que estou na torre e saio para ir ao
jiu, ao gym, e para a água com cloro, e aos seminários
sei que não importa nada a minha vida
para ninguém
sei que o que estudo e escrevo não mudará nada no mundo
o ego de todos os meus amigos e professores
filósofos é como o meu
enfim, já não preciso mais que me amem
quando me olham torto eu já digo que posso
golpear em pensamento
virei uma maluca
sinto-me feliz por ganhar dois salários mínimos
para fazer um doutorado em Filosofia
sinto-me feliz com as pílulas
e todos os exercícios
já não importa muito os homens
nem as mulheres
entrei numa bolha muito maior que a de antes
penso que já saí do inferno astral
fui a um samba um domingo desses e sambei sambei sambei
mas acho que prefiro nadar e lutar jiu-jitsu
não me senti atraída por ninguém
era como se estivesse com medo de todos
e ao mesmo tempo era por que não me pareceram
nada belos
nem quando dançavam
quero novas experiências
agora compro camisas de botão e calças de alfaiataria
e blazers
mas ainda uso tênis
sinto-me uma idiota quando me perguntam o que faço
o que passo todos os dias a fazer, a escrever o que disseram...
a tentar explicar o que já explicaram...
não fui à aula de grego, tá chato o prof focar tanto em gramática
tá bem chato, agora que já leio, é como se já soubesse desvendar os símbolos
e sei bem que não é bem assim...
tive uma conversa com os dois gênios da filosofia
estão a organizar um livro
eu não consigo publicar nada
eles me dizem com um ar de superioridade: tanto na inteligência
quanto na esperteza...
é como se me dissessem o todo tempo, és uma idiota, somos mais
espertos que tu...
e saí completamente deprimida de lá
e quem eu achava brilhante e socrático também é um idiota
e outro que é a promessa portuguesa sinto que é um canastrão que finge
ser bonzinho..
enfim,
acho que são todos idiotas,
e todos podem ser estúpidos
como eu...
com os brasileiros consigo ter mais afinidade
conseguem fingir menos eu consigo ver mais
as fraquezas e as forças
eu devo ter problemas sérios pq sinto que estão a fingir
sinto que somos todos umas fraudes
e eu a maior delas, pq queria mesmo era ser poeta
ou romancista
e pintora
e feliz
e estou lá metida no meio deles
estudando Aristóteles e todos me odeiam mesmo
se sorrio todo o tempo
se sou simpática também
não sei do meu futuro tenho muito medo
tenho medo do meu país
que já nem é meu mais
tenho medo da filosofia como meu futuro
tenho medo da vida
tenho medo de ficar sozinha para sempre
de nunca ter filhos
de querer ir pra montanha com algum viking maluco
mas agora é preciso ter jiu-jitsu onde eu for
é sábado
não falei com ninguém ontem
nem hoje
e provavelmente deveria sair
mas sinto que é a vida a me empurrar
por que eu ficaria a ver documentários
de como se tornar vegana
e conseguir alto rendimento nutritivo
ok vou sair
quem sabe algo belo aparece
mas eu sinto que preciso de algo que não
existe neste planeta.
ok foi simples eu não saí
tomei um remédio e dormi.
coisas belas são muito difíceis
e eu já sei disso
é domingo
talvez eu saia pra ver o sol e o mar
que são belos.