As correntes foram soltas,
não há mais nenhuma algema...
Quando não se pega mais atalhos,
nem que seja somente uma vez,
segue-se em algum caminho,
dito certo,
eu digo fatal...
e mais um dia de término,
num ano,
numa vida.
Num pequeno pixel em alguma galáxia.
Numa consciência, numa ideia, numa imagem...
em todos os sentidos...
livres, alçando sei lá o quê...
sonhando beijos melhores que já sonhei,
Sonho, determino, aliás parece já estar determinado;
parece...
Levanto os olhos para o horizonte,
contemplo tudo e nada.
muita projeção num novo ano.
Como antes, entender o valor do amor
em mim.
quarta-feira, dezembro 31, 2008
segunda-feira, dezembro 29, 2008
Quando não se vê mais espectros nos espelhos,
ideais palpáveis, circunstanciais...
Vontade, pura vontade.
Não é possível ter dois,
quem diria que haveria tantos caminhos,
e pra que tantos?
Já não sigo dormente...
Não podem simplificar?
Fluxo...fluxo perfeito...
Não leve a mal é que realmente é hilário,
essa vida já me cansa dar-te as costas,
eu vou é te abraçar,
de uma vez por todas...
ideais palpáveis, circunstanciais...
Vontade, pura vontade.
Não é possível ter dois,
quem diria que haveria tantos caminhos,
e pra que tantos?
Já não sigo dormente...
Não podem simplificar?
Fluxo...fluxo perfeito...
Não leve a mal é que realmente é hilário,
essa vida já me cansa dar-te as costas,
eu vou é te abraçar,
de uma vez por todas...
sábado, dezembro 20, 2008
Retrato

Enfim magra, de olhos verdes, carão amarelo,
Com pés esquisitos, a meia altura,
o cabelo loiro que ilumina a figura,
traz nos dedos o fim vermelho.
No arco do vestido um sorriso
com propenso amor à ternura
e por carecer cor na mesma gravura
o preto, o branco do ciso.
os olhos pararam neste momento
Deram uma volta,
eternizaram o sentimento:
Eis Sâmara, que rabisca verdades ao relento;
lendo um retrato
num dia qualquer que se achou vivendo.
sexta-feira, dezembro 05, 2008
abandono
mais um abandono de emprego...
que coisa...
que insistência em não ser persistente
de não submeter-se aos sacrifícios...
eu já cansei deles..
mas não vou me oferecer como próprio sacrífcio
numa bandeja...
I dont wanna...
ai, ai,
terapia...
mas é tudo tão consciente que agora só me faz bem...
a educação física,
a minha afamada educação física, um diploma,
que pede outro...
ótimo,
a objetividade é um ponto na parede que eu perco
de vista quase sempre...
mas agora não,
2009 é nascimento,
solares...
e...
e....
e.......
nada...
que coisa...
que insistência em não ser persistente
de não submeter-se aos sacrifícios...
eu já cansei deles..
mas não vou me oferecer como próprio sacrífcio
numa bandeja...
I dont wanna...
ai, ai,
terapia...
mas é tudo tão consciente que agora só me faz bem...
a educação física,
a minha afamada educação física, um diploma,
que pede outro...
ótimo,
a objetividade é um ponto na parede que eu perco
de vista quase sempre...
mas agora não,
2009 é nascimento,
solares...
e...
e....
e.......
nada...
terça-feira, outubro 28, 2008
Amor que morre
O nosso amor morreu... Quem o diria!
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!
Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...
Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.
E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há-de vir!
Florbela Espanca
Quem o pensara mesmo ao ver-me tonta,
Ceguinha de te ver, sem ver a conta
Do tempo que passava, que fugia!
Bem estava a sentir que ele morria...
E outro clarão, ao longe, já desponta!
Um engano que morre... e logo aponta
A luz doutra miragem fugidia...
Eu bem sei, meu Amor, que pra viver
São precisos amores, pra morrer,
E são precisos sonhos para partir.
E bem sei, meu Amor, que era preciso
Fazer do amor que parte o claro riso
De outro amor impossível que há-de vir!
Florbela Espanca
Inatingível
O QUE SOU EU, gritei um dia para o infinito
E o meu grito subiu, subiu sempre
Até se diluir na distância.
Um pássaro no alto planou vôo
E mergulhou no espaço.
Eu segui porque tinha que seguir
Com as mãos na boca, em concha
Gritando para o infinito a minha dúvida.
Mas a noite espiava a minha dúvida
E eu me deitei à beira do caminho
Vendo o vulto dos outros que passavam
Na esperança da aurora.
Eu continuo à beira do caminho
Vendo a luz do infinito
Que responde ao peregrino a imensa dúvida.
Eu estou moribundo à beira do caminho.
O dia já passou milhões de vezes
E se aproxima a noite do desfecho.
Morrerei gritando a minha ânsia
Clamando a crueldade do infinito
E os pássaros cantarão quando o dia chegar
E eu já hei de estar morto à beira do caminho.
