terça-feira, outubro 17, 2023

o caminho amarelo elo erotético

Estou imersa numa floresta amarela, vermelha, verde amarela, orange

perco-me again

não vejo mais quais águas seguir

apareço por aqui, mas não sei me expressar

não sei parecer brilhante

trabalho no artigo do Brentano

mas já me perco com presença na ausência no Ari

perco-me no Husserl

não há espaço pra falar de tantos fenomenólogos e interpretes

do Ari ao mesmo tempo, há sim, ah sim, tem de ser o Caston, o Rolf e sei lá mais quem...

A ilusão de terminar a tese em Oslo foi-se por água abaixo descendo

por Grünerløkka até o mar espelhado por aquele sol que brilha

no seu melhor hoje às 15h da tarde, será no máximo meia hora essa luz direta?

mas no fundo, sei que terminarei a recordar de tudo que vi em ti...

eu vim aqui pra isso, foi sim,

ligo o aquecedor, 

só quero caminhar entre árvores coloridas, 

sei que não vou ser como elas perante ti

nada vai ser igual ao presente

são quase 16h não trabalhei em nenhum paper

e só penso nas tuas aulas, meu Deus, como passo a vida assim?

precisava de ver outro filósofo pra ver como é, ser filósofo do jeito 

que eu quero ser...

eu não te impressionei e pelo jeito estás desapontado

era pra eu ser brilhante e quente como o sol do Brasil, right? afff

talvez seja melhor eu agora tentar gravar teu rosto

sei lá, porque…

já comecei a reparar nas tuas linhas, na tua carne

na tua pele

era pra aprender a ser uma boa filósofa como tu

andar como tu, ensinar como tu

ler os mil papers clássicos que tu leste

e depois falar deles, ler todo Platão e Aristóteles,

tá tudo ali mesmo, cada dia percebo mais 

não, não está nada completo

esse trabalho não está completo, todo fragmentado, não vês?

claro que vês, e ainda me perguntas se está terminado,

estás a zombar de mim ou o que?

talvez não fique no hotel na última semana pra assistir sua última aula

sobre narrative self

pra quê mais sonhos não é mesmo?

melhor eu gastar mais 200 euros com outra passagem para o dia 01/11 e voltar 

para os gritos das gaivotas do Porto ao longo dos dias, e todas a ambulâncias

lá os olhares não são carinhosos como os daqui, enfim, não vou voltar a pensar neles

até os meninos de ouro analíticos estão a querer falar de fenomenologia 

sem nunca ler um fenomenólogo hahaha parece piada

e economizar os 600 euros de 1 semana de hostel, por causa da sua última

aula, sobre narrative self, isso aqui é, será, narrative self?

já que o Eric que come amendoim na tua aula é o mais brilhante, 

estava a bulinar o italiano, adorei ouvir... ele gosta de pineapple na pizza

who cares?

saio pensando que sou estúpida, e mudo de ideia quando vejo as formas

vale a pena tudo isso apenas por vê-las, a tua por exemplo,

não vou mais abrir a boca nas tuas aulas, 

e se minha vida fosse um filme, quem é que iria achar tal personagem 

interessante?

as melhores partes são as mais "imorais" como falamos hoje

mas o que eu estou a pensar, desejo?

as melhores partes são quando eu já perdi o controle de tudo

e não há mais nada a fazer, faça como bem entender,

já era pra eu ser mãe, cuidar de uma casa, e ser feliz

reconhecer o bem, o bom, para a comunidade, para um país

sei lá....

naaaaa quero aprovação, quero buscar filósofos brilhantes

como tu,

quero ser como tu

e Andromeda...

e ando como uma estudante impressionada pelas árvores coloridas

de Oslo

quero voltar a este jardim,

tenho medo,

mas lembro que sempre tive medo mesmo,

e sempre segui,

é preciso terminar a tese

e sei que ninguém vai me ajudar

era pra ser tu

era pra ser tu

és tu

mas agora 

sei que tens de ser eu mesma

os passarinhos cantam desesperadamente 

quando o sol brilha por aqui.