eu já não sei para quem escrever,
ou o que escrever
leio o terceiro Ponty
a vida parece estranha
não sei pra onde vou
pareço apenas esperar
começo o dia tarde por que sei
que no fim, parece que nunca
vai terminar
parece que eu quero virar o dias
o outono já começa com chuva
não estou quite com a justiça eleitoral
não votei desde que cheguei
e talvez não consiga fazer o concurso
eu queria dormir por 3 meses e acordar
quando faltar uma semana pra minha defesa
não há qualquer poesia
tudo começa a ficar mais escuro e molhado
e provavelmente virá o mofo
eu não sei o que fazer
perdi a visão de tudo
nem sei o que estou a fazer
se é que estou a fazer algo
a vida hoje começou cedo,
com chuva e nevoeiro
decidi não tomar os remédios,
sonhei a noite inteira
estava pela metade,
haviam me cortado ao meio
e eu tinha me colado,
ontem o silêncio da noite, que era pra ser calmo
mas parece que toda a minha vida vem à tona
às 10 da noite. E nessa hora que eu resolvi desligar
tudo e tentar dormir
O que foi que eu fiz?
busquei bolsas, mais alguns nãos, alguns nem respondem.
estava a pensar a tentar publicar mais e mais e em inglês
sei lá, ter mil projetos na manga
queria fazer Santiago de novo,
pra andar na chuva e no nevoeiro, achas?
queria não temer o futuro
queria ser livre e amar verdadeiramente que não sejam somente
professores, meus irmãos, minha mãe, e a natureza
e toda a beleza que há mesmo nesse tempo incerto,
mais um dia de nevoeiro, em que não se vê nada no horizonte.
O que eu vou fazer nesse inverno?
ora, escrever e tentar publicar.
queria novos desejos, novos rostos, novas almas que fizessem
mover-me e afetassem-me de modo nunca visto, de modo
a inspirar, florescer, mas o que? em pleno inverno?
as árvores vão todas despir, e virá o frio
meu desejo está tão perdido na filosofia, onde foi a poesia,
está empilhada, ontem li Juan Ramon Jimenez, um pouco
de Quixote,
pareço estar tranquila
disseram que estou velha e sem futuro, os homens do
grupo de metafísica, já que não citaram meu nome
para os jovens e com futuro.. uns golpes de homens velhos,
mas por que?
simplesmente por que não leio do grego? wtf?
às vezes a vida é tão estúpida.
Estou com o Sobre a Certeza do Witt, e ele diz:
373. Porque há de ser possível ter uma razão para crer
quando não é possível estar seguro?
Eu quero ter razões para crer no meu futuro brilhante,
por que penso naquilo que amo e todos os que também
amaram tal modo de viver a vida, por que gostaria que minha família
estivesse orgulhosa de tais conquistas, mas quais?
do meu trabalho, de escrever para ninguém ler,
há tanta vaidade nisso tudo
mas eu quero criar,
se possível coisas lindas.