Vinicius de Moraes
E o meu grito subiu, subiu sempre
Até se diluir na distância.
Um pássaro no alto planou vôo
E mergulhou no espaço.
Eu segui porque tinha que seguir
Com as mãos na boca, em concha
Gritando para o infinito a minha dúvida.
Mas a noite espiava a minha dúvida
E eu me deitei à beira do caminho
Vendo o vulto dos outros que passavam
Na esperança da aurora.
Eu continuo à beira do caminho
Vendo a luz do infinito
Que responde ao peregrino a imensa dúvida.
Eu estou moribundo à beira do caminho.
O dia já passou milhões de vezes
E se aproxima a noite do desfecho.
Morrerei gritando a minha ânsia
Clamando a crueldade do infinito
E os pássaros cantarão quando o dia chegar
E eu já hei de estar morto à beira do caminho.
Vinicius de Moraes
quarta-feira, outubro 22, 2008
ícones
trabalho
diploma
casa
almoço
manhã
quarta
cinza
clichê
clichê
clichê
michê
dinheiro
telefone
créditos
maconha
viagem
sonhos
ação
?
ideal
semiótica
email
currículo
paraglider
!
crepúsculo
maconha
!
universo
presente
destino
nem existe
fim de ano
mais um ano
amor
sexo
momento sabático
merdas
da minha
cabecinha...
diploma
casa
almoço
manhã
quarta
cinza
clichê
clichê
clichê
michê
dinheiro
telefone
créditos
maconha
viagem
sonhos
ação
?
ideal
semiótica
currículo
paraglider
!
crepúsculo
maconha
!
universo
presente
destino
nem existe
fim de ano
mais um ano
amor
sexo
momento sabático
merdas
da minha
cabecinha...
sexta-feira, outubro 03, 2008
Atitude
Minha esperança perdeu seu nome...
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.
O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.
Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.
E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes.
Cecília Meireles
Fechei meu sonho, para chamá-la.
A tristeza transfigurou-me
como o luar que entra numa sala.
O último passo do destino
parará sem forma funesta,
e a noite oscilará como um dourado sino
derramando flores de festa.
Meus olhos estarão sobre espelhos, pensando
nos caminhos que existem dentro das coisas transparentes.
E um campo de estrelas irá brotando
atrás das lembranças ardentes.
Cecília Meireles
4º Motivo da rosa
Não te aflijas com a pétala que voa:
também é ser, deixar de ser assim.
Rosas verá, só de cinzas franzida,
mortas, intactas pelo teu jardim.
Eu deixo aroma até nos meus espinhos
ao longe, o vento vai falando de mim.
E por perder-me é que vão me lembrando,
por desfolhar-me é que não tenho fim.
Cecília Meireles
quinta-feira, outubro 02, 2008
Apostila de semiótica
Que clichê, escrever em outra quinta cinza.
Posso senti-la pela manhã já sabendo das possibilidades de chuva,
para todo o dia.
As minhas, possibilidades, estão nubladas familiarizadas com a manhã.
Minhas possíveis representações, chapadas ainda de ontem, faz-me lembrar
o céu, a estrela que caiu e o pedido projeção ridícula e viciosa...
Aquele ritano, que nem é ele..
Vejo-as claras, projeções que não mais enganam-me, e meu desejo é
enforcá-las... eu já faço.
ah...aquela promiscuidade da carne, foi suja...limpa e suja...
Freud explica...
Essa vontade de engolir o mundo, faz-me comer tanta merda.
Usar, brincar com o sexo do outro... Freud explica e a natureza também...
O céu dessa manhã, e o que eu posso fazer se é cinza?
Minhas inúteis percepções apresentadas ao léu, mostram a cara batida que tem,
a banal comparação dos meus versos da quinta cinza da semana passada.
Eu estou como?
Permitindo que assistam-me todo o tempo, parece-me ingenuidade....
Que relação triádica quinta-feira cinza e Sâmara, signos que realmente se fizeram
melancólicos, impossível compreender isso... tal ordem e relação que só eu poderei
representar na síntese presente,
como um regalo, com ou sem chuva,
seguindo ao acaso, iguais aos fogos de ontem e o paraglider que voa sobre minha testa
agora...
Relação triádica perfeitamente concretizada na subjetividade
das possibilidades lógicas...
No fim, eu interpretante, com a apostila de semiótica ao lado.
Posso senti-la pela manhã já sabendo das possibilidades de chuva,
para todo o dia.
As minhas, possibilidades, estão nubladas familiarizadas com a manhã.
Minhas possíveis representações, chapadas ainda de ontem, faz-me lembrar
o céu, a estrela que caiu e o pedido projeção ridícula e viciosa...
Aquele ritano, que nem é ele..
Vejo-as claras, projeções que não mais enganam-me, e meu desejo é
enforcá-las... eu já faço.
ah...aquela promiscuidade da carne, foi suja...limpa e suja...
Freud explica...
Essa vontade de engolir o mundo, faz-me comer tanta merda.
