quinta-feira, dezembro 13, 2007

Happy Ending




This is the way you left me,
I'm not pretending,
No hope, no love, no glory,
No happy ending
This is the way that we love,
Like it's forever,
Then live the rest of our life,
But not together

Wake up in the morning,
Stumble on my life,
Can't get no love without sacrifice,
If anything should happen,
I guess I wish you well,
Mmm a little bit of heaven,
But a little bit of hell

This is the hardest story,
that I have ever told,
No hope, or love, or glory,
Happy ending's gone forever more
I feel as if I'm wasting,
And I've wasted every day

This is the way you left me,
I'm not pretending,
No hope, no love, no glory,
No happy ending
This is the way that we love,
Like it's forever,
We live the rest of our life,
But not together

Two o'clock in the morning,
Someone's on my mind,
Can't get no rest,
Keep walking around,
If I pretend that nothing ever went wrong,
I can get to my sleep,
I can think that we just carried on.

This is the hardest story,
that I have ever told,
No hope, or love, or glory,
Happy ending's gone forever more,
I feel as if I'm wasting,
And I've wasted every day

Oh I feel as if I'm wasting,
And I've wasted every day

(In Background:
This is the way you left me,
I'm not pretending,
No hope, no love, no glory,
No happy ending
This is the way that we love,
Like it's forever,
And live the rest of our life,
But not together)

A little bit of love
Little bit of love (repeated)

I, feel as if i'm wasting,
And I, wasted every day,
Hey, hey, hey, hey!

This is the way you left me,
I'm not pretending,
No hope, no love, no glory,
No happy ending
This is the way that we love,
Like it's forever,
Then live the rest of our life,
But not together

This is the way you left me,
I'm not pretending,
No hope, no love, no glory,
No happy ending
This is the way that we love,
Like it's forever,
And live the rest of our life,
But not together

This is the way you left me,
I'm not pretending,
No hope, no love, no glory,
No happy ending.

Mika

sábado, dezembro 08, 2007

DÉBIL

Saber de coisas que sempre foram
minhas...
Descer ao vazio e estar só,
ser perseguida por um amor.
Da náusea crescente a frivolidades que só
eu sei inventar...tento me reduzir a nada...
Mas eu fujo... a cada dia, da minha própria ruína.
Já não é preciso viver no inferno.
Este grande inferno que me afligia desabou.
O Anjo voou, e pra que eu não possa desistir jamais.
E volte acreditar em mim...
Em toda minha debilidade, e em todo esse melindre...
não poderia...
Oh....que eu possa acreditar na paz...
Na paz que deve-se inventar pra si....
se tornar excelente em tudo isso.
E depois de muita fadiga e fragilidade tantas,
eu possa...eu deva viver e
ficar em paz.
Na ausência sem espera,
de ser eu e não outra.

PRELÚDIOS - INTENSOS PARA OS DESMEMORIADOS DO AMOR

I
Toma-me. A tua boca de linho sobre a minha boca
Austera. Toma-me AGORA, ANTES
Antes que a carnadura se desfaça em sangue, antes
Da morte, amor, da minha morte, toma-me
Crava a tua mão, respira meu sopro, deglute
Em cadência minha escura agonia.

Tempo do corpo este tempo, da fome
Do de dentro. Corpo se conhecendo, lento,
Um sol de diamante alimentando o ventre,
O leite da tua carne, a minha
Fugidia.
E sobre nós este tempo futuro urdindo
Urdindo a grande teia. Sobre nós a vida
A vida se derramando. Cíclica. Escorrendo.

Te descobres vivo sob um jogo novo.
Te ordenas. E eu deliquescida: amor, amor,
Antes do muro, antes da terra, devo
Devo gritar a minha palavra, uma encantada
Ilharga
Na cálida textura de um rochedo. Devo gritar
Digo para mim mesma. Mas ao teu lado me estendo
Imensa. De púrpura. De prata. De delicadeza.

II
Tateio. A fronte. O braço. O ombro.
O fundo sortilégio da omoplata.
Matéria-menina a tua fronte e eu
Madurez, ausência nos teus claros
Guardados.

Ai, ai de mim. Enquanto caminhas
Em lúcida altivez, eu já sou o passado.
Esta fronte que é minha, prodigiosa
De núpcias e caminho
É tão diversa da tua fronte descuidada.

Tateio. E a um só tempo vivo
E vou morrendo. Entre terra e água
Meu existir anfíbio. Passeia
Sobre mim, amor, e colhe o que me resta:
Noturno girassol. Rama secreta.
(...)

Hilda Hilst

quinta-feira, novembro 22, 2007

Erros meus, má fortuna, amor ardente

Erros meus, má fortuna, amor ardente
Em minha perdição se conjuraram;
Os erros e a fortuna sobejaram,
Que pera mim bastava amor somente.

Tudo passei; mas tenho tão presente
A grande dor das cousas que passaram,
Que as magoadas iras me ensinaram
A não querer já nunca ser contente.

Errei todo o discurso de meus anos;
Dei causa [a] que a Fortuna castigasse
As minhas mal fundadas esperanças.

De amor não vi senão breves enganos.
Oh! quem tanto pudesse, que fartasse
Este meu duro Génio de vinganças!

Luís de Camões

quarta-feira, outubro 24, 2007

Merda

Permita que eu volte à narrativa banal
e quem sabe em alguns milhões de insights
sejam necessários pra que eu possa ver
a razão
que me faça perceber...
O caos que deve conter.
Permita que eu olhe-me no espelho
e sinta paz...
E que o amor já não tenha tanta importância,
se for esperar que me salve
da ignorância de possíveis traumas..
E na tragédia que crei eu me reinvento,
cuidemos da vida,
e deixe de versos de angústia rouca...
E encerra em ti sua tristeza inteira.

Canção

Não te fies do tempo nem da eternidade,
que as nuvens me puxam pelos vestidos
que os ventos me arrastam contra o meu desejo!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã morro e não te vejo!

Não demores tão longe, em lugar tão secreto,
nácar de silêncio que o mar comprime,
o lábio, limite do instante absoluto!
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te escuto!

Aparece-me agora, que ainda reconheço
a anêmona aberta na tua face
e em redor dos muros o vento inimigo...
Apressa-te, amor, que amanhã eu morro,
que amanhã eu morro e não te digo...


(Cecília Meireles)

Eu

Blá blá blá blá me
Eu blá blá blá blá
blá blá blá blá blá
Eu blá blá blá
blá blá blá me...
isso tá enjoando...

quinta-feira, outubro 11, 2007

ABRE TODAS LAS PUERTAS

Abre todas las puertas: la que conduce al oro,
la que lleva al poder, la que esconde el misterio
del amor; la que oculta el secreto insondable
de la felicidad, la que te da la vida
para siempre en el gozo de una visión sublime.
Abre todas las puertas sin mostrarte curioso
ni prestar importancia a las manchas de sangre
que salpican los muros de las habitaciones
prohibidas, ni a las joyas que revisten los techos,
ni a los labios que buscan los tuyos en la sombra,
ni a la palabra santa que acecha en los umbrales.
Desesperadamente, civilizadamente,
conteniendo la risa, secándote las lágrimas,
en el borde del mundo, al final del camino,
oyendo cómo cantan los ruiseñores,
no lo dudes, hermano: abre todas las puertas.
Aunque nada haya dentro.

(Luis Alberto de Cuenca, de Los mundos y los días, 1998)

Las palabras

Las palabras son inútiles, tercas, retorcidas
como tornillos que no entran rectos.
Y me cansan. Pero son lo único que tengo.
Los juguetes de un niño pobre.
Yacen destripadas a mi alrededor.
Todo su encanto se derrama por sus vientres abiertos.
El mecanismo hace tiempo que dejó de resultar
intrigante o atractivo.
No hay desafío. No hay chispa. No hay color.
El mundo es tan gris como mi asco.
Las palabras son los puntales de mi abulia.
Pero son –lo he dicho, lo repito– lo único que tengo.
Roger Wolf, 2001

