domingo, janeiro 12, 2014

A falta de um almoço de domingo

Quando se há mais razão
depois de dormir a maior parte do domingo
e descansar só num dia de silêncio
nestes que precisamos de almoços
especiais
principalmente agora
penso
numa janta daquelas
ahhh  
mas não há
e vai de bolo de chocolate mesmo
sanguinária por sal
lembra-se das doses de dopamina da
paixão da última semana
das conversas olhando para a piscina
da verdade da realidade
e a sua dúvida do real
da ideia muito mais natural
e os hormônios que dormiram bem
e se alimentaram mal hoje
tens um olhar que
tenta enxergar o dileto com
exatidão
depois disso
um gozo de sofá
com o Faustão gritando por sua
atenção
terminado isso
levanta e
ajeita algumas roupas espalhadas
pela casa
selecionando os papeis que devem 
ser conservados
são tantos papeis
discute com aquele que chega
da França, mas é o mesmo
e primeira coisa que faz é comprar uma
moto
aquele que outro dia tu fostes
visitar, lembrando: todo ralado do tombo
minha opinião não interessa
se não vês a tua própria involução
é fato que quero e necessito mostrar-te o que penso
e se há via da verdade e da opinião
eu suponho as duas..
faz muito calor e muitos pernilongos
me comem
eu enfim, não sinto falta de nada
a não ser da janta
ponho a Janis pra gritar na vitrola
e volto pra arrumar meu quartinho 
de amontoados que ficarão
trancados
pois eu já mudei daqui.

Transforma-se o amador na cousa amada,
por virtude do muito imaginar;
não tenho, logo, mais que desejar,
pois em mim tenho a parte desejada.

Se nela está minha alma transformada,
que mais deseja o corpo de alcançar?
Em si somente pode descansar,
pois consigo tal alma está ligada.

Mas esta linda e pura semidéia,
que, como um acidente em seu sujeito,
assim como a alma minha se conforma,

está no pensamento como idéia:
[e] o vivo e puro amor de que sou feito,
como a matéria simples busca a forma.
Luís Vaz de Camões