Já esparramo na cama
E me amo novamente
O mal que me fizeram já não está comigo mais
Foi pro inferno a que pertence
E pareço ultimamente ter medo das noites
Tenho vontade de sair
E logo passa
Vontade de fugir pra outro país
Eu posso sentir
Já não consigo dormir
Eu tenho as estrelas
Quase tirei a roupa pra entrar no mar
Me impediram e disseram que se eu entrasse
O Mar ia me levar
Eu disse que me leve
E não me deixaram entrar
Disseram que se eu entrasse ele me puxava e eu não iria
Mais voltar
Comi um hambúrguer
E fui pra casa
E já são 3:15
Meu coração acelera
Penso será que vou morrer?
Não morro e não durmo
E depois passo o dia exausta
Rindo sem saber por quê
Pra suportar eu rio pra todos
Mas meus olhos lacrimejam
E parecem chorar
Sem que eu chame pelas lágrimas
Elas apenas caem e eu digo que é alergia
Devo estar com alergia de que? Do fim do verão?
Vou apresentar num congresso sobre a solidão
E direi da solidão do imigrante pelo zoom
Direi de Ponty, Wittgenstein e o Ari
Será que direi de mim? Naaa vou dizer do corpo,
Da linguagem, da sociabilidade pra alegria
Da amizade pra saúde mental… de mim? Naaaa
Será no meu dia de folga e eu nem consigo
Pensar no que vou dizer sobre a fenomenologia da
solidão da imigrante
Por que estou absorta nela
Como a noite faz
enfim
"quantos idiotas vivem só"…
Mas prefiro imaginar-me como Hölderlin
Em sua torre
Com Hyperion em mente,
É melhor assim.