quarta-feira, outubro 10, 2007

O abondono dos ideais

Quando as palavras saem da moda, as coisas que elas designam ficam boiando no abismo dos mistérios sem nome; e como tudo o que é misterioso e inexprimível oprime e atemoriza o coração humano com uma sensação de cerceamento e impotência, é natural que a atenção acabe por se desviar desses tópicos nebulosos e constrangedores. Pois o que desaparece do vocabulário logo acaba por desaparecer da consciência: o que não tem nome não é pensável, o que não é pensável não existe — tal é a metafísica dos avestruzes. Só que a coisa desprovida do direito à existência continua a existir numa espécie de extramundo, inominada e inominável, tanto mais ativa quanto mais secreta, tanto mais temível quanto mais envolta nas pompas tenebrosas do nada. A restrição do vocabulário povoa o mundo de temores e presságios. Desprovido da capacidade de nomear, eis o homem devolvido a todos os terrores que ele imaginava primitivos, mas que são uma pura criação da mais avançada e requintada decadência: o barbarismo artificial.
Se a coisa desprovida de nome é, por acaso, alguma realidade espiritual elevada, um valor excelso ou aspiração suprema da alma — uma dessas coisas essenciais que se pode expulsar da consciência, mas não da existência —, é natural que sua reencarnação obscura assuma, mais ainda, as feições do terrível, do informe, do monstruoso.
É algo assim que acontece com aquela coisa designada pela palavra "ideal" — uma palavra obviamente fora de moda, cujo significado perde realidade com a rapidez com que perde sangue um decapitado.
Denomina-se "ideal" a síntese em que se fundem, numa só forma e numa só energia, a idéia do sentido da vida e a do preço de sua realização: diz-se que um homem tem um ideal quando ele sabe em qual direção tem de ir para tornar-se aquilo que almeja, e quando está firmemente decidido a ir nessa direção.
Complexo de impulso e de esquema, o ideal atrai como um imã e coordena como um eixo. Pela unidade de sua forma, convoca o sinergismo da vontade: a concorrência de todas as forças para a consecução da meta. Pelo seu caráter de síntese projetada para o futuro, ergue-se como um tribunal soberano e neutro para a arbitragem de todos os conflitos do presente, que ali se resolvem e superam de modo que mesmo as tendências mais antagônicas da alma possam convergir num só ímpeto ascensional.
O ideal é, por isto, condição indispensável para a coesão da personalidade, que sem ele se dispersa em aspirações fortuitas e esforços estéreis. Miragem e emblema, sua visão nos dinamiza, nos eleva e enobrece, e é sempre a lembrança do seu apelo que nos reergue após cada erro e cada desengano. O ideal é semente de juventude e revivescência. Tem um poder coordenante voltado para o futuro, um poder curativo voltado sobre o passado.
É ainda pela força do ideal que o homem transcende o sono entorpecido da subjetividade intra-orgânica, das falsas idéias e aspirações que não são senão a secreção passiva da fisiologia, para despertar a um mundo de realidades objetivas que a inteligência discerne e que a consciência moral obriga a reconhecer; é assim que a alma se liberta do poço escuro da individualidade estanque, para elevar-se ao mundo maior da sociedade, da cultura, da vida moral, ao sentimento do universo e ao desejo de Deus.
Sem a síntese, que o ideal opera, entre o impulso de universalidade e os interesses do organismo psicofísico, não haveria meio de fazer um homem sacrificar-se, impor-se restrições, contrariar desejos e reprimir temores, em prol de algum valor moral, social ou religioso, para alcançar sua plena estatura humana e tornar-se, talvez, maior do que ele mesmo. Mas o desejo, que move a alma, não pode ser despertado por uma simples idéia abstrata, por verdadeira que seja; ele necessita de imagens plásticas, sensíveis, que lhe dêem como que uma presença antecipada do seu objetivo. Também não se move, exceto no homem grosseiro, ao simples apelo de uma imagem atrativa; mas aguarda que a inteligência examine e aprove o objeto como desejável e bom. Não basta que a meta seja verdadeira; é preciso que seja bela. Mas não basta que seja bela; é preciso que seja verdadeira e justa. É a síntese desta tripla exigência, intelectual, estética e moral, que se denomina "ideal". Ele concilia, no homem, o desejo de auto-afirmação, de autodefesa, de permanência, com o impulso de crescimento, de doação e de superação de si. Ele dá uma significação universal às tendências individuais, e põe estas a serviço daquela. Spencer falava dos sentimentos "ego-altruístas", intermediários entre o egoísmo e o altruísmo; neles, uma satisfação dada a si mesmo é, indireta porém voluntariamente, ocasião de benefício para os outros. O ideal extrai grande parte do seu dinamismo dessa pulsação ego-altruísta, em que a felicidade de um homem se identifica com o bem dos demais1. O ideal é como o fogo em que se transfunde, no forno alquímico da alma, o egoísmo em altruísmo, a paixão reflexa em ação refletida.
Mas não é só por isto que o ideal dá força, equilíbrio e consistência à personalidade. A escola junguiana tinha razão ao ver no ideal do eu uma instância superior, capaz de absorver e neutralizar os conflitos entre o id e o superego, entre as pulsões primárias do organismo psicofísico e o esquema de proibições e deveres introjetado inconscientemente pelo hábito imposto, automatizado depois numa constelação de rotinas impeditivas. De fato, quanto mais elevado, nítido, intenso e querido é um ideal, mais o homem é capaz de, em favor dele ele, se impor sacrifícios inteligentemente, contornando as exigências do id; porém, na mesma medida, o ideal o capacita a contrariar, se preciso, as imposições de uma moralidade meramente exterior e convencional, a reformar e elevar seu padrão de valores, a superar a obediência servil a exigências repressivas irracionais. Destituído do ideal, no entanto, o homem abandona-se à luta cega entre a paixão egoísta e o temor da represália do superego2.
Embora nascida na nossa consciência subjetiva, a imagem de perfeição expressa no ideal aponta para uma qualidade objetiva: pelo ideal, as qualidades latentes do homem tendem a orientar-se para fora e transformar-se em atos e obras no mundo. O ideal é o caminho pelo qual as aspirações individuais de felicidade distribuem-se nos sulcos já abertos da realidade exterior, saem da redoma do sonho e ganham um corpo no cenário maior dos fatos e das coisas. Sem um ideal definido, todas as melhores aspirações não passam de sonhos, porque não há um dever moral imanente a exigir que se amoldem à realidade, que se limitem em extensão para realizar-se em intensidade. Só o homem idealista é realista; os demais são sonhadores ou cínicos. Não tendo uma medida do que as coisas deveriam ser, vêem-nas melhores ou piores do que são.
Ademais, para que as qualidades latentes possam se manifestar, é necessário um esforço constante numa direção definida; sem ideal, o esforço gasta-se em gestos reativos, momentâneos e sem proveito. O ideal é a bússola que assinala para a alma uma direção firme e constante por entre as incertezas. Por isto, o sentimento de insatisfação, de vazio e de tédio que experimentamos quando traímos ou esquecemos o ideal é o sinal de alarma que nos permite corrigir o rumo e reencontrar o sentido da vida. Se o sentido é aquilo a que se orienta a nossa vida e a que ela tende com todas as suas forças, então, deve estar colocado num outro tempo ou num outro espaço que não os do presente e do imediato num futuro ou num plano mais abrangente de realidade. O ideal é a presença deste futuro no presente, deste outro espaço no aqui e no agora. Uma presença incompleta e, por isto, dinâmica e tensional. Por ela, medimos nossa aproximação ou afastamento do sentido da vida. O ideal é a medida efetiva do tempo existencial, o padrão de intensidade e profundidade da significação dos momentos. Sem ideal, os instantes e os lugares se homogeneizam na massa do indiferente, após a breve excitação casual que os torna interessantes. O ideal é a coluna mestra e a força da personalidade. Traí-lo ou esquecê-lo é entregar-se, de ossos quebrados, nas mãos da contingência e do absurdo.
Quando, porém, a traição é demasiado grave, extensa, profunda, o sinal de alarma já não soa mais: o clamor da consciência moral imanente tornou-se tão penoso que a alma o reprime, lacrando-o sob a tampa do subconsciente, ao mesmo tempo em que procura inventar toda sorte de razões, de pretextos factícios e ocasionais, para justificar o mal-estar e o tédio, ou encontra um bode expiatório sobre o qual despejar seu rancor de si mesma. A repressão da consciência moral, como demonstrou Igor Caruso3, está na base de muitos distúrbios neuróticos. A neurose apóia-se num complexo jogo de racionalizações e compensações que falseia completamente a posição existencial do indivíduo, como uma bússola viciada. E, já que a consciência, por definição, é coesão — com + scientia = reunião da ciência4 —, e uma lei constitutiva impede que suas partes funcionem separadas, logo o escotoma defensivo se alastra para outros campos e acaba por obliterar toda a visão, mesmo em áreas que nada têm a ver diretamente com o conflito que lhe deu origem. O empenho de conservar então um mínimo indispensável de realismo, necessário à vida social e prática, é obstaculizado pelo esforço de não enxergar uma determinada área, circunscrita como tabu; o curto-circuito daí resultante produz considerável perda de energias, enfraquecendo a capacidade intelectual e decisória. A vítima torna-se cada vez mais inepta para o ato de humildade que lhe devolveria o ideal perdido e o sentido da vida ( ser humilde não é outra coisa senão aceitar a realidade; como diz Schuon, "ser objetivo é morrer um pouco" ).
Na psicologia e psicoterapia de Paul Diel5, a divindade é a imagem ideal que orienta todos os esforços para a auto-realização das qualidades superiores do homem. Pouco importa que, teologicamente, ela seja muito mais do que isto, pois, para o indivíduo, a divindade real e objetiva só é acessível através da sua imagem pessoal de Deus, e é justamente esta é a base da qual tem de partir todo ensino religioso que não seja mera lavagem cerebral. Psicologicamente, porém, o interesse maior não reside na veracidade teológica da imagem, porém na sua ação catalizadora sobre a massa das forças psíquicas. Encarado psicologicamente ou teologicamente, o ideal de perfeição humana sugerida pela imagem do divino é a meta obrigatória e universal da existência humana sobre a terra, e a perda deste ideal é, segundo Diel, a causa das neuroses. O ideal da perfeição pode ser corrompido ou desviado, basicamente, de duas maneiras. Diel chama-as exaltação imaginativa e banalização. São processos opostos, sucessivos e complementares.
A exaltação imaginativa é um estado em que a mente, embevecida com o seu ideal, se identifica mais ou menos inconscientemente com ele e atribui a si as perfeições que a ele pertencem, como se já as tivesse realizado. Para Diel, o símbolo por excelência da exaltação imaginativa é o vôo de Ícaro. As asas de cera representam a força da imaginação, que só pode elevar aos ares um corpo imaginário. O exaltado toma o potencial por atual, imaginando possuir as perfeições a que aspira. Por isto mesmo, sua alma experimenta, como num choque de retorno, um sentimento de estranheza e de impotência perante o mundo, que não cede, como ele esperava, aos seus encantos ou poderes. Acuado pelas exigências da realidade, ele exacerba ainda mais sua adoração de si mesmo diante de um mundo que ele julga vil, mesquinho e incompreensivo, quando na verdade é ele mesmo quem não compreende o mundo e, por não compreendê-lo, está impotente para agir nele. É a síndrome do "jovem incompreendido", que, pela simples razão de ter aspirações elevadas — ou que lhe pareçam elevadas — já se sente ipso facto superior ao seu ambiente e, portanto, limitado ou coagido pela mesquinhez real ou aparente dos pais, da escola, da sociedade, do emprego, etc6. Nem sempre ele declara seu sentimento em voz alta; uma vaga intuição do caráter doentio do seu estado pode envolver este sentimento numa complexa rede de disfarces, atenuações e racionalizações muito difícil de deslindar. Também é certo que seu diagnóstico depreciativo sobre o mundo em torno pode ser, em si mesmo, objetivamente verdadeiro, sendo falso apenas o lugar e a função que ocupa na sua alma, já que a degradação do mundo lhe aparece, por vezes ao menos, como uma espécie de contraprova de suas próprias qualidades excelsas7.
Não raro o doente alia-se a outros jovens imbuídos do mesmo sentimento, em busca de apoio e confirmação de suas queixas contra o mundo. A comunidade de sentimentos e a repetição das queixas, criando uma atmosfera de comprovação intersubjetiva, parece dar consistência real ao diagnóstico distorcido e subjetivista que cada um dos membros do grupo faz quanto ao estado do mundo, legitimando seu discurso contra a mediocridade e grosseria das pessoas "de fora". "Estar dentro" do grupo é então sinal de uma espécie de eleição, a prova de uma qualidade excelsa e incomunicável. O sentimento de ter acesso a algo misterioso, profundo, especial, pode exacerbar a exaltação imaginativa ao ponto de provocar uma verdadeira ruptura com a realidade ambiente, incapacitando o indivíduo para o cumprimento dos deveres sociais mais elementares8. Quando a exaltação imaginativa chega a efeitos tão profundos, é que o doente já se encontrava à beira de um colapso intelectual e social, contra o qual provavelmente terá sido advertido pelos pais, por amigos, ou por uma infinidade de sinais diretos e indiretos. Estes sinais, por sua vez, aguçam a sensação de estar afundando no completo isolamento e na impotência; e o pressentimento de abandono, às vezes mesmo de loucura e morte, contrasta tão dolorosamente com os primeiros vôos de exaltação imaginativa, que o doente é então tentado a buscar às pressas, como tábua de salvação, algum tipo de reintegração forçada no mundo que desprezava9. Como, porém, isto implicaria a humilhação de voltar atrás nas críticas e a renúncia à independência afetada, a mente só consegue a reintegração forçada mediante o artifício de operar uma inversão de valores: ao invés de abandonar somente a atitude de auto-exaltação, passando a uma postura de humildade perante o ideal, ela vai, ao contrário, desidentificar-se do ideal para poder abandoná-lo sem perder o sentimento de sua própria superioridade. Conserva, assim, sua auto-exaltação, mas sob uma forma destituída de conteúdo pretensamente idealístico, e revestida, agora, de uma pose de "realismo" terra-a-terra, e não raro de maquiavelismo, carreirismo profissional, cinismo, materialismo, etc. É a esta atitude que Diel denomina banalização.