Usar, brincar com o sexo do outro... Freud explica e a natureza também...
O céu dessa manhã, e o que eu posso fazer se é cinza?
Minhas inúteis percepções apresentadas ao léu, mostram a cara batida que tem,
a banal comparação dos meus versos da quinta cinza da semana passada.
Eu estou como?
Permitindo que assistam-me todo o tempo, parece-me ingenuidade....
Que relação triádica quinta-feira cinza e Sâmara, signos que realmente se fizeram
melancólicos, impossível compreender isso... tal ordem e relação que só eu poderei
representar na síntese presente,
como um regalo, com ou sem chuva,
seguindo ao acaso, iguais aos fogos de ontem e o paraglider que voa sobre minha testa
agora...
Relação triádica perfeitamente concretizada na subjetividade
das possibilidades lógicas...
No fim, eu interpretante, com a apostila de semiótica ao lado.
quinta-feira, setembro 18, 2008
Miércules
Essa inquietação infantil faz com que eu não me sinta
à vontade
seja em casa ou na rua,
e essa abertura de demonstrar meu humor com palavras...
sempre a emoção sobre a razão...
mas o que é razão?
é perceber o dia cinza,
é buscar palavras pra definir a explosão no peito...
esse meu humor turbulento sem fazer cerimônias para desmonstrar o descontentamento...
até incoscientemente pra quem tá lá do lado de lá...
sentimentos profundos que insistem em direcionar-me de
maneira...
carece controle,
estabilidade psíquica...
ah que merda...
dias cinzas...
sanidade...
relax, não há nenhuma decisão irrevogável...
miércules está pela metade e cinza...
canais construtivos, cósmicos, lunares...
particulares com juízos de cores e valores sem a qualidade
de dualidade...
ah...coisa agora é dentro pra fora.
ah....ontem que foi miércules...
jueves cinza, entoncés...
dia frio pra
esquentar...
à vontade
seja em casa ou na rua,
e essa abertura de demonstrar meu humor com palavras...
sempre a emoção sobre a razão...
mas o que é razão?
é perceber o dia cinza,
é buscar palavras pra definir a explosão no peito...
esse meu humor turbulento sem fazer cerimônias para desmonstrar o descontentamento...
até incoscientemente pra quem tá lá do lado de lá...
sentimentos profundos que insistem em direcionar-me de
maneira...
carece controle,
estabilidade psíquica...
ah que merda...
dias cinzas...
sanidade...
relax, não há nenhuma decisão irrevogável...
miércules está pela metade e cinza...
canais construtivos, cósmicos, lunares...
particulares com juízos de cores e valores sem a qualidade
de dualidade...
ah...coisa agora é dentro pra fora.
ah....ontem que foi miércules...
jueves cinza, entoncés...
dia frio pra
esquentar...
segunda-feira, setembro 08, 2008
Espasmo fumaça
Já não há espaços espásmicos
a vida prevalecida
é vencida sem desânimo
extermina-se a política
que só é feita no peito
sem dar comidinha à ideologias sem dono
sem inventar um qualquer que seja
que se eleja
e na fartura de inventar símbolos
chega de inventá-los
quando o cigarro apaga só é
preciso fogo...
A Britney tá de pé,
não conseguia ser...
ser...ah! símbolos.
Dá pra gostar de hip-hop, ah! os negros são ótimos!!
Kanie West e os tambores
pra honrar a pica...muitos batuques... ah! aquele Lupe Fiasco, hum...superstar!
onde vão levam seus batuques, esses tambores que unem a tribo...
e se cantam ao dinheiro e poder é dando adeus à miséria,
ah! os negros americanos, estão em alta...
e que não atirem no Obama, um negro intelectual...ah! é até bonito de se ver...
mas o que importa?
Sou nada,
uma ficção...no trópico sul...
e se o Lula quer eleger uma mulher...
e se as mulheres...e ... e se...ah...
Eu, mulher, tenho uma alma porque a sinto?
eu pertenço a mim, nem sei onde quero ir...
Não invoco a nadie,
tenho debruçado muitas vezes
olhando a cisterna que sou
e minha voz ecoa
no poço que eu tapei.
A cabeça dourada,
os sonhos dourados,
e El dourado?
e pensar, é só o que faz,
se calhar...
Se calhar também não é nada disso.
Na utilidade do fundo,
na futilidade do eco
na cabeleira loura
na cara morena
que faz fumaça
ah! é só espasmo fumaça...
a vida prevalecida
é vencida sem desânimo
extermina-se a política
que só é feita no peito
sem dar comidinha à ideologias sem dono
sem inventar um qualquer que seja
que se eleja
e na fartura de inventar símbolos
chega de inventá-los
quando o cigarro apaga só é
preciso fogo...
A Britney tá de pé,
não conseguia ser...
ser...ah! símbolos.
Dá pra gostar de hip-hop, ah! os negros são ótimos!!
