempo não.
(E antevisses
Contentamento e morte na paisagem).
O Nunca Mais é de planície e fendas.
É de abismos e arroios.
É de perpetuidade no que pensas efêmero
E breve e pequenino
No que sentes eterno.
Nem é corvo ou poema o Nunca Mais.

VI
Tem nome veemente. O Nunca mais tem fome.
De formosura, desgosto, ri
E chora. Um tigre passeia o Nunca Mais
Sobre as paredes do gozo. Um tigre te persegue.
E perseguido és novo, devastado e outro.
Pensas comicidade no que é breve: paixão?
Há de se diluir. Molhaduras, lençóis
E de fartar-se,
O nojo. Mas não. Atado à tua própria envoltura
Manchado de quimeras, passeias teu costado.
O Nunca Mais é a fera.

VII
Rios de rumor: meu peito te dizendo adeus.
Aldeia é o que sou. Aldeã de conceitos
Porque me fiz tanto de ressentimentos
Que o melhor é partir. E te mandar escritos.
Rios de rumor no peito: que te viram subir
A colina de alfafas, sem éguas e sem cabras
Mas com a mulher, aquela,
Que sempre diante dela me soube tão pequena.
Sabenças? Esqueci-as. Livros? Perdi-os.
Perdi-me tanto em ti
Que quando estou contigo não sou vista
E quando estás comigo vêem aquela.

VIII
Aquela que não te pertence por mais queira
(Porque ser pertencente
É entregar a alma a uma Cara, a de áspide
Escura e clara, negra e transparente), Ai!
Saber-se pertencente é ter mais nada.
É ter tudo também.
É como ter o rio, aquele que deságua
Nas infinitas águas de um sem-fim de ninguéns.
Aquela que não te pertence não tem corpo.
Porque corpo é um conceito suposto de matéria
E finito. E aquela é luz. E etérea.
Pertencente é não ter rosto. É ser amante
De um Outro que nem nome tem. Não é Deus nem Satã.
Não tem ilharga ou osso. Fende sem ofender.
É vida e ferida ao mesmo tempo, "Esse"
Que bem me sabe inteira pertencida.

IX
Ilharga, osso, algumas vezes é tudo o que se tem.
Pensas de carne a ilha, e majestoso o osso.
E pensas maravilha quando pensas anca
Quando pensas virilha pensas gozo.
Mas tudo mais falece quando pensas tardança
E te despedes.
E quando pensas breve
Teu balbucio trêmulo, teu texto-desengano
Que te espia, e espia o pouco tempo te rondando a ilha.
E quando pensas VIDA QUE ESMORECE. E retomas
Luta, ascese, e as mós vão triturando
Tua esmaltada garganta... Mesmo assim mesmo
Canta! Ainda que se desfaçam ilhargas, trilhas...
Canta o começo e o fim. Como se fosse verdade
A esperança.

X
Como se fosse verdade encantações, poemas
Como se Aquele ouvisse arrebatado
Teus cantares de louca, as cantigas da pena.
Como se a cada noite de ti se despedisse
Com colibris na boca.
E candeias e frutos, como se fosses amante
E estivesses de luto, e Ele, o Pai
Te fizesse por isso adormecer...
(Como se se apiedasse porque humana
És apenas poeira,
E Ele o grande Tecelão da tua morte: a teia).
Como se fosse vão te amar e por isso perfeito.
Amar o perecível, o nada, o pó, é sempre despedir-se.
E não é Ele, o Fazedor, o Artífice, o Cego
O Seguidor disso sem nome? ISSO...
O amor e sua fome. 