A inversão banalizante só pode ocorrer mediante uma mutação súbita, longamente preparada no subconsciente. O processo é bem conhecido e foi descrito por Pavlov, muito antes de Diel, no que toca às suas bases neurofisiológicas. O acúmulo de contradições necessário para sustentar uma posição existencial artificiosa e falsa leva à proliferação de tensões contraditórias e produz situações novas, incompreensíveis, que ultrapassam a capacidade de resposta racional e as habilidades de adaptação do organismo. Quebram-se, assim, inúmeras cadeias de reflexos condicionados que constituíam a base subconsciente do comportamento, e o homem se vê num estado de indeslindável confusão. A inversão súbita de valores pode então sobrevir, porque, segundo demonstrou Pavlov, a "inibição prolongada dos reflexos adquiridos suscita angústia intolerável, da qual o sujeito se livra mediante reações opostas às suas condutas habituais. Um cão, por exemplo, se apegará ao funcionário do laboratório, que detestava, e tentará atacar o dono, de quem gostava"10. As tensões provenientes de vários lados, impondo ao cérebro "provas intoleráveis", produz então uma inibição protetora que "desorganiza os reflexos adquiridos, destrói as suas camadas mais recentes e determina, no sujeito, o abandono de suas crenças"11. O conhecimento técnico deste mecanismo permitiu a sua utilização sistemática nos processos de lavagem cerebral e "reforma da opinião", nos campos de prisioneiros da China e da União Soviética12. Porém, o mesmo fenômeno, atenuado ou disfarçado, observa-se disseminado na vida social contemporânea, graças ao abuso das pressões psíquicas da propaganda, da persuasão subliminar, dos exercícios psíquicos, das experiências psudomísticas. Sabe-se hoje que esta mutação pode afetar não somente este ou aquele grupo de crenças e atitudes, mas a personalidade total; o crescimento assombroso da incidência destes fenômenos, nos Estados Unidos, levou alguns psicoterapeutas a falar de uma "epidemia de mutações súbitas de personalidade", que constitui talvez o mais grave capítulo de psicopatologia social conhecido na história do Ocidente13.
A facilidade com que este processo se desencadeia, mesmo fora do cenário das seitas pseudomísticas e de toda experimentação de "poderes" psíquicos, pode ser explicada pelo fato de que, "quando o cérebro é submetido a tensões ainda mais fortes, a fase de inibição cerebral pode ser sucedida por uma fase paradoxal. Nesta, estímulos fracos e antes ineficientes podem causar respostas mais acentuadas do que estímulos mais fortes"14. ISto significa que basta uma fase de acúmulo tensional para que o processo de inversão possa seguir atuando no subconsciente, movido doravante por estímulos insignificantes e ocasionais. Então, "no terceiro estágio da inibição protetora, a fase ultraparadoxal, as respostas e o comportamento positivos começam, de repente, a se transformar em negativos, e os negativos em positivos"15. As mudanças de opinião nesta fase, e as justificativas aparentemente lógicas que o doente oferece a si mesmo e aos outros, não são senão o disfarce exterior de um processo que tem suas raízes numa sobrecarga de estimulação neuronal; são um "vestido de idéias" em torno de motivos reflexos, que permanecem subconscientes.
Na banalização, o indivíduo amortece então sua sensibilidade para todas as deficiências, injustiças e feiúras que, no seu tempo de idealismo exaltado, lhe pareciam revoltantes e intoleráveis. É que antes ele via as feiúras somente no mundo exterior e, como não as enxergava em si mesmo, as condenava "desde cima". Agora, ele as admite dentro de si; porém, como são suas e se identifica com elas, ele as defende como sinais de superioridade; não raro afeta uma atitude de soberano desprezo por aqueles nos quais se mantém viva a antiga sensibilidade moral; e, acusando-os de rancorosos, frustrados ou coisa assim, ele se compraz no seu novo estado de "homem ajustado" e — no seu entender — adulto. A banalização consiste neste nivelamento-por-baixo do sentimento moral e estético. Ela permite que o indivíduo adote, como normais e indiferentes, atitudes e opiniões que antes lhe pareciam imorais e desprezíveis. Não raro a mutação apaga blocos inteiros da memória, de modo que o indivíduo, para sustentar com alguma coerência o seu novo padrão de comportamento, chega a negar os fatos mais óbvios e patentes que presenciou. George Orwell, no seu romance 1984, descreve um caso em que, passando por este gênero de mutação, as testemunhas mesmas da inocência de um acusado depõem pela sua condenação. A mutação pode resultar então em total atomização do comportamento e acarretar, com a perda da integridade psíquica, a dissolução dos padrões morais mais elementares, produzindo o cinismo, a amoralidade, o descaramento, aliados, às vezes, a boas doses de autopiedade.
Analisando os conceitos de Diel com os critérios de Caruso16, vemos que a neurose do idealista exaltado tem sua origem na soberba, pois o ego, ao identificar-se com a imagem do ideal, atribui a si mesmo, atual e efetivamente, qualidades que só lhe pertencem de modo virtual e por espelhismo. É uma forma de autolatria. Quando os teólogos dizem que a soberba é a raiz de todos os pecados, é isto o que eles têm em vista: o idealista exaltado corrompe o bem na sua própria raiz, corrompe-o na medida em que tem por ele um amor egoísta. Sto. Agostinho diz que "todos os vícios se apegam ao mal, para que se realize; só a soberba se apega ao bem, para que pereça". A passagem da exaltação à banalização perfaz então a mudança, acarretando uma inversão total de valores, instalando o mal no lugar do bem. Na exaltação, os valores reais ainda são afirmados, apenas como uma localização falseada; na banalização, a negação dos valores é afirmada ela mesma como valor. A banalização é o momento mais grave do processo corruptivo. É claro que a alma doente só consegue operar esta transformação na medida em que não conscientiza todos os passos do processo e todas as implicações de seus atos e decisões, mas se enreda numa trama de racionalizações e sofismas, destinada a erguer ante seus próprios olhos um simulacro verossímil de inocência, no instante mesmo em que, traindo a vocação humana, trai o sentido da vida17.
É interessante observar que, quando o doente vai da exaltação à banalização, ele passa a representar perante si mesmo o papel de homem realista e "maduro", revestida de pose de segurança afetada, destinada a reforçá-lo no novo papel. Daí que ele seja o último a perceber que a sua aparente superação da revolta juvenil vem acompanhada, não de um acréscimo de equilíbrio e força, porém de um decréscimo das capacidades intelectuais e de uma degenerescência nervosa similar à que se vê na involução senil. De fato, uma das conquistas que assinalam uma evolução objetiva do homem na entrada da adolescência é a passagem dos sentimentos puramente egoístas e orgânicos às tendências ideais ou suprapessoais: nesta fase, "o indivíduo experimenta um sentimento de imperfeição, de insuficiência, trata de sair de si, de dar-se"18. A evolução da vida afetiva "segue a ordem que vai do simples ao complexo: necessidades, inclinações egoístas, inclinações ego-altruístas, inclinações altruístas, inclinações ideais"19. Porém, em certas enfermidades da evolução lenta, como a paralisia geral dos sifilíticos e também da degenerescência senil, observa-se um movimento inverso. Escreve Ribot : "A lei de dissolução consiste numa regressão contínua que desce do superior ao inferior, do complexo ao simples"20.
"Em alguns enfermos — assinala Challaye — pode-se comprovar a desaparição momentânea das tendências ideais, altruístas, e mesmo ego-altruístas. Isto é comprovado sobretudo na maioria dos anciãos ( fora do caso, é claro, dos seres superiores, nos quais esta degenerescência sentimental pode não se produzir ). Sua vida afetiva se restringe cada vez mais. Os sentimentos impessoais são os primeiros que desaparecem. Logo em seguida, as diversas formas da simpatia; e as necessidades ( econômicas, orgânicas, etc. ) são as que subsistem por mais tempo. O ancião começa a preocupar-se menos com a ciência e a arte... torna-se menos generoso... as emoções que persistem maior tempo estão ligadas à conservação pessoal, à cólera e ao medo. Enfim, o ancião pode já não ter nada mais que necessidades ; ele recai no estado do menino pequeno"21.
No homem banalizado, a nova sensibilidade que ele desenvolve pelo seu interesse material imediato, aliada ao temor da perda e ao crescente desinteresse pelos ideais, atestam, fora de toda dúvida, que aquilo que lhe parece ou que ele tenta fazer parecer uma superação é na verdade uma queda, uma degenerescência que se estende, até mesmo, ao domínio corporal.
Do ponto de vista causal, entram em jogo, no processo de banalização, fatores endógenos e exógenos. Os endógenos — aqueles que já estão dados na alma do indivíduo no instante em que o processo se instala — são os fatores clássicos levados em conta pela análise psicológica corrente: tendências hereditárias, defeitos constitucionais, traumas de infância, falhas da educação, etc. De um lado, estes fatores não exercem senão um papel predisponente, que em nada pesa se não é valorizado pela interferência dos fatores exógenos; de outro lado, eles são bem conhecidos na literatura psicológica.
Os fatores exógenos consistem, essencialmente, nos estímulos com que a sociedade em torno favorece ou desfavorece a manutenção dos ideais e a realização humana. Uma sociedade voltada para a busca de um ideal religioso, moral ou cultural universal, e dotada dos instrumentos educacionais capazes de viabilizar a realização humana de seus membros, produz, certamente, uma esplêndida floração de individualidades vigorosas e ricas que, por sua vez, contribuem para o progresso e o brilho da sociedade. A história atesta períodos assim brilhantes, como por exemplo, a Grécia de Péricles, a renascença escolástica dos séculos XII e XIII, a Idade de Ouro espanhola, a era elisabetana na Inglaterra, o Califado do Ocidente sob Harum-al-Raschid, e muitos outros. Em escala menor, pode haver curtos períodos de vigor moral e cultural mesmo em países pobres e isolados. O que quer que pensemos do conteúdo das idéias dominantes nestes períodos, o que importa é que neles o desenvolvimento da personalidade é realmente favorecido. Nem sempre esses períodos coincidem com épocas de riqueza e progresso material; o que os caracteriza não é a riqueza, mas o fato de que neles as tarefas econômicas são inseridas e transfiguradas no quadro maior dos fins e valores éticos ou religiosos que orientam a vida social como um todo.
Quando, ao contrário, a sociedade perde de vista os valores e princípios universais e se emaranha na busca obsessiva de soluções para problemas econômicos imediatos, estes parecem não somente multiplicar-se no campo dos fatos, mas invadir as almas dos indivíduos, ocupando todo o espaço que poderia ser dedicado aos valores ideais. Automaticamente, os indivíduos refluem as suas energias para a busca de interesses que são conflitantes com os de outros indivíduos e grupos — com os quais somente os valores ideais poderiam estabelecer uma base de colaboração — e a sociedade se dispersa numa atomização que pode beirar a anarquia, a guerra de todos contra todos, a deslealdade generalizada. É evidente que, neste caso, os instrumentos para a realização da vocação humana simplesmente desaparecem do cenário social, com o que justamente as pessoas de maior sensibilidade ética, não encontrando vias de realização, passam a constituir uma horda de fracassados e desajustados. É nessa horda que os falsos ideais, criados de improviso para atender a interesses de grupos ou organizações, encontram seus mais fervorosos recrutas, oferecendo-lhes uma miragem de valores e uma falsa promessa de ajustamento social e de participação.
A situação torna-se ainda mais grave em Estados totalitários ou pré-totalitários, quando a mobilização de massas inteiras da população para colaborar na "solução" de problemas econômicos recorre ao expediente de tentar sintetizar, em proveito dos fins do Estado ou das forças políticas que o disputam, as duas correntes de força tendentes à exaltação imaginativa e à banalização. As tendências idealísticas são canalizadas em movimentos de massa — seja de caráter abertamente político, seja pseudomístico ou pseudocultural —, ao mesmo tempo que as promessas de sucesso na vida social e profissional postas em circulação pelos planejadores da operação garantem um eficaz retorno das tendências de banalização em proveito dos mesmos objetivos.
Isto se observou não somente nos Estados descaradamente totalitários, como a URSS e a Alemanha nazista, mas também em todo o mundo Ocidental. As ligações, hoje em dia patentes, entre certas seitas pseudomísticas e organizações multinacionais mostra que a sociedade moderna tem um de seus principais esteios numa complexa máquina de "reciclagem" do idealismo juvenil, que esta máquina primeiro perverte pelo incentivo à exaltação ( mediante lisonjas às aspirações artísticas, políticas e espirituais mais descabidas ) e depois reverte no sentido de um enquadramento social banalizado. O caso mais eloquente é o do jovem filho de banqueiro que abandona a mediocridade do materialismo familiar para ingressar no "ensinamento espiritual" de Rajneesh, e depois é reenquadrado "por baixo" ao ser mobilizado para trabalhar na gigantesca empresa de limpeza de sedes de bancos, de propriedade do mesmo Rajneesh. O número destes mecanismos circulares em operação na nossa sociedade é muito elevado. Eles operam de maneira ubíqua e sorrateira, primeiro excitando, lisonjeando, pervertendo, depois desviando, reciclando e reaproveitando para seus próprios fins todos os ideais juvenis, mesmo os que lhes são mais hostis em aparência. É evidente que, nestas circunstâncias, um simulacro de auto-realização tende a oferecer uma falsa alternativa de solução para o conflito entre as tendências de exaltação e banalização. A alma, colocada sob a pressão esmagadora e multilateral das forças que, pela lisonja ou pela acusação, pelas promessas ou ameaças, a comprimem e a dilatam, ora para a exaltação imaginativa, ora para o ajustamento banalizado, pode agarrar-se a este simulacro, com toda a fúria e o desespero de um náufrago. Numa sociedade empobrecida, fortemente empenhada em reduzir à proletarização a totalidade dos seus membros e na qual, ademais, todos os instrumentos de defesa espiritual e religiosa foram substituídos pelas multinacionais da pseudomística e todos os instrumentos de defesa cultural pelo vozerio onipresente e obsedante das comunicações de massa, nesta sociedade, o drama acima descrito atinge um máximo de intensidade que deixa entrever nada menos que um desenlace trágico, com a desumanização brutal da população e a redução da vida social a um jogo cego de interesses mesquinhos em disputa, ocultamente orquestrado e dirigido, desde o topo, por um sinistro grupo de planejadores sociais.
Por todos os meios, esta sociedade espremerá como entre os dois dentes de um alicate todos os talentos e ideais nascentes, até esmagá-los e subjugá-los à bestialidade dominante.
No entanto, apesar das pressões maciças e de todos os atrativos corruptores, a inteligência humana, por sua natureza mesma, continua essencialmente livre e capaz de objetividade e universalidade. E se é fato que "chegará o momento em que cada um, sozinho, privado de todo contato material que possa ajudá-lo em sua resistência interior, terá de encontrar em si mesmo, e só nele mesmo, o meio de aderir firmemente, pelo centro de sua existência, ao Senhor de toda Verdade"22, não é menos verdade que está somente nas mãos de cada qual dizer a este mundo sedutor e ameaçador: Latrare potest, mordere non potest, nisi volentem: "Podes latir, mas não podes morder, a não ser que eu o deseje". Mesmo as pressões mais formidáveis que o universo concentracionário impõe à alma humana, na mais temível das tiranias já conhecidas, não eximem o homem de sua responsabilidade individual.
Todos aqueles em quem ainda reste um grão de consciência das metas reais e superiores da existência humana têm o dever imediato e indeclinável de estudar, conhecer e desmascarar os mecanismos do processo corruptor aqui descrito, para escapar aos falsos conflitos em que ele nos joga e às falsas alternativas que ele nos oferece.