Kanie West e os tambores
pra honrar a pica...muitos batuques... ah! aquele Lupe Fiasco, hum...superstar!
onde vão levam seus batuques, esses tambores que unem a tribo...
e se cantam ao dinheiro e poder é dando adeus à miséria,
ah! os negros americanos, estão em alta...
e que não atirem no Obama, um negro intelectual...ah! é até bonito de se ver...
mas o que importa?
Sou nada,
uma ficção...no trópico sul...
e se o Lula quer eleger uma mulher...
e se as mulheres...e ... e se...ah...
Eu, mulher, tenho uma alma porque a sinto?
eu pertenço a mim, nem sei onde quero ir...
Não invoco a nadie,
tenho debruçado muitas vezes
olhando a cisterna que sou
e minha voz ecoa
no poço que eu tapei.
A cabeça dourada,
os sonhos dourados,
e El dourado?
e pensar, é só o que faz,
se calhar...
Se calhar também não é nada disso.
Na utilidade do fundo,
na futilidade do eco
na cabeleira loura
na cara morena
que faz fumaça
ah! é só espasmo fumaça...
sexta-feira, agosto 29, 2008
Conclusão a sucata !... Fiz o cálculo
Conclusão a sucata !... Fiz o cálculo,
Saiu-me certo, fui elogiado...
Meu coração é um enorme estrado
Onde se expõe um pequeno animálculo...
A microscópio de desilusões
Findei, prolixo nas minúcias fúteis...
Minhas conclusões práticas, inúteis...
Minhas conclusões teóricas, confusões...
Que teorias há para quem sente
O cérebro quebrar-se, como um dente
Dum pente de mendigo que emigrou ?
Fecho o caderno dos apontamentos
E faço riscos moles e cinzentos
Nas costas do envelope do que sou...
Conclusão a sucata !... Fiz o cálculo,
Saiu-me certo, fui elogiado...
Meu coração é um enorme estrado
Onde se expõe um pequeno animálculo...
A microscópio de desilusões
Findei, prolixo nas minúcias fúteis...
Minhas conclusões práticas, inúteis...
Minhas conclusões teóricas, confusões...
Que teorias há para quem sente
O cérebro quebrar-se, como um dente
Dum pente de mendigo que emigrou ?
Fecho o caderno dos apontamentos
E faço riscos moles e cinzentos
Nas costas do envelope do que sou...
eu que um dia fui
coisas que eu nem sei
mas se no índice
tudo indicaria qualidades do sentir
eu que dizia sentir tesão
eu que gostaria de
sentir mais tesão
pela vida
e saberia viver
por querer sentir
mais
e mais
e a qualidade primeira
de te ver
de te querer
de sentir teu cheiro
de escrever versos aleatórias
numa campanha política
qualquer...
que passa
e tuas mãos no meu corpo
saberiam dizer o que se faz
necessário
e daí,,,
nada importa
as 04:25 da manhã;.
e agora eu vou embora
eu corro o risco
e não te vi por completo...
Sâmara
coisas que eu nem sei
mas se no índice
tudo indicaria qualidades do sentir
eu que dizia sentir tesão
eu que gostaria de
sentir mais tesão
pela vida
e saberia viver
por querer sentir
mais
e mais
e a qualidade primeira
de te ver
de te querer
de sentir teu cheiro
de escrever versos aleatórias
numa campanha política
qualquer...
que passa
e tuas mãos no meu corpo
saberiam dizer o que se faz
necessário
e daí,,,
nada importa
as 04:25 da manhã;.
e agora eu vou embora
eu corro o risco
e não te vi por completo...
Sâmara
Ah, um Soneto...
Meu coração é um almirante louco
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear ...
No movimento (eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.
Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.
Mas — esta é boa! — era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação? ...
Meu coração é um almirante louco
que abandonou a profissão do mar
e que a vai relembrando pouco a pouco
em casa a passear, a passear ...
No movimento (eu mesmo me desloco
nesta cadeira, só de o imaginar)
o mar abandonado fica em foco
nos músculos cansados de parar.
Há saudades nas pernas e nos braços.
Há saudades no cérebro por fora.
Há grandes raivas feitas de cansaços.
Mas — esta é boa! — era do coração
que eu falava... e onde diabo estou eu agora
com almirante em vez de sensação? ...
sábado, julho 19, 2008
Monólogo de uma sombra
"Sou uma Sombra! Venho de outras eras,
Do cosmopolitismo das moneras...
Pólipo de recônditas reentrâncias,
Larva de caos telúrico, procedo
Da escuridão do cósmico segredo,
Da substância de todas as substâncias!
A Simbiose das coisas me equilibra.
Em minha ignota mônada, ampla, vibra
A alma dos movimentos rotatórios...
E é de mim que decorrem, simultâneas,
A saúde das forças subterrâneas,
E a morbidez dos seres ilusórios!
Pairando acima dos mundanos tetos,
Não conheço o acidente da Senectus
- Esta universitária sanguessuga
Que produz, sem dispêndio algum de vírus,
O amarelecimento do papírus
E a miséria anatômica da ruga!
