segunda-feira, dezembro 05, 2022

Fim de um círculo

No último encontro três horas a discutir se a alma se corrompia como o corpo

penso que depois de ontem

tenho certeza de que a alma se corrompe de modo distinto da corrupção do corpo

a alma morre de outros modos

nunca reconheceu que a incentivei sonhar

que a recebi, e que fui tratada nem sei exprimir o desalento

que eu sempre quis que visse outro mundo, outra vida

pra ti, sempre foi sobre um homem, ter alguém pra se apoiar

alguém pra carregar suas malas

te dar apoio...sempre foi sobre tu receber algum apoio...

a amiga branca pra servir de muleta e poder humilhar

a mostrar todo o ódio que recebes e finges que és feliz

mas como eu sei que é mentira, me pune

a viver nesse museu que mais parece um circo de horrores

e que tu não sabes nada de tal história, mesmo tentando parecer que sabe

não, não fazes parte nenhuma dessa arte morta

O David foi petrificado pela Medusa, não, ele não te vê

a Vênus nunca te viu, está ocupada no mar em sua concha a vibrar

desejo e amor

Perseu te olha de cima pra baixo, exibindo a cabeça da Medusa

como um trofeu, o mesmo que tu parece tentar exibir, uma cabeça italiana

que poucos dias dorme contigo

mas no seu caso, ninguém olha.... eu via, mas agora já não mais verei

sempre esteve melhor que eu, sempre

diz que pode até me salvar quando eu terminar o doutorado

afinal posso ir pedir esmolas nas ruas, a dormir num barril como Diógenes a 

a mendigar com poesia

pelos cantos

pois agora qualquer um que seja pode ser poeta

eu devo poder também

nunca viu os meus esforços

até levá-la para ir receber o trofeu na Itália, eu fui

pronto fique a exibir-se por trás de um homem

de uma família, de uma casa

nada disso é teu

talvez a bolsa da Armani e o anel da Tiffany

nada,

tu não fica nem com os cachorros

mas agora não me terás mais

é fim de uma das esferas do inferno.

Não tomei meu remédio, tomei vergonha na cara

e não preciso mais ouvir suas mentiras mal contadas.

O inferno está cada vez mais profundo, os pecados cada vez mais

absurdos,

e tu sabes que eu não faço parte disso,

blasfemar contra mim mostrou toda a sua miséria

Ao confiar-me as violências do inferno

alguma esperança foi vista em mim,

e agora saio dessa última esfera e a deixo 

de cabeça pra baixo 

com tua bolsa usada da Armani

teu anel dado pela bruxa má da Tiffany

talvez consiga o respeito das casas e famílias 

italianas

por que o meu

morreu nesta última esfera

do inferno.