NOTAS
F. Challaye, La Evolución, la Espiritualización y la Socialización de las Tendencias, em G. Dumas, Nuevo Tratado de Psicología, trad. Alfredo D. Calcagno, Buenos Aires, Kapelusz, 1956, tomo VI. Cap. III, p. 76. — Voltar
Sobre a importância psicopedagógica do ideal, v. L. Riboulet, Rumo à Cultura, trad. Maurice Teisseire e Antonio Fraga, Porto Alegre, Globo, 2a. ed., 1960, Cap. I. Voltar
Igor A. Caruso, Análisis Psíquico y Sintesis Existencial, trad. Pedro Meseguer, S.J., Barcelona, Herder, 1954, Cap. II. Voltar
Cf. Maurice Pradines, Traité de Psychologie Générale, 3e. éd., Paris, P.U.F., 1948, t.I, I-1. Voltar
Paul Diel, La Divinité. Étude Psychanalytique, Paris, P.U.F., 1950, e sobretudo Le Symbolisme dans la Mythologie Grecque, Paris, Payot, 1966. Voltar
Não é preciso dizer que esse sentimento é fartamente explorado pelos aproveitadores de toda sorte: o desejo de aprovação torna o jovem particularmente vulnerável à lisonja, e a adulação hipócrita da revolta juvenil é hoje um dos pilares da política e do comércio. Voltar
É interessante comparar isto com o tema da "revolta degradada contra um mundo degradado", assinalado por Lukács e Goldmann no romance do século XIX, onde aparece toda uma galeria de jovens exaltados, como Raskolnikoff ( Crime e Castigo ), Julien Sorel ( O Vermelho e o Negro ), Lucien de Rubembré ( Ilusões Perdidas ). V., a respeito, Lucien Goldmann, Pour une Sociologie du Roman, Paris, Gallimard, 1964. Voltar
Muito do atrativo da escola Gurdjieff, neste sentido, reside no ambiente de "secretude quase beatífica" em que se envolvem os ensinamentos do mestre, como bem assinalou Whitall N. Perry ( Gurdjieff in the Light of Tradition, Bedfont, Perennial Books, 1978 ). As escolas gurdjieffianas e afins têm toda uma requintada tecnologia para esta finalidade. Voltar
Do mesmo modo, várias seitas pseudomísticas, como veremos adiante, têm meios de canalizar em proveito próprio estes impulsos de rejeição do idealismo. Voltar
V. Olivier Reboul, A Doutrinação, trad. rev. Heitor Ferreira da Costa, São Paulo, Nacional, 1980, p.88. Voltar
William Sargant, apud Reboul, loc. cit.. Voltar
Id. ibid. Voltar
V. Flo Conway and Jim Siegelman, Snapping — America's Epidemic of Sudden Personality Changes, New York, Delta Book, 1979, principalmente caps. 1, 9, 10, 11 e 12. Voltar
William Sargant, A Possessão da Mente. Uma Fisiologia da Possessão, do Misticismo e da Cura pela Fé, trad. Klaus Scheel, Rio, Imago, 1975, p. 25. Voltar
Id. ibid. Voltar
Caruso, loc. cit. Voltar
Uso a expressão "sentido da vida" não num sentido vago e poético, mas na acepção rigorosa que lhe dá Viktor Frankl em The Will to Meaning, New York, New American Library, 1970. Voltar
Challaye, op. cit., p. 77. Voltar
Théodule Ribot, Psychologie des Sentiments, cit. em Challaye, op. cit., p. 78. Voltar
Ribot, loc. cit. Voltar
Challaye, loc. cit. Voltar
J.c., "Quelques remarques sur l'oeuvre de René Guénon", em Études Traditionnelles, 52e. Année, 1951, ns. 293-294-295, p. 307. Voltar

