segunda-feira, setembro 11, 2023

lacrimosa deluzida

passo o dia lacrimosa

requiem all day

perdi a fé até no amor por hoje

enfim, quando os ancestrais morrem

já não se sabe de onde veio

nem pra onde vais

morres Sâmara

estás a morrer

parece uma criança para além da metade da vida

não sabe se expressar

não sabe nada

e passas a vida a tentar aprender seja lá o que for

aprender

amar

não sabes bem 

não vês que o teatro da vida

muitos dias é melhor com o blackout fechado?

Merlin

foi um sonho

e tu morre

és uma ficção

uma lunática 

sabias que poderias sentir

teu coração assim todo o tempo, sangrando?

estás mesmo a morrer?

mas se é sempre sangue vivo que está dentro dos corações

morres se deixas de sangrar

hoje o sangue que passa pelos seus ventrículos

e o que sai do teu útero

nada importa

morres

não é o mesmo sangue

és o teu sangue

tua ancestralidade

és parte da tua escuridão

do ipê amarelo em frente o buracão

tu procuras inutilmente 

não há mais matriarca, patriarca...

eu já não quero amar

quero odiar

quero odiar ter visto a lua azul

no céu de Munch

deluzida

as imagens de ti que ficaram em mim

estão vivas

e movem-me 

aquecem meu coração

e o faz sangrar assim

desse jeito que me faz chorar

aquecem minha cara e meus olhos

e as lágrimas saem 

parecem quentes e salgadas

vieram de onde no meu corpo?

estão na visão desses fantasmas?

não há magia alguma

foste embora

morreste

e te enterraram 

eu imagino cheia de flores

e de lágrimas

talvez eu nunca seja uma matriarca

talvez eu seja sempre uma mulher

solitária no mundo

que sonhou encontrar Merlin

na lua azul.