terça-feira, junho 10, 2025

A ponte, o rio, o mar.

 A lua parecia invadir a mim

estava a caminhar pela rua

sabia que poderia ser livre

me perguntaram muitas coisas

não entenderam muito do que eu escrevi

isto não está claro, se quer conseguir isso

tem de ser clara

e se eu fosse tão clara como a lua

e pudesse ver até suas manchas

que podem ser até grandes crateras

sonhava que via um homem puro

ele me esperava em outro país

eu viajava junto ao mar

perdia-me no caminho

mas ele sabia que eu iria chegar

estava com outros estrangeiros perdidos

saio do trabalho à meia noite

sento-me na janela 

e miro a lua

corro pelas escadas do hotel

fujo de errar faturações

agora preciso abrir o bar todos os dias

voltei a abrir botelhas para estrangeiros

o projeto não parece estar bom 

eu não sei por que dizer que somos apenas animais não é o

suficiente

e tampouco sei dizer por que o hilemorfismo poderia ajudar

a melhorar alguma compreensão da ontologia pessoal

contemporânea

o livro foi assim mesmo revisei o quanto pude

e agora trabalho na recepção

voltei a me maquiar

a sentar no mercado pra tentar escrever ou ler por meia hora

consigo fazer ao menos meia hora de esteira

sinto falta do pesadelo que vivia e da falta de paz 

que era estar com o outro

mas melhoro a cada dia a dor de ver tanta dor

naquele que não pude fazer grande, tranquilo e infalível

como Bruce Lee

enfim, não sou deusa

sou uma mulher

que queria apenas um homem

tola

os homens não querem mulheres

falta ainda meia hora para entrar no trabalho

abrir o bar

ver a ponte pela esplanada

sorrir para estrangeiros

treinar meu inglês, meu espanhol, meu francês, 

sei lá, qualquer outra língua que eu puder falar

não é que eu queira ser feliz

não é nada disso

eu só quero ser filósofa

nem amada mais eu peço

chega disso

mas também queria ir pra outro país

mas e depois disso 

sei que estarei sem lugar no mundo 

sei que estarei sem lugar no mundo

ao menos homem nenhum mais vou querer salvar

que se destruam

como bem quiserem

agora aceitei fazer pareceres para artigos de revista

de educação

que sei eu

de educar homens

dizem de pluralidade, de alteridade, 

de formação para além da escola

de reconhecimento do outro

acho que os homens não sabem nada das mulheres

acho que só querem destruí-las

penso que deveria parar de pensar assim

e sonhei com um homem que era puro e me 

amava

era forte e trabalhava com as mãos

era calado

era bonito

enfim, o professor parece gostar de dizer "não entendo o que está a dizer"

e fala de si em terceira pessoa, assim como eu

adorei

eu não sei bem pra onde vou

e se vou

se vou passar o verão na recepção

a ver a ponte, o rio, e o mar

quando estou a passar

se vão me contratar

se vou conseguir escrever um forte projeto

se há amor

ou homens preferem comer a si próprios

eu não sei de educação

eu sei de solidão

da paz da solidão.