sexta-feira, novembro 24, 2023

o fungo nas paredes come meus olhos

 sinto-me em defesa do tempo, 

como se perdesse o sonho, perdesse tudo

todos no Porto fumam e eu não quero mais 

não há amigos, amores, arte, beleza

estou enfraquecida aqui

meus olhos coçam, sinto-me fraca

o mofo vence-me

meus olhos lacrimejam todo o dia

coçam

pareço doente, 

não há como eu ganhar do mofo

não consigo abrir a janela durante a noite

apesar de hoje ter aberto e pareço estar cada vez pior

sei lá, pensando em olhar casa em Rio Tinto na puta que pariu

apenas existe alguma casa que não esteja mofada e eu possa pagar?

estão a ficar todos cinza e verde

a utopia em mim 

pareço estar numa fase de mofo apenas

as finanças penhoram dinheiro da minha conta

e vou pedir o passaporte vermelho

nem sei, penso em Merlin

penso no elo amarelo

penso em tudo que foi lindo

mas no presente mofo

já vou pro De memória

entro no Parva devagar

parece que vejo o Thomas a falar lendo o livro dele

perco-me em Meta

não sei por que ando a me perder lá

ontem tinha vontades de morrer

e vi a Manu desesperada pra ser salva 

me tirem daqui, ela pedia

eu não sabia o que fazer, ninguém me salvou 

e não sei se ainda eu consegui fazê-lo

estou a querer arrancar meus olhos com os dedos

Deus eu sei que isso é uma passagem

e será meu último inverno fúngico 

por favor.