terça-feira, outubro 09, 2007

Nietzsche e o Niilismo


por Albert Camus
"Negamos Deus, negamos a responsabilidade de Deus, somente assim libertaremos o mundo." Com Nietzsche, o niilismo parece tornar-se profético. Mas nada podemos concluir de Nietzsche, a não ser a crueldade rasteira e medíocre que ele detestava com todas as suas forças, enquanto não se colocar no primeiro plano de sua obra o clínico em vez do profeta. O caráter provisório, metódico, estratégico, em suma, de seu pensamento não pode ser questionado. Com Nietzsche, o niilismo torna-se pela primeira vez consciente. Os cirurgiões têm em comum com os profetas o fato de pensarem e operarem em função do futuro. Nietzsche só pensou em função de um apocalipse vindouro, não para exaltá-lo, pois ele adivinhava a face sórdida e calculista que esse apocalipse acabaria assumindo, mas para evitá-lo e transformá-lo em renascimento. Ele reconheceu o niilismo e examinou-o como fato clínico. Dizia-se o primeiro niilista realizado da Europa. Não por gosto, mas pela condição, e porque era grande demais para recusar o legado de sua época. Diagnosticou em si mesmo, e nos outros, a impotência de acreditar e o desaparecimento do fundamento primitivo de toda fé, ou seja, a crença na vida. No seu caso, o "pode-se viver revoltado?" transformou-se no "pode-se viver sem acreditar em nada?". Sua resposta é afirmativa. Sim, se se fizer da ausência de fé um método, se se levar o niilismo até suas últimas consequências e se, desembocando num deserto e, confiando no que vai vir, sentir-se, com o mesmo movimento primitivo, a dor e a alegria. Em vez da dúvida metódica, ele praticou a negação metódica, a destruição aplicada de tudo aquilo que ainda esconde o niilismo de si próprio, dos ídolos que escamoteiam a morte de Deus. "Para erigir um santuário novo, é preciso demolir um santuário, esta é a lei." Aquele que quiser ser criador no bem e no mal deve, segundo ele, em primeiro lugar destruir os valores. "Assim, o mal supremo faz parte do bem supremo, mas o bem supremo é criador." A sua maneira, ele escreveu o Discurso do método de sua época, sem a liberdade e a exatidão desse século XVII francês que tanto admirava, mas com a louca lucidez que caracteriza o século XX, século do gênio, segundo ele. Cabe-nos examinar esse método da revolta. A primeira providência de Nietzsche é aceitar aquilo que conhece. Para ele, o ateísmo é evidente, ele é "construtivo e radical". A vocação superior de Nietzsche, se acreditamos nele, é provocar uma espécie de crise e de parada decisiva no problema do ateísmo. O mundo marcha ao acaso, ele não tem finalidade. Logo, Deus é inútil, já que ele nada quer. Se quisesse alguma coisa, e aqui se reconhece a formulação tradicional do problema do mal, ser-lhe-ia necessário assumir "uma soma de dor e de ilogismo que diminuiria o valor total do devir". Sabe-se que Nietzsche invejava publicamente Stendhal pela fórmula: "a única desculpa de Deus é que ele não existe". Privado da vontade divina, o mundo fica igualmente privado de unidade e de finalidade. É por isso que o mundo não pode ser julgado. Todo juízo de valor emitido sobre o mundo leva finalmente à calúnia da vida. Julga-se apenas aquilo que é, em relação ao que deveria ser o reino do céu, idéias eternas ou imperativo moral. Mas o que devia ser não existe; este mundo não pode ser julgado em nome de nada. "As vantagens deste tempo: nada é verdadeiro, tudo é permitido." Essas fórmulas, que se repercutem em milhares de outras fórmulas, suntuosas ou irônicas, são suficientes em todo caso para demonstrar que Nietzsche aceita o fardo inteiro do niilismo e da revolta. Em suas considerações, aliás pueris, sobre "adestramento e seleção", ele chegou até a formular a lógica extrema do raciocínio niilista: "Problema: por que meios se obteria uma fórmula rigorosa de niilismo completo e contagioso, que ensinaria e praticaria com um conhecimento inteiramente científico a morte voluntária?" Mas Nietzsche recruta para a causa do niilismo os valores que tradicionalmente foram considerados como freios do niilismo. Principalmente a moral. A conduta moral, tal como exposta por Sócrates ou tal como a recomenda o cristianismo, é em si mesma um sinal de decadência. Ela quer substituir o homem de carne e osso por um reflexo de homem. Ela condena o universo das paixões e dos gritos em nome de um mundo harmonioso, totalmente imaginário. Se o niilismo é a incapacidade de acreditar, seu sintoma mais grave não se encontra no ateísmo, mas na incapacidade de acreditar no que existe, de ver o que se faz, de viver o que é oferecido. Esta deformação está na base de todo idealismo. A moral não tem fé no mundo. Para Nietzsche, a verdadeira moral não se separa da lucidez. Ele é severo com os "caluniadores do mundo", porque consegue distinguir, nessa calúnia, o gosto vergonhoso pela evasão. Para ele, a moral tradicional nada mais é do que um caso especial de imoralidade. Diz ele: "É o bem que tem necessidade de ser justificado." E mais: "Será por motivos morais que um dia se deixará de fazer o bem." A filosofia de Nietzsche gira certamente em torno do problema da revolta. Ela começa justamente por ser uma revolta. Mas sente-se o deslocamento operado por Nietzsche. Com ele, a revolta parte do "Deus está morto", que ela considera fato consumado; volta-se em seguida contra tudo aquilo que visa substituir falsamente a divindade desaparecida e desonra um mundo, certamente sem direção, mas que continua a ser o único crisol dos deuses. Contrariamente ao que pensam alguns de seus críticos cristãos, Nietzsche não meditou o projeto de matar Deus. Ele o encontrou morto na alma de seu tempo. Foi o primeiro a compreender a dimensão do acontecimento, decidindo que essa revolta do homem não podia conduzir a um renascimento se não fosse dirigida. Qualquer outra atitude em relação a ela, quer fosse o remorso, quer a complacência, devia levar ao apocalipse. Nietzsche, portanto, não formulou uma filosofia da revolta, mas construiu uma filosofia sobre a revolta. Se ele ataca particularmente o cristianismo, visa apenas à sua moral. Por um lado, deixa sempre intacta a pessoa de Jesus e, por outro, os aspectos cínicos da Igreja. Sabe-se que ele admirava, como conhecedor, os jesuítas. "No fundo", escreveu, "só o Deus moral é refutado." Para Nietzsche, como para Tolstoi, o Cristo não é um revoltado. O essencial de sua doutrina resume-se no consentimento total, na não-resistência ao mal. Não é preciso matar, mesmo para impedir que se mate. É preciso aceitar o mundo tal como ele é, recusar-se a aumentar a sua desventura, mas consentir em sofrer pessoalmente o mal que ele contém. O reino dos céus está imediatamente ao nosso alcance. Ele nada mais é do que uma disposição interior que nos permite colocar os nossos atos em contato com esses princípios e que nos pode dar a beatitude imediata. Não a fé, mas as obras, eis, segundo Nietzsche, a mensagem do Cristo. Depois disso, a história do cristianismo não foi mais do que uma longa traição dessa mensagem. O Novo Testamento já se acha corrompido, e, de Paulo aos Concílios, a subserviência à fé fez esquecer as obras. Qual é a corrupção profunda que o cristianismo acrescenta à mensagem de seu senhor? A ideia do julgamento, estranha aos ensinamentos do Cristo, e as noções correlativas de castigo e de recompensa. A partir desse instante, a natureza torna-se história, e história significativa: nasce a idéia da totalidade humana. Da boa-nova ao juízo final, a humanidade não tem outra tarefa senão conformar-se com os fins expressamente morais de um relato escrito por antecipação. A única diferença é que os personagens, no epílogo, dividem-se a si próprios em bons e maus. Enquanto o único julgamento do Cristo consiste em dizer que os pecados da natureza não têm importância, o cristianismo histórico fará de toda a natureza a fonte do pecado. "Que nega o Cristo? Tudo o que no momento leva o nome de cristão." O cristianismo acredita lutar contra o niilismo, porque ele dá um rumo ao mundo, enquanto ele mesmo é niilista na medida em que ao impor um sentido imaginário à vida impede que se descubra o seu verdadeiro sentido: "Toda igreja é uma pedra que se coloca no túmulo do homem-deus; ela tenta evitar sua ressurreição à força." A conclusão paradoxal, mas significativa, de Nietzsche é que Deus morreu por causa do cristianismo, na medida em que este secularizou o sagrado. É preciso entender aqui o cristianismo histórico e a "sua duplicidade profunda e desprezível". O mesmo raciocínio faz com que Nietzsche se insurja contra o socialismo e todas as formas de humanitarismo. O socialismo nada mais é do que um cristianismo degenerado. Na verdade, ele mantém essa crença na finalidade da história, que trai a vida e a natureza, que substitui fins ideais por fins reais e contribui para irritar tanto a vontade quanto a imaginação. O socialismo é niilista, no sentido preciso que Nietzsche passa a conferir a essa palavra. O niilista não é aquele que não crê em nada, mas o que não crê no que existe. Neste sentido, todas as formas de socialismo são manifestações ainda degradadas da decadência cristã. Para o cristianismo, recompensa e castigo implicavam uma história. Mas, por uma lógica inevitável, a história inteira acaba significando recompensa e castigo: a partir desse dia, nasceu o messianismo coletivista. Da mesma forma, a igualdade das almas diante de Deus, já que Deus está morto, leva simplesmente à igualdade. Também nisso Nietzsche combate as doutrinas socialistas como doutrinas morais. O niilismo, quer se manifeste na religião, quer na pregação socialista, é o fim lógico de nossos chamados valores superiores. O espírito livre destruirá tais valores ao denunciar as ilusões sobre as quais repousam, a barganha que implicam e o crime que cometem ao impedir que a inteligência lúcida realize a sua missão: transformar o niilismo passivo em niilismo ativo. Neste mundo liberado de Deus e das idéias morais, o homem se acha atualmente sozinho e sem senhor. Ninguém menos que Nietzsche, e nisso ele se distingue dos românticos, deixou acreditar que uma tal liberdade pudesse ser fácil. Essa selvagem liberação colocava-o entre aqueles a respeito de quem ele próprio dissera sofrerem de uma nova desventura e de uma nova felicidade. Mas, para começar, é a própria desventura que clama: "Pobre de mim, concedam-me então a loucura... Ao colocar-me acima da lei sou o mais rechaçado dos rechaçados." Quem não consegue manter-se acima da lei precisa, na verdade, encontrar uma outra lei ou a demência. A partir do momento em que o homem não acredita mais em Deus nem na vida imortal, ele se torna "responsável por tudo aquilo que vive, por tudo que, nascido da dor, está fadado a