Na existência social, possuo uma arma
- O metafisicismo de Abidarma -
E trago, sem bramânicas tesouras,
Como um dorso de azêmola passiva,
A solidariedade subjetiva
De todas as espécies sofredoras.
Com um pouco de saliva quotidiana
Mostro meu nojo à Natureza Humana.
A podridão me serve de Evangelho...
Amo o esterco, os resíduos ruins dos quiosques
E o animal inferior que urra nos bosques
É com certeza meu irmão mais velho!
Tal qual quem para o próprio túmulo olha,
Amarguradamente se me antolha,
À luz do americano plenilúnio,
Na alma crepuscular de minha raça
Como uma vocação para a Desgraça
E um tropismo ancestral para o Infortúnio.
Aí vem sujo, a coçar chagas plebéias,
Trazendo no deserto das idéias
O desespero endêmico do inferno,
Com a cara hirta, tatuada de fuligens
Esse mineiro doido das origens,
Que se chama o Filósofo Moderno!
Quis compreender, quebrando estéreis normas,
A vida fenomênica das Formas,
Que, iguais a fogos passageiros, luzem...
E apenas encontrou na idéia gasta,
O horror dessa mecânica nefasta,
A que todas as coisas se reduzem!
E hão de achá-lo, amanhã, bestas agrestes,
Sobre a esteira sarcófaga das pestes
A mostrar, já nos últimos momentos,
Como quem se submete a uma charqueada,
Ao clarão tropical da luza danada,
O espólio dos seus dedos peçonhentos.
Tal a finalidade dos estames!
Mas ele viverá, rotos os liames
Dessa estranguladora lei que aperta
Todos os agregados perecíveis,
Nas esterizações indefiníveis
Da energia intra-atômica liberta!
Será calor, causa ubíqua de gozo,
Raio X, magnetismo misterioso,
Quimiotaxia, ondulação aérea,
Fonte de repulsões e de prazeres,
Sonoridade potencial dos seres,
Estrangulada dentro da matéria!
E o que ele foi: Clavículas, abdômen,
O coração, a boca, em síntese, o Homem,
- Engrenagem de vísceras vulgares -
Os dedos carregados de peçonha,
Tudo coube na lógica medonha
Dos apodrecimentos musculares!
A desarrumação dos intestinos
Assombra! Vede-a! Os vermes assassinos
Dentro daquela massa que o húmus come,
Numa glutoneria hedionda, brincam,
Como as cadelas que as dentuças trincam
No espasmo fisiológico da fome.
É uma trágica festa emocionante!
A bacteriologia inventariante
Toma conta do corpo que apodrece...
E até os membros da família engulham,
Vendo as larvas malignas que se embrulham
No cadáver malsão, fazendo um s.
E foi então para isto que esse doudo
Estragou o vibrátil plasma todo,
À herança miserável de micróbios!
Estoutro agora é o sátiro peralta
Que o sensualismo sodomista exalta,
Nutrindo sua infâmia a leite e a trigo...
Como que, em suas células vilíssimas,
Há estratificações requintadíssimas,
De uma animalidade sem castigo.
Brancas bacantes bêbedas o beijam.
Suas artérias hírcicas latejam,
Sentindo o odor das carnações abstêmias,
E à noite, vai gozar, ébrio de vício,
No sombrio bazar do meretrício,
O cuspo afrodisíaco das fêmeas.
No horror de sua anômala nevrose,
Toda a sensualidade da simbiose,
Uivando, à noite, em lúbricos arroubos,
Como no babilônico sansara,
Lembra a fome incoercível que escancara
A mucosa carnívora dos lobos.
Sôfrego, o monstro as vítimas aguarda.
Negra paixão congênita, bastarda,
Do seu zooplasma ofídico resulta...
E explode, igual à luz que o ar acomete,
Com a veemência mavórtica do aríete
E os arremessos de uma catapulta.
Mas muitas vezes, quando a noite avança,
Hirto, observa através a tênue trança
Dos filamentos fluídicos de um halo
A destra descarnada de um duende,
Que, tateando nas tênebras, se estende
Dentro da noite má, para agarrá-lo!
Cresce-lhe a intracefálica tortura,
E de su’alma na caverna escura,
Fazendo ultra-epiléticos esforços,
Acorda, com os candeeiros apagados,
Numa coreografia de danados,
A família alarmada dos remorsos.
É o despertar de um povo subterrâneo!
É a fauna cavernícola do crânio -
Macbeths da patológica vigília,
Mostrando, em rembrandtescas telas várias,
As incestuosidades sanguinárias
Que ele tem praticado na família.
As alucinações tácteis pululam.
Sente que megatérios o estrangulam...
A asa negra das moscas o horroriza;
E autopsiando a amaríssima existência
Encontra um cancro assíduo na consciência
E três manchas de sangue na camisa!
Míngua-se o combustível da lanterna
E a consciência do sátiro se inferna,
Reconhecendo, bêbedo de sono,
Na própria ânsia dionísica do gozo,
Essa necessidade de horroroso,
Que é talvez propriedade do carbono!