Hilda Hilst

sábado, setembro 21, 2013

Ele, o real candente

Depois de flores, isqueiros, muita água e filosofia que é vida
vi que sou feliz ali
quando digo e vivo o mundo da maneira que
o compartilhamos no entendimento
pois somos ambulantes que amam
ansiando
saber os porquês da vida, amando tanto
sem saber o por que
e mesmo que critiquem-me por
ansiar um amor justificado
o qual dizem não ser possível
eu sei que estou no caminho
e a realidade finca e sustenta
todos os dias, pra que eu encontre-me
sempre, e  não esqueça jamais que já me perdi
Pois meus olhos viram um risco de Deus no céu da minha realidade
infinita

e
s
t
r
e
l
a
-
c
d
e
n
t


s. f.
Fenómeno luminoso provocado pela deslocação de um corpúsculo sólido, quase sempre de pequenas dimensões, tornado incandescente em consequência da fricção nas camadas atmosféricas.
outra vez
e a queda que anseia ascendência no desejo não foi por amor
logo, não me reconheci, que raro
como assim?
a vida inteira foi só isso que eu pedi à realidade
Há algo de errado..
ou eu inventei o amor que mira em discurso..
pensamentos que pedem aplausos reverenciados,
acordo de seres que anunciam
e pedem também
olhar, atenção, admiração, embate, encontro, continuação, imaginação
criação, aplicação ao coração apoiado no real dos sábios
tá bom, isso suponho semelhança ao meu sublime amor
numa sapiência sexual e sensual interminável
E ali nos apaixonamos a cada dia mais
e tudo vai surpreendendo-me por ser tão certo
tão inteiro, em tamanha conformidade com minha forma, que me assusta...
E tenho medo de novo, de ser tudo sonho.. ok, la vida es sueño...
Mas como sonho se a minha verdade é realidade agora?
Ah...é só medo de cair do voo..
será agarrar-me numas asas abstratas?
Como pode negar tua nova invenção do real?
Se não sabes lidar com tanto amor por ele
pois o medo agora é de morrer e deixar de amar
o todo que é, unido ao eu sou.

quinta-feira, setembro 19, 2013

Óide a dor



E no dorso pulsam os nódulos
será na expressão plácida vá toda tensão viver ali?
Algo de sereno, e obviamente hormonal aquieta-me no resto,
As ânsias foram para trás, em meio às escápulas..o serrátil sendo agulhado
especificamente.
E se eu soubesse escrever sobre a dor
diria do meu serrátil pulsante?
Que quimera inútil...

Estalados mudos, radiados num espaço minúsculo do dorso
formam a minha corcova de descargas,
de impulsos elétricos
sem nenhuma expectativa...
Aliás, vai ver é no rombóide maior...
Rombo+ óide
rombo = arrombamento
óide = ?

Que rima com
imbecilóide e principalmente
debilóide






óia o óide aê...

Do grego antigo εἶδος (eîdos) ("aspecto", "aparência").

Ou seja, digo das picadelas no dorso aparência...na fenda do aspecto.





quarta-feira, setembro 18, 2013

Bom conselho

Se tens razão e coração, mostra somente um deles,

Por ambos te condenariam se os mostrasses juntos.

Friedrich Hölderlin

sábado, setembro 14, 2013

O ideal como ser necessário..

No CEU foi só poesia,
E o ideal perdeu-se frente ao real..
Que bom!
Agora o ideal é o real.
Talvez isso seja ser feliz.
Ser o que se quer,
e as "aspirações altas e nobres e lúcidas"
seria reconhecer que o ideal
é amar o real.
Porém, nego,
não concebo suprimi-lo, seria como estacionar-me
na vaga do presente..
o ideal deve existir como sentido unificante,
não impedindo o presente de ser pleno
e sim impelindo-o pra si
no rumo do desejo que é centro
do ser que se faz necessário..

Devaneios cortantes no xadrez da pele..numa epiderme que pede calma pra alma..

