as águas das cataratas
fluem com força, sem parar
são quedas monstruosas
que tocam o chão duro da realidade
e seguem pra outro plano
em paz
e se o passado
nunca tivesse sido vivido?
se o amor que me prometeste
fosse só
um índio que nunca veio? nem virá
de estrela nenhuma
que maldição tu carregas?
uma grande alucinação
de um amor idealizado
uma promessa que se evapora
antes mesmo de se concretizar
eu, forçando a ficar
forçando a ser grande, impávido sei lá o que mais
como quem espera
o futuro que nunca chega
uma presença sempre fugidia
o índio que desceria da estrela colorida
mas desceu foi ao inferno e leva este onde vai
banhos longos
pra limpar a alma de si
e foi-se, como se não fosse nada
talvez porque não fosse
a floresta cheia de perigos que te machucam
te corroem, corrompem
minha alucinação de amar-te
me fez ver a mim
não virá,
vá, teu nome está no lixo, já sabes
não me interessa mais
teus desejos,
teu sexo que não inclui
o corpo sagrado de uma mulher sagrada
tua vida na rua, numa floresta devastada
a minha, na torre
trazia essas energias pro meu leito
ergo a cabeça
foco na minha escrita
na minha vida
o axé do afoxé virá em mim
busco outro horizonte pro amor
meu Deus isso foi o que?
um pesadelo
eu sei da minha loucura
e a viste, a tua permanece em numbra
eu senti o cheiro que veio de ti
e das tuas ações más e vis
de onde vem o que já não serve mais
e não confiei no meu faro
tão explícito
era estranho mesmo amar alguém
que começava por ter o nome
numa lixeira, pena dos índios
dos povos originários
não se força beleza onde não há
o exótico obviamente mórbido e desvanecido
era pena, só pena —
sem casa, sem lar, sem reza
sem o índio prometido, que nunca virá tranquilo e infalível
pena do abandono
que ofereces
o gosto de morte
carregada de uma nostalgia inventada
em risos de beberrões
perdeu a estrela pra vir e
saíste com a mesma cara
da primeira vez que te vi
com angústia e raiva
o abandonado abandona a si mesmo
o índio não virá, nem como ideal nem preservado em corpo físico
esse índio nunca virá que eu vi seu fim
não há ideia romântica de índio nenhum, nem espírito dos pássaros
nem das árvores ali
ou de águas limpas,
o corpo de índio surpreendeu em morte
fui eu que vim
renascida de volta para o sonho de luz
da minha paz e de voltar a buscar vida pra mim.