Ah! Dentro de toda a alma existe a prova
De que a dor como um dartro se renova,
Quando o prazer barbaramente a ataca...
Assim também, observa a ciência crua,
Dentro da elipse ignívoma da lua
A realidade de uma esfera opaca.
Somente a Arte, esculpindo a humana mágoa,
Abranda as rochas rígidas, torna água
Todo o fogo telúrico profundo
E reduz, sem que, entanto, a desintegre,
À condição de uma planície alegre,
A aspereza orográfica do mundo!
Provo desta maneira ao mundo odiento
Pelas grandes razões do sentimento,
Sem os métodos da abstrusa ciência fria
E os trovões gritadores da dialética,
Que a mais alta expressão da dor estética
Consiste essencialmente na alegria.
Continua o martírio das criaturas:
- O homicídio nas vielas mais escuras,
-O ferido que a hostil gleba atra escarva,
- O último solilóquio dos suicidas
- E eu sinto a dor de todas essas vidas
Em minha vida anônima de larval!"
Disse isto a Sombra.
E, ouvindo estes vocábulos,
Da luz da lua aos pálidos venábulos,
Na ânsia de um nervosíssimo entusiasmo,
Julgava ouvir monótonas corujas,
Executando, entre caveiras sujas,
A orquestra arrepiadora do sarcasmo!
Era a elegia panteísta do Universo,
Na podridão do sangue humano imerso,
Prostituído talvez, em suas bases...
Era a canção da Natureza exausta,
Chorando e rindo na ironia infausta
Da incoerência infernal daquelas frases.
E o turbilhão de tais fonemas acres
Trovejando grandíloquos massacres,
Há de ferir-me as auditivas portas,
Até que minha efêmera cabeça
Reverta à quietação da treva espessa
E à palidez das fotosferas mortas!
Augusto dos Anjos
sexta-feira, julho 11, 2008
O espelho
Esboço de uma nova teoria da alma humana
Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias questões de alta transcendência, sem que a disparidade dos votos trouxesse a menor alteração aos espíritos. A casa ficava no morro de Santa Teresa, a sala era pequena, alumiada a velas, cuja luz fundia-se misteriosamente com o luar que vinha de fora. Entre a cidade, com as suas agitações e aventuras, e o céu, em que as estrelas pestanejavam, através de uma atmosfera límpida e sossegada, estavam os nossos quatro ou cinco investigadores de coisas metafísicas, resolvendo amigavelmente os mais árduos problemas do universo.
Por que quatro ou cinco? Rigorosamente eram quatro os que falavam; mas, além deles, havia na sala um quinto personagem, calado, pensando, cochilando, cuja espórtula no debate não passava de um ou outro resmungo de aprovação. Esse homem tinha a mesma idade dos companheiros, entre quarenta e cinqüenta anos, era provinciano, capitalista, inteligente, não sem instrução, e, ao que parece, astuto e cáustico. Não discutia nunca; e defendia-se da abstenção com um paradoxo, dizendo que a discussão é a forma polida do instinto batalhador, que jaz no homem, como uma herança bestial; e acrescentava que os serafins e os querubins não controvertiam nada, e, aliás, eram a perfeição espiritual e eterna. Como desse esta mesma resposta naquela noite, contestou-lha um dos presentes, e desafiou-o a demonstrar o que dizia, se era capaz. Jacobina (assim se chamava ele) refletiu um instante, e respondeu:
- Pensando bem, talvez o senhor tenha razão.
Vai senão quando, no meio da noite, sucedeu que este casmurro usou da palavra, e não dois ou três minutos, mas trinta ou quarenta. A conversa, em seus meandros, veio a cair na natureza da alma, ponto que dividiu radicalmente os quatro amigos. Cada cabeça, cada sentença; não só o acordo, mas a mesma discussão tornou-se difícil, senão impossível, pela multiplicidade das questões que se deduziram do tronco principal e um pouco, talvez, pela inconsistência dos pareceres. Um dos argumentadores pediu ao Jacobina alguma opinião, - uma conjetura, ao menos.
- Nem conjetura, nem opinião, redargüiu ele; uma ou outra pode dar lugar a dissentimento, e, como sabem, eu não discuto. Mas, se querem ouvir-me calados, posso contar-lhes um caso de minha vida, em que ressalta a mais clara demonstração acerca da matéria de que se trata. Em primeiro lugar, não há uma só alma, há duas...
- Duas?
- Nada menos de duas almas. Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para entro... Espantem-se à vontade, podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. Se me replicarem, acabo o charuto e vou dormir. A alma exterior pode ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto, uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botão de camisa é a alma exterior de uma pessoa; - e assim também a polca, o voltarete, um livro, uma máquina, um par de botas, uma cavatina, um tambor, etc. Está claro que o ofício dessa segunda alma é transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da existência inteira. Shylock, por exemplo. A alma exterior aquele judeu eram os seus ducados; perdê-los equivalia a morrer. "Nunca mais verei o meu ouro, diz ele a Tubal; é um punhal que me enterras no coração." Vejam bem esta frase; a perda dos ducados, alma exterior, era a morte para ele. Agora, é preciso saber que a alma exterior não é sempre a mesma...