sofrer na vida". É a si próprio, e somente a si próprio, que cabe encontrara a ordem e a lei. Começam então o tempo dos rechaçados, a busca extenuante da justificação, a nostalgia sem objetivo, "a pergunta mais dolorosa, mais dilacerante, a do coração que se indaga: onde poderei sentir-me em casa?". Por ser um espírito livre, Nietzsche sabia que a liberdade do espírito não é um conforto, mas uma grandeza que se quer e obtém, uma vez ou outra, com uma luta extenuante. Ele sabia que, quando se quer ficar acima da lei, se corre o grande risco de se achar abaixo dessa lei. Compreendeu por isso que o espírito só encontrava a sua verdadeira emancipação na aceitação de novos deveres. O essencial de sua descoberta consiste em dizer que, se a lei eterna não é a liberdade, a ausência de lei o é ainda menos. Se nada é verdadeiro, se o mundo não tem regras, nada é proibido: para proibir uma ação, é efetivamente preciso que haja um valor e um objetivo. Ao mesmo tempo, nada é permitido: são igualmente necessários um valor e um objetivo para escolher uma outra ação. O predomínio absoluto da lei não é a liberdade, mas também não o é a disponibilidade absoluta. Todos os possíveis somados não dão a liberdade, mas o impossível é escravidão. O próprio caos também é uma servidão. Só há liberdade em um mundo onde o que é possível e o que não o é se acham simultaneamente definidos. Sem lei, não há liberdade. Se o destino não for orientado por um valor superior, se o acaso é rei, eis a marcha para as trevas, a terrível liberdade dos cegos. Ao termo da maior liberação, Nietzsche acaba por escolher a dependência total. "Se não fizermos da morte de Deus uma grande renúncia e uma perpétua vitória sobre nós mesmos, teremos que pagar por essa perda." Em outras palavras, com Nietzsche a revolta desemboca na ascese. Uma lógica mais profunda substitui, então, o "se nada é verdadeiro, tudo é permitido" de Karamazov por um "se nada é verdadeiro, nada é permitido". Negar que uma única coisa seja proibida neste mundo é o mesmo que renunciar ao que é permitido. Quando já não se consegue dizer o que é preto e o que é branco, a luz se apaga e a liberdade torna-se uma prisão voluntária. Pode-se dizer que Nietzsche se atira, com uma espécie de alegria terrível, ao impasse ao qual ele leva metodicamente o seu niilismo. Seu objetivo confesso é tornar insustentável a situação de seus contemporâneos. Para ele, a única esperança parece ser chegar ao extremo da contradição. Se o homem não quiser perecer nas dificuldades que o sufocam, será preciso que as desfaça de um só golpe, criando os seus próprios valores. A morte de Deus não dá nada por terminado e só pode ser vivida com a condição de preparar uma ressurreição. "Quando não se encontra a grandeza em Deus", diz Nietzsche, "ela não é encontrada em lugar algum; é preciso negá-la ou criá-la." Negá-la era a tarefa do mundo que o cercava e que ele via correr para o suicídio. Criá-la foi a tarefa sobre-humana pela qual se dispôs a morrer. Ele sabia, na verdade, que a criação só é possível no extremo da solidão e que o homem só se empenharia nesse vertiginoso esforço, se, na mais extrema miséria do espírito, tivesse que consentir nesse gesto ou morrer. Nietzsche lhe grita então que a terra é a sua única verdade, à qual é preciso ser fiel, na qual é preciso viver e buscar a sua salvação. Mas ensina-lhe, ao mesmo tempo, que é impossível viver em uma terra sem lei, porque viver supõe justamente uma lei. Como viver livre e sem lei? O homem deve, sob pena de morte, responder a esse enigma. Nietzsche pelo menos não se furta a isso. Ele responde e sua resposta está no risco: Dâmocles nunca dançou melhor do que sob a espada. É preciso aceitar o inaceitável e manter-se no insustentável. A partir do momento em que se reconhece que o mundo não persegue nenhum fim, Nietzsche propõe-se a admitir a sua inocência, a afirmar que ele não aceita julgamentos, já que não se pode julgá-lo quanto a nenhuma intenção, substituindo, consequente-mente, todos os juízos de valor por um único sim, uma adesão total e exaltada a este mundo. Dessa forma, do desespero absoluto brotará a alegria infinita; da servidão cega, a liberdade sem piedade. Ser livre é justamente abolir os fins. A inocência do devir, desde que se concorde com isso, representa o máximo de liberdade. O espírito livre ama o que é necessário. O pensamento profundo de Nietzsche é que a necessidade dos fenómenos, se é absoluta, sem fissuras, não implica nenhuma espécie de coerção. A adesão total a uma necessidade total - esta é a sua definição paradoxal de liberdade. A pergunta "livre de quê?" é substituída por "livre para quê?". A liberdade coincide com o heroísmo. Ela é o ascetismo do grande homem, "o arco mais esticado que existe". Essa aprovação superior, nascida da abundância e da plenitude, é a afirmação sem restrições do próprio erro e do sofrimento, do mal e do assassinato, de tudo que a existência tem de problemático e de estranho. Ela nasce de uma vontade determinada de ser o que se é, em um mundo que seja o que ele é. "Considerar a si próprio como uma fatalidade não é fazer-se diferente do que se é..." A palavra é pronunciada. A ascese nietzschiana, partindo do reconhecimento da fatalidade, leva a uma divinização da fatalidade. Quanto mais implacável for o destino, mais digno de adoração ele se torna. O deus moral, a piedade, o amor são outros tantos inimigos da fatalidade que eles tentam compensar. Nietzsche não quer redenção. A alegria do devir é a alegria da aniquilação. Mas só o indivíduo é destroçado. O movimento de revolta, no qual o homem reivindicava o seu próprio ser, desaparece na submissão absoluta do indivíduo ao devir. O amorfati substitui o que era um odiumfati. "Todo indivíduo colabora com todo o ser cósmico, quer se saiba ou não disso, quer se queira ou não." O indivíduo perde-se, assim, no destino da espécie e no eterno movimento dos mundos. "Tudo o que foi é eterno, o mar devolve-o à beira da praia." Nietzsche retorna às origens do pensamento, aos pré-socráticos. Estes suprimiam as causas finais para deixar intacta a eternidade dos princípios que eles imaginavam. Só é eterna a força sem obje-tivo, o "jogo" de Heráclito. Todo o esforço de Nietzsche é no sentido de demonstrar a presença das leis no devir e do jogo na necessidade: "A criança é inocência e esquecimento, um recomeço, um jogo, uma roda que gira por si só, um primeiro movimento, o dom sagrado de dizer sim." O mundo é divino porque é fortuito. Por isso, só a arte, por ser igualmente fortuita, é capaz de entendê-lo. Nenhum julgamento explica o mundo, mas a arte pode nos ensinar a reproduzi-lo, assim como o mundo se reproduz ao longo dos retornos eternos. Na mesma beira de praia, o mar primordial repete incansavelmente as mesmas palavras e rejeita os mesmos seres espantados com a vida. Mas aquele que pelo menos consente em seu próprio retorno e no retorno de todas as coisas, que se faz eco e eco exaltado, participa da divindade do mundo. A divindade do homem acaba se introduzindo por esse viés. O revoltado que, no princípio, nega Deus, visa em seguida substituí-lo. Mas a mensagem de Nietzsche é que o revoltado só se torna Deus ao renunciar a toda revolta, mesmo à que produz os deuses para corrigir este mundo. "Se existe um Deus, como suportar o fato de não sê-lo?" Há, na verdade, um Deus, que é o mundo. Para participar de sua divindade, basta dizer sim. "Não rezar mais, mas dar a bênção", e a terra se cobrirá de homens-deuses. Dizer sim ao mundo, reproduzi-lo, é ao mesmo tempo recriar o mundo e a si próprio, é tornar-se o grande artista, o criador. A mensagem de Nietzsche resume-se na palavra criação, com o sentido ambíguo que ela assumiu. Nietzsche só exaltou o egoísmo e a insensibilidade próprios de todo criador. A transmutação dos valores consiste somente em substituir o valor do juiz pelo do criador: o respeito e a paixão pelo que existe. A divindade sem imortalidade define a liberdade do criador. Dionísio, deus da terra, urra eternamente no desmembramento. Mas ele representa ao mesmo tempo essa beleza perturbada que coincide com a dor. Nietzsche pensou que dizer sim à terra e a Dionísio era dizer sim a seus próprios sofrimentos. Tudo aceitar, a suprema contradição e a dor ao mesmo tempo, era reinar sobre tudo. Nietzsche aceitava pagar o preço por esse reino. Só a "terra séria e doente" é verdadeira. Só ela é divindade. Da mesma forma que Empédocles, que se atirava no Etna para ir buscar a verdade onde ela está, nas entranhas da terra, Nietzsche propunha ao homem mergulhar no cosmos, a fim de reencontrar a sua divindade eterna e tornar-se ele próprio Dionísio. Vontade de poder termina, assim como os Pensamentos de Pascal, que tanto nos relembra, com uma aposta. O homem não obtém ainda a certeza, mas apenas a vontade de certeza, o que não é a mesma coisa. De modo idêntico, Nietzsche hesitava nesse extremo: "Eis o que é imperdoável em ti. Tens os poderes e te recusas a assinar." Logo, ele teve que assinar. Mas o nome de Dionísio só imortalizou os bilhetes a Ariane, que ele escreveu quando ficou louco. Em certo sentido, a revolta em Nietzsche levou ainda à exaltação do mal. A diferença é que o mal já não é uma vingança. Ele é aceito como um dos aspectos possíveis do bem e, com muito mais convicção, como uma fatalidade. Portanto, ele é considerado como algo ultrapassado e, por assim dizer, como um remédio. Na mente de Nietzsche tratava-se apenas do consentimento orgulhoso da alma diante do inevitável. No entanto, conhecem-se a sua posteridade e o tipo de política que ia ser autorizado pelo homem que se dizia o último alemão antipolítico. Ele imaginava tiranos artistas. Mas a tirania é mais natural do que a arte para os medíocres. "Antes César Bórgia que Parsifal", exclamava ele. Ele teve ambos, César e Bórgia, mas privados da aristocracia do coração que ele atribuía aos grandes homens do Renascimento. Ao pedir que o indivíduo se inclinasse diante da eternidade da espécie e mergulhasse no grande ciclo do tempo, fizeram da raça uma particularidade da espécie e obrigaram o indivíduo a curvar-se diante desse deus sórdido. A vida, da qual falava com temor e tremor, foi degradada a uma biologia para uso doméstico. Uma raça de senhores incultos, ainda balbuciando a vontade de poder, encarregou-se, então, da "deformidade anti-semita", que ele nunca deixou de desprezar. Ele tinha acreditado na coragem unida à inteligência, e foi a isso que chamou de força. Em seu nome, colocou-se a coragem contra a inteligência, e essa virtude que foi realmente a dele transformou-se no seu contrário: a violência cega. Ele tinha confundido liberdade com solidão, de acordo com a lei de um espírito altivo. Sua "solidão