eu deveria dormir para sonhar
mas até meus sonhos estão a me parecer um pouco limitados
aparecem algumas pessoas que eu não gostaria, muita água
e eu tenho de atravessar, subir montanhas
algo que eu gostaria de estar a fazer
no Porto é só nevoeiro e chuva
a noite está calma, falei com alguns ingleses
a cidade estava cheia deles hoje
e vim pra casa
tenho um vaper de um deles
eu estava com o amor universal
sem focar em ninguém
por que se eu focar não é bom,
não consigo dormir
trouxe um inglês pra casa e mandei embora
não há poesia nenhuma nisso
estávamos os dois muito loucos
e eu continuo
são 04:13
ninguém tinha condoms e assim é mais e mais
eu só quero conhecer pessoas e falar com elas,
mas elas não me dizem de suas vidas,
é uma forma de me proteger,
afinal quero guardar minha
energia
minha aura wtf, minha relações internas
não sei se quero ir ao Brasil
só não quero que o mofo comece
mas preciso pensar em projetos pra ali, pra aqui,
não sei de nada do futuro
sigo sem saber
eu achava que se estudasse muito
eu resolveria todos os meus problemas
me enganei
e parece que agora
depois que voltei de Oslo, leio mais Quijote
e POnty
e o Colóquio em Royaumont
voltei até no Sorabji,
talvez um projeto sobre por que alguns analíticos negam
o self
desde Hume...
enfim, isso não é poesia
queria atrair amor,
atraí alguns ingleses com muitos músculos
mas não aconteceu nada
e estou aqui à luz de velas
a velar a mim mesma
amanhã é sábado e não dá nada se eu passar a noite
em claro, não muito, por que está escuro e confortável
não há medo algum quando estão todos a dormir
sem nenhum horizonte com nevoeiro
não vi o eclipse
não vi nada a não ser nevoeiro
penso em trabalhar em novos projetos, livros para serem publicados
um inglês elogiou meu inglês hoje,
mas acho que ainda preciso escrever em inglês e pensar filosofia em inglês
não importa mais se ninguém quer saber
se o Brasil está longe,
se a Noruega está fria,
se o Porto está com nevoeiro
se eu não estou incluída em nenhum grupo e nunca estarei
se eu quero apenas descansar de tantas frases e capítulos
e se virá o julgamento em janeiro
irei passar mais três meses na torre
e eu quero amar a torre
e amar quando saio de casa
afinal, estou a atrair gente diferente
mas não dá pra falar de filosofia
com quem tu falas?
ninguém tem ideia do que faço
e o que eu deveria querer agora?
deveria ir pra algum outro país?
deveria fugir, revisar, escrever novos projetos pra utopia
pra um país rico?
ou voltar pro meu país, imagino-me caminhando
nos andares abaixo o Olimpo,
vendo pessoas diferentes, estarei calada,
com um projeto que mistura o antigo Ponty com o Witt,
eu não sei de nada,
será que existe destino, as moiras estão a tecer algum fio agora?
há pessoas acordadas trabalhando?
metafísica do self, parece bom, vou buscar o Sorabji?
há muitos outros ingleses,
talvez seja melhor voltar pra casa,
viver abaixo do Olimpo,
talvez seja o melhor a fazer
foi o que a utopia aconselhou-me..
mas também quer ver se eu faço algum projeto,
e eu já não sei mais o que pensar no Ari, comparar
com filósofos vivos, me parece sensato,
e daí, esquece utopia, tenta o caminho de Andromeda de algum modo
há dias que me sinto tão deslocada desse mundo e finjo que estou por aqui,
queria dormir e acordar em janeiro, como um urso,
mas preciso entrar na caverna e produzir como um filósofo do movimento,
coisas que eu nem sei se eu sei pensar depois, se ficam dentro de mim...
acho que sim...cansei de ser refugee
e se eu de fato acostumei a viver só na torre?
vou precisar aprender a socializar, mas parece que isso não é problema
hoje foi um dia que eu atraí quem quis, e estou a treinar isso,
parece que está a funcionar bem, mesmo que no fim,
eu sempre termine sozinha
quero preservar minha energia para algo que eu saiba
que me faça maior, quero compartir todo o meu eu,
se não for assim, não vale a pena tentar dar meu corpo sem a alma toda,
não entendem o que falo, como falo.
Não é normal uma pessoa estar a pensar às 4:36
devo tomar algo para dormir com certeza
e isso seria uma observação lógica?
seguramente sei que se tomar uma pilula para dormir vou dormir
e amanhã acordarei como se não tivesse sonhado
e o dia passará de modo arrastado, e eu a pensar nos mesmos projetos
nos mesmos sonhos?
e eu a querer fabricar novos sonhos, em outros países,
nada disso é real,
a não ser as pessoas que virão na minha mente,
e eu lembrarei delas de um modo presente na ausência delas,
e perceberei que não posso equivocar-me, que tais pessoas
fazem parte de mim, mas de que modo?
estou sempre sozinha
356. Mi estado mental, el saber, no me da garantía alguna sobre lo que va a suceder. Pero
consiste en lo seguinte: no compreendería dónde podría fijarse una duda, dónde seria posible
una revisión.
357. Podría decirse: "Sé" expresa la seguridade tranquila, no la que todavia está em lucha.
358. Ahora bien, me gustaria considerar tal seguridad no como algo parecido a la precipitación
o a la superficialidad, sino como (una) forma de vida (Esto está muy mal expresado y, posiblemente,
también mal pensado.) (Wittgenstein, Sobre la certeza.) 5:02am
362. ?No se manifiesta aquí que el saber está vinculado con una decisión?
Não podes duvidar que estas suas mãos, não, não podes. (369) 5:08
agora, podes fechar os teus olhos?
ainda não...
és posible que estés soñando...
isto não é um argumento.