- Não?
- Não, senhor; muda de natureza e de estado. Não aludo a certas almas absorventes, como a pátria, com a qual disse o Camões que morria, e o poder, que foi a alma exterior de César e de Cromwell. São almas enérgicas e exclusivas; mas há outras, embora enérgicas, de natureza mudável. Há cavalheiros, por exemplo, cuja alma exterior, nos primeiros anos, foi um chocalho ou um cavalinho de pau, e mais tarde uma provedoria de irmandade, suponhamos. Pela minha parte, conheço uma senhora, - na verdade, gentilíssima, - que muda de alma exterior cinco, seis vezes por ano. Durante a estação lírica é a ópera; cessando a estação, a alma exterior substitui-se por outra: um concerto, um baile do Cassino, a rua do Ouvidor, Petrópolis...
- Perdão; essa senhora quem é?
- Essa senhora é parenta do diabo, e tem o mesmo nome; chama-se Legião... E assim outros mais casos. Eu mesmo tenho experimentado dessas trocas. Não as relato, porque iria longe; restrinjo-me ao episódio de que lhes falei. Um episódio dos meus vinte e cinco anos...
Os quatro companheiros, ansiosos de ouvir o caso prometido, esqueceram a controvérsia. Santa curiosidade! tu não és só a alma da civilização, és também o pomo da concórdia, fruta divina, de outro sabor que não aquele pomo da mitologia. A sala, até há pouco ruidosa de física e metafísica, é agora um mar morto; todos os olhos estão no Jacobina, que conserta a ponta do charuto, recolhendo as memórias. Eis aqui como ele começou a narração:
- Tinha vinte e cinco anos, era pobre, e acabava de ser nomeado alferes da Guarda Nacional. Não imaginam o acontecimento que isto foi em nossa casa. Minha mãe ficou tão orgulhosa! tão contente! Chamava-me o seu alferes. Primos e tios, foi tudo uma alegria sincera e pura. Na vila, note-se bem, houve alguns despeitados; choro e ranger de dentes, como na Escritura; e o motivo não foi outro senão que o posto tinha muitos candidatos e que esses perderam. Suponho também que uma parte do desgosto foi inteiramente gratuita: nasceu da simples distinção. Lembra-me de alguns rapazes, que se davam comigo, e passaram a olhar-me de revés, durante algum tempo. Em compensação, tive muitas pessoas que ficaram satisfeitas com a nomeação; e a prova é que todo o fardamento me foi dado por amigos... Vai então uma das minhas tias, D. Marcolina, viúva do Capitão Peçanha, que morava a muitas léguas da vila, num sítio escuso e solitário, desejou ver-me, e pediu que fosse ter com ela e levasse a farda. Fui, acompanhado de um pajem, que daí a dias tornou à vila, porque a tia Marcolina, apenas me pilhou no sítio, escreveu a minha mãe dizendo que não me soltava antes de um mês, pelo menos. E abraçava-me! Chamava-me também o seu alferes. Achava-me um rapagão bonito. Como era um tanto patusca, chegou a confessar que tinha inveja da moça que houvesse de ser minha mulher. Jurava que em toda a província não havia outro que me pusesse o pé adiante. E sempre alferes; era alferes para cá, alferes para lá, alferes a toda a hora. Eu pedia-lhe que me chamasse Joãozinho, como dantes; e ela abanava a cabeça, bradando que não, que era o "senhor alferes". Um cunhado dela, irmão do finado Peçanha, que ali morava, não me chamava de outra maneira. Era o "senhor alferes", não por gracejo, mas a sério, e à vista dos escravos, que naturalmente foram pelo mesmo caminho. Na mesa tinha eu o melhor lugar, e era o primeiro servido. Não imaginam. Se lhes disser que o entusiasmo da tia Marcolina chegou ao ponto de mandar pôr no meu quarto um grande espelho, obra rica e magnífica, que destoava do resto da casa, cuja mobília era modesta e simples... Era um espelho que lhe dera a madrinha, e que esta herdara da mãe, que o comprara a uma das fidalgas vindas em 1808 com a corte de D. João VI. Não sei o que havia nisso de verdade; era a tradição. O espelho estava naturalmente muito velho; mas via-se-lhe ainda o ouro, comido em parte pelo tempo, uns delfins esculpidos nos ângulos superiores da moldura, uns enfeites de madrepérola e outros caprichos do artista. Tudo velho, mas bom...
- Espelho grande?
- Grande. E foi, como digo, uma enorme fineza, porque o espelho estava na sala; era a melhor peça da casa. Mas não houve forças que a demovessem do propósito; respondia que não fazia falta, que era só por algumas semanas, e finalmente que o "senhor alferes" merecia muito mais. O certo é que todas essas coisas, carinhos, atenções, obséquios, fizeram em mim uma transformação, que o natural sentimento da mocidade ajudou e completou. Imaginam, creio eu?