profunda do meio-dia e da meia-noite" perdeu-se, entretanto, nas multidões mecanizadas que finalmente se multiplicaram na Europa. Partidário do gosto clássico, da ironia, da impertinência frugal, aristocrata que soube dizer que a aristocracia consiste em praticar a virtude sem se perguntar por quê, e que se deve duvidar de um homem que tivesse necessidade de razões para ser honesto, obcecado pela integridade ("essa integridade que se tornou um instinto, uma paixão"), servidor obstinado dessa "equidade suprema da suprema inteligência, que tem como inimigo mortal o fanatismo", trinta e três anos após a sua morte foi considerado por seu próprio país um professor da mentira e da violência, tornando detestáveis as noções e virtudes que o seu sacrifício tornara admiráveis. Na história da inteligência, com exceção de Marx, a aventura de Nietzsche não tem equivalente; jamais conseguiremos reparar a injustiça que lhe foi feita. Sem dúvida, conhecem-se filosofias que foram traduzidas, e traídas, no decurso da história. Mas, até Nietzsche e o nacionalsocialismo, não havia exemplo de que todo um pensamento, iluminado pela nobreza e pelo sofrimento de uma alma excepcional, tivesse sido ilustrado aos olhos do mundo por um desfile de mentiras e pelo terrível amontoado de cadáveres dos campos de concentração. A doutrina do super-homem levando à fabricação metódica de subomens, eis o fato que deve, sem dúvida, ser denunciado, mas que também exige uma interpretação. Se o fim último do grande movimento de revolta dos séculos XIX e XX devia ser o jugo impiedoso, não seria então necessário dar as costas à revolta e retomar o grito desesperado de Nietzsche em sua época: "Minha consciência e a sua não são mais a mesma consciência."? Reconheçamos em primeiro lugar que será sempre impossível confundir Nietzsche com Rosenberg. Devemos ser advogados de defesa de Nietzsche. Ele próprio o afirmou, ao denunciar, antecipadamente, a sua descendência impura: "aquele que liberou o espírito deve ainda purificar-se". Mas a questão é descobrir se a liberação do espírito, tal como a concebia, não excluía a purificação. O próprio movimento que culminou com Nietzsche, e que o sustenta, tem as suas leis e a sua lógica, que talvez expliquem a sangrenta desfiguração que se infligiu à sua filosofia. Não haverá nada em sua obra que possa ser utilizado no sentido do assassinato definitivo? Os matadores, desde que negassem o espírito em favor da letra, e até mesmo aquilo que na letra continua sendo espírito, não poderiam encontrar os seus pretextos em Nietzsche? A resposta deve ser sim. A partir do momento em que se negligencia o aspecto metódico do pensamento nietzschiano (e não é certo que ele mesmo o tenha sempre observado), a sua lógica revoltada não conhece mais limites. Deve-se observar, da mesma forma, que não é na recusa nietzschiana dos ídolos que o assassinato encontra sua justificação, mas na adesão apaixonada que coroa a obra de Nietzsche. Tudo aceitar pressupõe aceitar o assassinato. Aliás, há dois modos de consentir no assassinato. Se o escravo diz sim a tudo, ele aceita a existência do senhor e do seu próprio sofrimento; Jesus ensina a não-resistência. Se o senhor diz sim a tudo, ele consente na escravidão e no sofrimento dos outros; eis o tirano e a glorificação do assassinato. "Não é ridículo acreditar em uma lei sagrada, inquebrantável, não mentirás, não matarás, em uma existência cuja característica é a mentira perpétua, o assassinato perpétuo?" Certamente, e a revolta metafísica em seu primeiro movimento era apenas o protesto contra a mentira e o crime da existência. O sim nietzschiano, esquecido do não original, renega a própria revolta, ao mesmo tempo em que renega a moral que se recusa a aceitar o mundo como ele é. Nietzsche clamava por um César romano com a alma do Cristo. Em sua mente, isso era, ao mesmo tempo, dizer sim ao escravo e ao senhor. Mas, afinal, dizer sim a ambos significa tornar sagrado o mais forte dos dois, isto é, o senhor. César devia fatalmente renunciar à dominação do espírito a fim de escolher o reino do fato. "Como tirar partido do crime?", indagava-se Nietzsche, como bom professor fiel a seu método. O César devia responder: multiplicando-o. "Quando os fins são grandes", escreveu Nietzsche, em detrimento de si mesmo, "a humanidade usa uma outra medida e não julga o crime como tal, mesmo recorrendo aos meios mais terríveis." Nietzsche morreu em 1900, no início do século em que essa pretensão ia tornar-se mortal. Em vão exclamou na hora da lucidez: "É fácil falar de todas as espécies de atos imorais, mas teremos a força de suportá-los? Por exemplo, eu não conseguiria suportar faltar com a minha palavra ou matar; eu persistiria, mais ou menos tempo, mas morreria por isso, este seria o meu destino." A partir do instante em que era dado o assentimento à totalidade da experiência humana, podiam surgir outros que, longe de resistirem, se fortaleceriam na mentira e no assassinato. A responsabilidade de Nietzsche está no fato de ter legitimado, por motivos superiores de método, mesmo que por um instante, no meio do pensamento, esse direito à desonra, do qual Dostoievski já dizia que, se fosse oferecido aos homens, poder-se-ia estar sempre certo de vê-los correrem e a ele se lançarem. Mas a sua responsabilidade involuntária vai ainda mais longe. Nietzsche é efetivamente o que ele reconhecia ser: a consciência mais aguda do niilismo. O passo decisivo que ele faz o espírito de revolta dar consiste em fazê-lo saltar da negação do ideal à secu-larização do ideal. Já que a salvação do homem não se realiza em Deus, ela deve fazer-se na terra. Já que o mundo não tem rumo, o homem, a partir do momento em que o aceita, deve dar-lhe um rumo, que culmine em um tipo superior de humanidade. Nietzsche reivindicava o rumo do futuro humano. "A tarefa de governar a terra vai derrotar-nos." E ainda: "Aproxima-se o tempo em que será necessário lutar pelo domínio da terra, e essa luta será travada em nome dos princípios filosóficos." Ele anunciava o século XX. Mas, se o anunciava, é que estava alertado para a lógica interior do niilismo e sabia que uma de suas consequências era o império. Por isso mesmo, ele preparava esse império. Existe liberdade para o homem sem Deus, tal como imaginado por Nietzsche, isto é, o homem solitário. Há liberdade ao meio-dia, quando a roda do mundo pára e o homem aceita tudo o que existe. Mas o que existe vem a ser. "É preciso dizer sim ao devir." A luz acaba passando, o eixo do dia declina. Então a história recomeça, e, na história, é preciso procurar a liberdade; é preciso dizer sim à história. O nietzschismo, teoria da vontade de poder individual, estava condenado a inscrever-se numa vontade de poder total. Ele nada era sem o império do mundo. Sem dúvida, Nietzsche odiava os livres-pensadores e os humanitários. Ele utilizava a expressão "liberdade do espírito" em seu sentido mais extremo: a divindade do espírito individual. Mas ele não podia impedir que os livres-pensadores partissem do mesmo fato histórico que ele ¿ a morte de Deus ¿ e que as consequências fossem as mesmas. Nietzsche viu que o humanitarismo efetivamente nada mais era do que um cristianismo privado de justificação superior, que preservava as causas finais rejeitando a causa primeira. Mas ele não se deu conta de que as doutrinas de emancipação socialista, por unia lógica inevitável do niilismo, deviam tomar a cargo aquilo com que ele próprio havia sonhado - a super-humanidade. A filosofia seculariza o ideal. Mas chegam os tiranos e logo secularizam as filosofias que lhes dão esse direito. Nietzsche já tinha adivinhado essa colonização a propósito de Hegel, cuja originalidade, segundo ele, foi inventar um panteísmo, em que o mal, o erro e o sofrimento não poderiam mais servir de argumento contra a divindade. "Mas o Estado, os poderes estabelecidos se utilizaram imediatamente dessa iniciativa grandiosa." No entanto, ele próprio havia imaginado um sistema em que o crime não podia mais servir de argumento contra nada e cujo único valor residia na divindade do homem. Essa iniciativa grandiosa exigia também ser utilizada. A esse respeito, o nacionalsocialismo é apenas um herdeiro transitório, a decorrência irada e espetacular do niilismo. De outro modo, lógicos e ambiciosos serão todos aqueles que, corrigindo Nietzsche com a ajuda de Marx, escolherão dizer sim apenas à história, e não mais à criação como um todo. O rebelde que Nietzsche fazia ajoelhar-se diante do cosmos passará a ajoelhar-se diante da história. Que há de espantoso nisso? Nietzsche, pelo menos em sua teoria da super-humanidade, e antes dele Marx, com a sua sociedade sem classes, substituem ambos o além pelo mais tarde. Nisso, Nietzsche traía os gregos e os ensinamentos de Jesus, que, segundo ele, substituíam o além pelo imediatamente. Marx, assim como Nietzsche, pensava em termos estratégicos e, como Nietzsche, odiava a virtude formal. Ambas as revoltas, que acabam igualmente pela adesão a um certo aspecto da realidade, vão fundir-se no marxismo-leninismo, encarnando-se na casta, da qual Nietzsche já falava, que devia "substituir o padre, o educador, o médico". A diferença essencial é que Nietzsche, enquanto esperava pelo super-homem, propunha-se a dizer sim a tudo o que existe, e Marx, a tudo o que vem a ser. Para Marx, a natureza é aquilo que se subjuga para obedecer à história; para Nietzsche, aquilo a que se obedece para subjugar a história. É a diferença entre o cristão e o grego. Nietzsche, ao menos, previu o que ia acontecer: "O socialismo Moderno tende a criar uma forma de jesuitismo secular, a tornar todos os homens instrumentos"; e ainda: "Aquilo que se deseja é o bem-estar... Em decorrência, caminha-se rumo a uma escravidão espiritual como nunca se viu antes... O cesarismo intelectual paira acima de toda a atividade dos homens de negócio e dos filósofos." Colocada no crisol da filosofia nietzschiana, a revolta, em sua loucura de liberdade, culmina no cesarismo biológico ou histórico. O não absoluto levara Stirner a divinizar simultaneamente o crime e o indivíduo. Mas o sim absoluto acaba universalizando o assassinato e o próprio homem ao mesmo tempo. O marxismo-leninismo realmente aceitou o ônus da vontade de Nietzsche, mediante o desconhecimento de algumas virtudes nietzschianas. O grande rebelde cria, então, com as próprias mãos, para nele se confinar, o reino implacável da necessidade. Tendo escapado da prisão de Deus, sua primeira preocupação será a de construir a prisão da história e da razão, completando assim o escamoteamento e a consagração desse niilismo que Nietzsche pretendeu dominar.
Fonte: CAMUS, Albert. O homem revoltado. Rio de Janeiro: Editora Record, 2003.

