quinta-feira, fevereiro 16, 2023

Relatórios 2022

começaram-se a fabricação de relatórios

estou a ver o quanto 2022 foi difícil pra mim

na coluna não há nada que possa indicar alguma lesão, nadinha

o mestre de cu é rola estava certo, estou lesionada é da cabeça

e não quero mais lutar, tentar atacar pelas costas

duas apresentações num ano inteiro, uma publicação 

muitos ataques pelas costas

agora acreditando seriamente na misoginia

ficando mais louca

nem pensando mais em encontrar alguém pra reproduzir ou amar

agora é só trabalho e se rola de um lado pra outro da cama a noite inteira a ter ideias

como a carne é consciência?

se estou estressada sinto dor nas costas

a carne é consciência?

o olho que vê é carne?

é o composto de tal forma e tal matéria 

é o hilemorfismo a composição, a configuração?

a carne do terceiro Merleau-Ponty quem diria

que chegaria aí sem nenhum medo de ser chamada de iniciada por fregeanos

arrogantes que estão a descer na terra vindo de algum reino fake que criaram pra si próprios

sinto-me a começar 2023 hoje

saiu a permissão da tradução do Terrence, o primeiro aceite para apresentar em inglês e não, 

não quero ir a nenhum jantar

e eu começo a não querer mais ver homens eu só quero seguir sozinha

e parece que estou feliz

consegui passar por essa tpm algumas noites em claro e sem nenhum calmante

a dor foi imensa

mas hoje acordei melhor

sonhei que preparava meu navio que estava preso ancorado em alguma gruta escura

liberava alguns pássaros para voar

e eu tinha de enfrentar o mar azul escuro

me disseram ontem que é carnaval

e eu só quero pensar sobre a relação do Ari com o Ponty hahaha

ir a alguma aula de pilates

escrevem "assim tão distantes?" em resumos, como eu, sim, estão a me imitar hahaha

meus amigos esquizofrênicos que tentam me atacar pelas costas

enfim, a isolar-me do resto, como sempre

a minha festa da carne, vai ser pensar a carne como consciência.

mas no Ari a percepção ao discrimar os sentidos e seus sensíveis próprios

não pode ser numa última instância a carne.


Por exemplo, a visão discrimina o branco e o preto, e o paladar o doce e o amargo. O mesmo se passa, assim, nos outros casos. E uma vez que, além do branco e do doce, discriminamos igualmente cada um dos sensíveis entre si, é mediante alguma coisa que percepcionamos o facto de serem diferentes. É forçoso, então, que seja mediante um sentido, já que se trata de sensíveis. Fica claro, deste modo, que a carne não é o órgão sensorial último; ou então a faculdade que discriminaria, necessariamente, ao tocar "o sensível". (426a10-5)



a carne POnty "entre as cores e os pretenso visíveis, encontra-se o tecido que os duplica, sustenta, alimenta, e que não é coisa mas possibilidade, latência e carne das coisas." 131


a carne... eu preciso investigar mais a carne naturalmente intencional.

»Caminhamos em direção ao centro, procuramos compreender como há um centro, em que consiste a unidade, não dizemos que ela seja a soma ou resultado e, se fazemos o pensamento aparecer sobre uma infraestrutura de visão, é só em virtude desta evidência incontestada que é preciso ver ou sentir de alguma maneira para poder pensar, que todo pensamento que conhecemos advém de uma carne.»» 143


A carne de que falamos não é matéria. Consiste no enovelamento do visível sobre o corpo vidente, do tangível sobre o corpo tangente, atestado sobretudo quando o corpo se vê, se toca vendo e tocando as coisas, de forma que, simultaneamente, como tangível, desce entre elas, como tangente, domina-as todas, extraindo de si próprio essa relação e mesmo essa dupla relação, por deiscência ou fissão de sua massa. Essa concentração dos visíveis em torno de um deles, ou esta explosão da massa do corpo em direção às coisas, que faz com que uma vibração de minha pele venha a ser o liso ou o rugoso, que eu seja olhos, os movimentos e os contornos das próprias coisas, esta relação mágica, este pacto entre elas e mim, pelo qual lhes empresto meu corpo a fim de que nele possam inscrever e dar-me, à semelhança delas, esta prega, esta cavidade central do visível que é minha visão, estas duas filas especulares do vidente e do visível, do palpador e do palpado, formam um sistema perfeitamente ligado no qual me baseio, definem uma visão em geral e um estilo constante da visibilidade de que não poderei desfazer-me, ainda que tal visão particular se revele ilusória, pois fico certo, então, de que, olhando melhor teria tido a verdadeira visão, e que em todo o caso, aquela ou outra, sempre existe uma. A carne (a do mundo ou a minha) não é contingência, caos, mas textura que regressa a si e convém a si mesma. Nunca verei minhas retinas, mas estou absolutamente certo de que alguém encontrará no fundo de meus globos oculares essas membranas embaciadas e secretas. E finalmente eu creio - creio que possuo os sentidos de homem, um corpo de homem - pois o espetáculo do mundo que é meu e que, a julgar por nossas confrontações não difere particularmente do dos outros, tanto em mim como nos outros se reporta com evidência a dimensões de visibilidade típicas e, finalmente, a um foco virtual de visão, a um detector  também ele típico, de sorte que, na juntura do corpo e do mundo opacos, há um raio de generalidade e de luz. 143-144


Eu finalmente creio que possuo os sentidos de mulher, um corpo de mulher.