No último encontro três horas a discutir se a alma se corrompia como o corpo
penso que depois de ontem
tenho certeza de que a alma se corrompe de modo distinto da corrupção do corpo
a alma morre de outros modos
nunca reconheceu que a incentivei sonhar
que a recebi, e que fui tratada nem sei exprimir o desalento
que eu sempre quis que visse outro mundo, outra vida
pra ti, sempre foi sobre um homem, ter alguém pra se apoiar
alguém pra carregar suas malas
te dar apoio...sempre foi sobre tu receber algum apoio...
a amiga branca pra servir de muleta e poder humilhar
a mostrar todo o ódio que recebes e finges que és feliz
mas como eu sei que é mentira, me pune
a viver nesse museu que mais parece um circo de horrores
e que tu não sabes nada de tal história, mesmo tentando parecer que sabe
não, não fazes parte nenhuma dessa arte morta
O David foi petrificado pela Medusa, não, ele não te vê
a Vênus nunca te viu, está ocupada no mar em sua concha a vibrar
desejo e amor
Perseu te olha de cima pra baixo, exibindo a cabeça da Medusa
como um trofeu, o mesmo que tu parece tentar exibir, uma cabeça italiana
que poucos dias dorme contigo
mas no seu caso, ninguém olha.... eu via, mas agora já não mais verei
sempre esteve melhor que eu, sempre
diz que pode até me salvar quando eu terminar o doutorado
afinal posso ir pedir esmolas nas ruas, a dormir num barril como Diógenes a
a mendigar com poesia
pelos cantos
pois agora qualquer um que seja pode ser poeta
eu devo poder também
nunca viu os meus esforços
até levá-la para ir receber o trofeu na Itália, eu fui
pronto fique a exibir-se por trás de um homem
de uma família, de uma casa
nada disso é teu
talvez a bolsa da Armani e o anel da Tiffany
nada,
tu não fica nem com os cachorros
mas agora não me terás mais
é fim de uma das esferas do inferno.
Não tomei meu remédio, tomei vergonha na cara
e não preciso mais ouvir suas mentiras mal contadas.
O inferno está cada vez mais profundo, os pecados cada vez mais
absurdos,
e tu sabes que eu não faço parte disso,
blasfemar contra mim mostrou toda a sua miséria
Ao confiar-me as violências do inferno
alguma esperança foi vista em mim,
e agora saio dessa última esfera e a deixo
de cabeça pra baixo
com tua bolsa usada da Armani
teu anel dado pela bruxa má da Tiffany
talvez consiga o respeito das casas e famílias
italianas
por que o meu
morreu nesta última esfera
do inferno.