sexta-feira, setembro 28, 2007

Relax, take it easy

Took a right to the end of the line
Where no one ever goes.
Ended up on a broken train with nobody I know.
But the pain and the (longings) the same.
(Where the dying
Now I’m lost and I’m screaming for help.)

Relax, take it easy
For there is nothing that we can do.
Relax, take it easy
Blame it on me or blame it on you.

It’s as if I’m scared.
It’s as if I’m terrified.
It’s as if I scared.
It’s as if I’m playing with fire.
Scared.
It’s as if I’m terrified. Are you scared?
Are we playing with fire?

Relax
There is an answer to the darkest times.
It’s clear we don’t understand but the last thing on my mind
Is to leave you.
I believe that we’re in this together.
Don’t scream – there are so many roads left.
Relax, take it easy
For there is nothing that we can do.
Relax, take it easy
Blame it on me or blame it on you.

Relax, take it easy
For there is nothing that we can do.
Relax, take it easy
Blame it on me or blame it on you.

Relax, take it easy
For there is nothing that we can do.
Relax, take it easy
Blame it on me or blame it on you.

Relax, take it easy
For there is nothing that we can do.
Relax, take it easy
Blame it on me or blame it on you.

It’s as if I’m scared.
It’s as if I’m terrified.
It’s as if I scared.
It’s as if I’m playing with fire.
Scared.
It’s as if I’m terrified.
Are you scared?
Are we playing with fire?

Relax
Relax

Mika

sexta-feira, setembro 21, 2007

Estrógeno

Em espaços de tempo
fragmentos da realidade
causando-me sempre
um enorme mal-estar

na falta de estrógeno
a depressão se exibe
clara e calmamente.

Mas...
as descobertas chegam...ah ...
junto o alívio...
óh cielos,
fisiologicamente
psicologicamente
psicossomaticamente
relativamente
fatalmente
na mente
o que realmente
importa
é o tempo,
o presente.
Ah meu desassossego
num
momento tinha que sanar
viva ao estrógeno
que não pode faltar.

terça-feira, setembro 18, 2007

Rival

As veces solo siento que la vida
Es un lento cansacio de uno mismo.

Aguanto un esqueleto de cólera en mis ojos
Para no suplicar.
Me yergo.
Yasgo.
Salta la luz en un río en tu mirada.

Después de tanto andar,
Me falta el tiempo y la sed
Y el secreto
El hecho de vivir sin haver sido.
Os juro que he guardado
La promessa de serme
fiel hasta locura.
Más allá de mi mismo me ha llevado
Este afán por la vida.
Huella de la razón, ceniza en brasas,
Así será: lo merecido queda
Bajo la piel cerrado de los otros,
De lo que se perdió escondido,
De lo que se olvidó por entregado.

Sabedme aquí, heridas ya las alas.
Sangrante en el dolor que aún anuncia
Un corazón de luz marcado de fuego.

Manuel Gahete

domingo, setembro 16, 2007

Se não vai
Não desvie a minha estrela
Não desloque a linha reta
Você só me fez mudar
Mas depois mudou de mim
Você quer me biografar
Mas não quer saber do fim
Mas se vai
Você pode ir na janela
Pra se amorenar no sol
Que não quer anoitecer
E ao chegar no meu jardim
Mostro as flores que falei
Vai sem duvidar
Mas se ainda faz sentindo, vem
Até se for bem no final
Será mais lindo
Como a canção que um dia fiz
Pra te brindar

Gram

sexta-feira, setembro 14, 2007

Minha novela

O que seria melhor?
Amá-la pelo simples fato de aqui
Se encontrar...
Ou não pensar se melhor seria
A ausência desta...
Não importaria agora,
Se a existência de fato não pesasse.
E a necessidade do dever...
dar sentido às minhas
Atuais e pessimistas representações do real...
e um "bom" sentido,
valoroso...
E se me perguntares sobre questões do amor,
Não, digas nada!
E se acaso pedires que lhe diga
O que é dignidade...
eu diria;
O que já foi dito e,
É tudo verdade,
E tudo tão subjetivo...
“e assim caminha a humanidade...”
E minha atual pesquisa sobre ética,
E minhas possíveis reproduções...
Eu diria como deve ser...
Serão somente
Mais algumas reproduções...
Do real.
Pode até
ser muito mais do imaginário.
Mas, então...
O que eu devo fazer?
Somente seguir a linha...
É esse o meu dever...
Aprender?
Ah ta...
como todos aqueles que caminham pelas
Virtudes...do
conhecimento...e tudo mais...
ah ta bom...
Há paixão demais no meu peito,
insistem nas mesmas
representações...
estou me assistindo demais...
Tenho medo.
Eu na Sibéria,
Minha novela.

terça-feira, setembro 11, 2007

QUERENÇA

Quisera poder estar agora, precisamente,
desfrutando o silêncio dos teus lábios,
mensageiros que são do amor, mesmo calados.

Quisera poder ter, por um momento,
nesta hora, o confortante contato
dos teus dedos, levemente.

Quisera estar sorrindo, percorrendo
caminhos que conheço no teu corpo,
que já percorremos juntos, lentamente.

Por um instante, apenas um instante,
quisera poder afagar os teus cabelos
brilhantes, perfumados, lindos.

Quisera nunca mais acordar deste meu sonho,
para, eternamente, viver contigo os teus carinhos,
quisera. Ah, como quisera.

José Araújo de Souza

sexta-feira, setembro 07, 2007

7 de setembro
família
desarollo...

nada
falling
bolha...

viagem
mato
bagagem...

ética
boca...

quinta-feira, setembro 06, 2007

Meditação Matinal

Quando vem eu logo faço com que desapareçam...
Como bolhas que estouram e deixam alguns
Vestígios no ar
Pensamentos que surgem para
Assolar...
Eu limpo todo o excesso,
E por força de alguma vontade de serenidade
Eu paro de gritar...
Bolhas ao vento a estourar...
No fim vão acabar...O que é óbvio...
No final sempre acaba!
Alguma serenidade pousa na véspera,
São firmamentos de coisas...
Testamentos abertos...
Alguns fantasmas devem estar
Aflitos, pois seus nomes vão
ser pronunciados...e na Independência
Ou Morte, o inevitável será a última...
Que ridículo um trocadilho para o
Próximo feriado...
Eu sou mesmo hilária.
Mas, meditações em minhas tolices
Hoje não vão pairar,
O dia é de prosa...
E é só...Meus estímulos são poucos...
8:20 da manhã...Impossível...

quarta-feira, setembro 05, 2007

Ai, de hoje...

Comecei a ler Aristóteles...
ah... a ética que devo provocar discussão
me levou a tal...
É claro um dia iria começar a ler os primeiros
filósofos...
E ler "ciência política" me é caro...
Identificar honra com virtude,
e com felicidade,
e reconhecimento e etc e tal...
só me levam a conclusões que continuam
levando-me ao mesmo lugar...
E eu com 24 anos já penso em fugir
da cidade,
da grande moral racional...
E fugir das honras...o que me torna
inútil...pois se é o que dizem
os individuos com discernimento...
não se é virtuoso dormindo,
fugindo...
E meu ai de hoje,
os meus infortúnios diários,
eu já não gostaria de considerar
mais nada.

domingo, setembro 02, 2007

As coisas vão clarendo,
as idéias se encontram...
Até que enfim, eu encontrei!
Diálogos podem ser finalizados.
Ah! como é bom.
Um script foi feito, e só me resta segui-lo;
o fim será bem sucedido,
e meu eu vai se firmando, se afirmando
como todos os outros.
Estas são minhas únicas palavras
num fim de tarde de domingo.

Com trilha sonora que traz paz.
Afinal um bom encontro é de dois.

sexta-feira, agosto 31, 2007

Cuéntame cómo vives, cómo vas muriendo

Cuéntame cómo vives;
dime sencillamente cómo pasan tus días,
tus lentísimos odios, tus pólvoras alegres
y las confusas olas que te llevan perdido
en la cambiante espuma de un blancor imprevisto.

Cuéntame cómo vives.
Ven a mí, cara a cara;
dime tus mentiras (las mías son peores),
tus resentimientos (yo también los padezco),
y ese estúpido orgullo (puedo comprenderte).

Cuéntame cómo mueres.
Nada tuyo es secreto:
la náusea del vacío (o el placer, es lo mismo);
la locura imprevista de algún instante vivo;
la esperanza que ahonda tercamente el vacío.

Cuéntame cómo mueres,
cómo renuncias —sabio—,
cómo —frívolo— brillas de puro fugitivo,
cómo acabas en nada
y me enseñas, es claro, a quedarme tranquilo.

Gabriel Celaya

quarta-feira, agosto 29, 2007

Meros devaneios, cinzas....


Acordo e o que eu vejo?
Não me reconheço a cada manhã...
Eu tento,
vivo, vejo e observo...
E tudo ainda parece-me estranho,
Ressaca interminável da embriaguez
dessa vida...
Se pudesse brindaria dionisíaca por
todas as manhãs...
Mas;
tenho que pensar em meus projetos, sim!
Eu devo concentrar-me neles,
discutir sobre valores filosóficos...
Ah sim!quanta grandiosidade...Parece bom e ruim.
Importante talvez para o amontoado de informações;
não é mesmo?
Ou eu vou contribuir para uma discussão que encadeará...ah...
Ai...Sem propósitos tudo isso, que gosto mais sem gosto...
O meu sujeito, este subjetivo objetivo...
Sempre expressões excessivamente
absurdas e empoçadas pela melancolia, e tudo me aparece tão...
Ridículo...
E o que me atrai sempre são idéias, situadas num plano que eu criei...
Estou sempre pronta a rotulá-las abaixo ou acima de tal.

Somente tolices, e tudo...toda esse energia no ar...
Agride-me.
O que é que eu tenho?
O mal-estar constante,
A náusea...
Eu mergulhada em profundidade.
Vivendo e flutuando na superfície.