passo o dia lacrimosa
requiem all day
perdi a fé até no amor por hoje
enfim, quando os ancestrais morrem
já não se sabe de onde veio
nem pra onde vais
morres Sâmara
estás a morrer
parece uma criança para além da metade da vida
não sabe se expressar
não sabe nada
e passas a vida a tentar aprender seja lá o que for
aprender
amar
não sabes bem
não vês que o teatro da vida
muitos dias é melhor com o blackout fechado?
Merlin
foi um sonho
e tu morre
és uma ficção
uma lunática
sabias que poderias sentir
teu coração assim todo o tempo, sangrando?
estás mesmo a morrer?
mas se é sempre sangue vivo que está dentro dos corações
morres se deixas de sangrar
hoje o sangue que passa pelos seus ventrículos
e o que sai do teu útero
nada importa
morres
não é o mesmo sangue
és o teu sangue
tua ancestralidade
és parte da tua escuridão
do ipê amarelo em frente o buracão
tu procuras inutilmente
não há mais matriarca, patriarca...
eu já não quero amar
quero odiar
quero odiar ter visto a lua azul
no céu de Munch
deluzida
as imagens de ti que ficaram em mim
estão vivas
e movem-me
aquecem meu coração
e o faz sangrar assim
desse jeito que me faz chorar
aquecem minha cara e meus olhos
e as lágrimas saem
parecem quentes e salgadas
vieram de onde no meu corpo?
estão na visão desses fantasmas?
não há magia alguma
foste embora
morreste
e te enterraram
eu imagino cheia de flores
e de lágrimas
talvez eu nunca seja uma matriarca
talvez eu seja sempre uma mulher
solitária no mundo
que sonhou encontrar Merlin
na lua azul.