Agora eu escrevo pelo olhar do outro
aquele que queria ser destruído
mas se refaz..ao menos é o que diz,
e eu de fato gostaria de vê-lo inteiro..
Não como heroi, ou anti-heroi
mas como aquele que deixa de ser coisa
e assume-se humano, que se conserva em uma
filosofia do abraço...sem punição, seremos sarados
Como a consciência que busca unificar-se em
algum sentido,
que seja filosofia, formas e cores, natureza,
abraços..
Inultimente a moral faz-me aconchegar em sons de violino
que gritam sem cortar a pele, pois já o fazemos na alma..
sem entender o sentimento, os centímetros que nos separam,
e parece-nos como a cura para ambos...
Numa cura afoita, que pede abraços de novo..abraços novos.
O vinil já acabou, e agora, qual será a trilha da sexta treze
que não fez mais pessoas se transformarem em coisas
mas em subjetividades plenas de vida, complexas e falantes.
Continuo no Paganini? sim, vou só virar o lado do disco..
ah, agora são muitos violinos, nem tão cortantes
como um só...
Na noite passada tive um sonho,
me manipulavam pelo mamilo,
sem poder pensar, pelo toque que ligava o desejo e impedia-me
de ser livre,
por isso não fui sair pra ser coisa hoje...
E voltei com uma aliança ao lado, que com herdeiro
não soube ainda dar sentido..Mas o que passa, com o humano
que ri, com a boca aberta e os dentes todos à vista?
E me cheira, sem escrúpulos?
Sou eu, que canto violinos que abraçam?
sou eu?
O sangue que me tiraram hoje, foi só um exame..
A cerveja, foi só um deslanche pra ir embora com minha companhia
de narinas que escorreram em pura carência de aromas,
a mesma que eu me identifico...na busca.
Eu que busco o cheiro do ideal que não faz cortes em xadrez
num jogo mutilado, pois já estamos fartos dos cortes,
afinal o ideal é platônico quer queiram ou não..
por isso, estou em casa, na sexta treze,
sem ser coisa, o desejo melancólico hoje se tornou sublime
por aspirar e vislumbrar o belo que não nos humilha
ao nos tornar contentes por viver..
E ver, a vida que escolhemos ter,
afinal escolhemos tudo,
e não somos mais vítima,
somos filósofos,
seja no negro possuindo o ponto branco,
ou brancos contidos no ponto negro,
somos assim,
humanos..
Livres, para amar e sermos felizes...com finalidade de
ética nicomaquéia e comum aos comuns...
e não digo de discursos ilusórios,
digo de verdades de cada um..
E é tudo, a realidade não nos consome mais,
pois sou e você que a unificamos em nosso ser, ou pelo menos
tentamos..
Os violinos não cortam mais,
eles cantam o belo e o sublime.
E agora, ainda preciso de outro tom, para finalizar o pensamento,
posso escolher, as modulações,
a ver..pera..
Ópera de Verdi, pra anunciar meu grito
que tende a sonorizar as minhas misérias que não são definitivas.
Ich, acho que essa ópera não diz nada de mim,
meu grito não é sóbrio e harmonioso,
melhor tirar..pera...
Vai de Tristão e Isolda de Wagner..
e agora sim...tá lindo...
quase romântico,
mas tudo é invenção do meu romance..
E nada é em vão..muito menos o fim de Tristão e
Isolda...
que poderá não ser triste no fim do hoje,
pois somos inteiros e nos abraçamos,
sempre,
depois do beijo no canudo do suco
de maracujá do Mc Donalds...
após nossa dialética anti-capitalista do sujeito
como objeto-coisa.
Espero que amanhã faça sol pra eu ir ao CEU...

Primeira sexta treze, na qual eu pude recusar as sensações
pulsantes de homens-objetos, bailando numa batucada infinitamente
sem nenhuma subjetividade que vem dos rebolados das ancas...

quarta-feira, setembro 04, 2013

Corações e florzinhas...

Agora eu percebo a infantilidade loira que permite
que eu sonhe cenas eróticas e românticas
naturais e livres...numa fantasia sem pai,
Sâmara, eu lhe digo não se ama o que deseja e deseja-se o que não se ama...
E eu digo, fodas!
Vou continuar floreando e colocando coraçõezinhos
na minha realidade
hoje ridícula...
pois, poix, Portugal é lindo, inteligente e tradutor e veio
falar-me da emancipação
do espectador em Ranciére e eu apaixonei-me no mesmo dia,
instantaneamente,
e no outro dia, hoje, eu vejo o quanto eu alimento ilusões
inúteis...
como sou ignorante no que diz respeito às expectativas
ao amor
ao desejo
ao outro...
Tudo que há em mim é sonho,
minha percepção do outro não é compatível
com a intenção deste frente a minha expectativa
infantil e carente..
Somos seres racionais, dizem-me os homens,
pensamos com duas cabeças
e vc aí com corações e florzinhas..
Ai de mim,
que sou ridícula..