Estou imersa numa floresta amarela, vermelha, verde amarela, orange
perco-me again
não vejo mais quais águas seguir
apareço por aqui, mas não sei me expressar
não sei parecer brilhante
trabalho no artigo do Brentano
mas já me perco com presença na ausência no Ari
perco-me no Husserl
não há espaço pra falar de tantos fenomenólogos e interpretes
do Ari ao mesmo tempo, há sim, ah sim, tem de ser o Caston, o Rolf e sei lá mais quem...
A ilusão de terminar a tese em Oslo foi-se por água abaixo descendo
por Grünerløkka até o mar espelhado por aquele sol que brilha
no seu melhor hoje às 15h da tarde, será no máximo meia hora essa luz direta?
mas no fundo, sei que terminarei a recordar de tudo que vi em ti...
eu vim aqui pra isso, foi sim,
ligo o aquecedor,
só quero caminhar entre árvores coloridas,
sei que não vou ser como elas perante ti
nada vai ser igual ao presente
são quase 16h não trabalhei em nenhum paper
e só penso nas tuas aulas, meu Deus, como passo a vida assim?
precisava de ver outro filósofo pra ver como é, ser filósofo do jeito
que eu quero ser...
eu não te impressionei e pelo jeito estás desapontado
era pra eu ser brilhante e quente como o sol do Brasil, right? afff
talvez seja melhor eu agora tentar gravar teu rosto
sei lá, porque…
já comecei a reparar nas tuas linhas, na tua carne
na tua pele
era pra aprender a ser uma boa filósofa como tu
andar como tu, ensinar como tu
ler os mil papers clássicos que tu leste
e depois falar deles, ler todo Platão e Aristóteles,
tá tudo ali mesmo, cada dia percebo mais
não, não está nada completo
esse trabalho não está completo, todo fragmentado, não vês?
claro que vês, e ainda me perguntas se está terminado,
estás a zombar de mim ou o que?
talvez não fique no hotel na última semana pra assistir sua última aula
sobre narrative self
pra quê mais sonhos não é mesmo?
melhor eu gastar mais 200 euros com outra passagem para o dia 01/11 e voltar
para os gritos das gaivotas do Porto ao longo dos dias, e todas a ambulâncias
lá os olhares não são carinhosos como os daqui, enfim, não vou voltar a pensar neles
até os meninos de ouro analíticos estão a querer falar de fenomenologia
sem nunca ler um fenomenólogo hahaha parece piada
e economizar os 600 euros de 1 semana de hostel, por causa da sua última
aula, sobre narrative self, isso aqui é, será, narrative self?
já que o Eric que come amendoim na tua aula é o mais brilhante,
estava a bulinar o italiano, adorei ouvir... ele gosta de pineapple na pizza
who cares?
saio pensando que sou estúpida, e mudo de ideia quando vejo as formas
vale a pena tudo isso apenas por vê-las, a tua por exemplo,
não vou mais abrir a boca nas tuas aulas,
e se minha vida fosse um filme, quem é que iria achar tal personagem
interessante?
as melhores partes são as mais "imorais" como falamos hoje
mas o que eu estou a pensar, desejo?
as melhores partes são quando eu já perdi o controle de tudo
e não há mais nada a fazer, faça como bem entender,
já era pra eu ser mãe, cuidar de uma casa, e ser feliz
reconhecer o bem, o bom, para a comunidade, para um país
sei lá....
naaaaa quero aprovação, quero buscar filósofos brilhantes
como tu,
quero ser como tu
e Andromeda...
e ando como uma estudante impressionada pelas árvores coloridas
de Oslo
quero voltar a este jardim,
tenho medo,
mas lembro que sempre tive medo mesmo,
e sempre segui,
é preciso terminar a tese
e sei que ninguém vai me ajudar
era pra ser tu
era pra ser tu
és tu
mas agora
sei que tens de ser eu mesma
os passarinhos cantam desesperadamente
quando o sol brilha por aqui.