a vida soube fazer
o que tinha de vir em mente
fazer coisas
escrever palavras
comer maçãs
estar atento ao atravessar a rua
escutar as gaivotas
escutar a bandeira a se debater no
mastro
não há tempo de agora
depois poderia lembrar
há o que passou
eu não sei onde vou
para o Brasil
é certo que não será pro Japão
foi se mais um amor
eu poderia propor para ainda
sermos amigos
não há pazes para serem feitas
não há filósofos para serem amados
não há teorias que se possa repetir
por muito tempo
afinal
como tudo será lembrado daqui um tempo?
haverá o depois do quarto da Rua Gonçalo
Sampaio
como agora é o depois da Rua Lazaristas
há gente em Brasil
de onde eu vim
a janela está a bater
eu não saberia dizer coisas importantes
sobre os irrigadores que acabaram de ser ligados
às 03 da manhã
o Alécio e meu estômago roncam sincronicamente
eu tento buscar temas para continuar a estudar
Metafísica, Epistemologia, Literatura, Fenomenologia
fazer um trabalho pra Celeste do Heidegger
ela deve gostar
da pergunta
que Hölderlin fez
afinal para que servem os poetas em tempos
difíceis?
a resposta
»pão e vinho»
eu não quero mais pensar
é inferno astral
penso que sou grata
mas também que me sinto deprimida
e devo acordar daqui umas
12 horas
os graus de ignorância servem de algum
modo fundante na responsabilidade epistêmica
aprendi na aula de hoje...
não importa
analíticos gostam de
Se vejo S conheço S?
Se sou Sâmara
um dia lembrarei de quem fui.
eu poderia a continuar a divagar
penso no Japão...
tem umas cerejeiras bem bonitas por lá
e os filmes do Kurasawa.
grande aventura
mas há algo engasgado
foi sangue demais e agora
estou a esperar vir mais
e não vem
preciso sangrar…afinal
é suposto todo mês
o projeto
já nem quero mais pensar
pareço estar com mágoas
da filosofia
e não queria que o que eu sonhei
me levasse pra um lugar solitário
talvez eu já esteja nesse lugar
franzo a testa
nada resolve
não há nada pra ser feito a essa hora
nesses dias
estado de emergência
estados mentais emergenciais
queria parar de franzir a testa
queria parar o tempo
mas nem sei em que momento seria
sinceramente...
os graus de ignorância
de primeira e segunda ordem
tá tudo tão estúpido
e estou a aprender
e tá tudo ainda tão estúpido e ridículo
estranho
a tríade
contínua
nem foi um mal dia
é que eu não sei o que vou
lembrar desses dias
está tudo a passar rápido
eu aprendo pouco
afinal
era pra ser um génio
e tou mais pra doida maluca
com muitas certezas...
tabacaria..sim, um looping
vou fumar olhando pra
"dentro do coração sempre"
sempre e a foto
da Zara
do outro lado da rua
vendo a bandeira se debater
enquanto vejo os pingos
refletidos
pela luz do poste
e não vou morrer
por que o cemitério
é do outro lado da casa.
apanho a calcinha no chão
quando venta mais a bandeira
se debate menos
e as gaivotas nunca se calam
enquanto o vento
ora é calmo
ora tem raiva
se fosse fogo
queimaria esta bandeira
xixi e sono...
dogmático ou cético?
ahahah fodasssssssssssssssss
sono caralho
cadê?
nem um nem outro.
nem pão, nem vinho.