- Não.
- O alferes eliminou o homem. Durante alguns dias as duas naturezas equilibraram-se; mas não tardou que a primitiva cedesse à outra; ficou-me uma parte mínima de humanidade. Aconteceu então que a alma exterior, que era dantes o sol, o ar, o campo, os olhos das moças, mudou de natureza, e passou a ser a cortesia e os rapapés da casa, tudo o que me falava do posto, nada do que me falava do homem. A única parte do cidadão que ficou comigo foi aquela que entendia com o exercício da patente; a outra dispersou-se no ar e no passado. Custa-lhes acreditar, não?
- Custa-me até entender, respondeu um dos ouvintes.
- Vai entender. Os fatos explicarão melhor os sentimentos: os fatos são tudo. A melhor definição do amor não vale um beijo de moça namorada; e, se bem me lembro, um filósofo antigo demonstrou o movimento andando. Vamos aos fatos. Vamos ver como, ao tempo em que a consciência do homem se obliterava, a do alferes tornava-se viva e intensa. As dores humanas, as alegrias humanas, se eram só isso, mal obtinham de mim uma compaixão apática ou um sorriso de favor. No fim de três semanas, era outro, totalmente outro. Era exclusivamente alferes. Ora, um dia recebeu a tia Marcolina uma notícia grave; uma de suas filhas, casada com um lavrador residente dali a cinco léguas, estava mal e à morte. Adeus, sobrinho! adeus, alferes! Era mãe extremosa, armou logo uma viagem, pediu ao cunhado que fosse com ela, e a mim que tomasse conta do sítio. Creio que, se não fosse a aflição, disporia o contrário; deixaria o cunhado e iria comigo. Mas o certo é que fiquei só, com os poucos escravos da casa. Confesso-lhes que desde logo senti uma grande opressão, alguma coisa semelhante ao efeito de quatro paredes de um cárcere, subitamente levantadas em torno de mim. Era a alma exterior que se reduzia; estava agora limitada a alguns espíritos boçais. O alferes continuava a dominar em mim, embora a vida fosse menos intensa, e a consciência mais débil. Os escravos punham uma nota de humildade nas suas cortesias, que de certa maneira compensava a afeição dos parentes e a intimidade doméstica interrompida. Notei mesmo, naquela noite, que eles redobravam de respeito, de alegria, de protestos. Nhô alferes, de minuto a minuto; nhô alferes é muito bonito; nhô alferes há de ser coronel; nhô alferes há de casar com moça bonita, filha de general; um concerto de louvores e profecias, que me deixou extático. Ah ! pérfidos! mal podia eu suspeitar a intenção secreta dos malvados.
- Matá-lo?
- Antes assim fosse.
- Coisa pior?
- Ouçam-me. Na manhã seguinte achei-me só. Os velhacos, seduzidos por outros, ou de movimento próprio, tinham resolvido fugir durante a noite; e assim fizeram. Achei-me só, sem mais ninguém, entre quatro paredes, diante do terreiro deserto e da roça abandonada. Nenhum fôlego humano. Corri a casa toda, a senzala, tudo; ninguém, um molequinho que fosse. Galos e galinhas tão-somente, um par de mulas, que filosofavam a vida, sacudindo as moscas, e três bois. Os mesmos cães foram levados pelos escravos. Nenhum ente humano. Parece-lhes que isto era melhor do que ter morrido? era pior. Não por medo; juro-lhes que não tinha medo; era um pouco atrevidinho, tanto que não senti nada, durante as primeiras horas. Fiquei triste por causa do dano causado à tia Marcolina; fiquei também um pouco perplexo, não sabendo se devia ir ter com ela, para lhe dar a triste notícia, ou ficar tomando conta da casa. Adotei o segundo alvitre, para não desamparar a casa, e porque, se a minha prima enferma estava mal, eu ia somente aumentar a dor da mãe, sem remédio nenhum; finalmente, esperei que o irmão do tio Peçanha voltasse naquele dia ou no outro, visto que tinha saído havia já trinta e seis horas. Mas a manhã passou sem vestígio dele; à tarde comecei a sentir a sensação como de pessoa que houvesse perdido toda a ação nervosa, e não tivesse consciência da ação muscular. O irmão do tio Peçanha não voltou nesse dia, nem no outro, nem em toda aquela semana. Minha solidão tomou proporções enormes. Nunca os dias foram mais compridos, nunca o sol abrasou a terra com uma obstinação mais cansativa. As horas batiam de século a século no velho relógio da sala, cuja pêndula tic-tac, tic-tac, feria-me a alma interior, como um piparote contínuo da eternidade. Quando, muitos anos depois, li uma poesia americana, creio que de Longfellow, e topei este famoso estribilho: Never, for ever! - For ever, never! confesso-lhes que tive um calafrio: recordei-me daqueles dias medonhos. Era justamente assim que fazia o relógio da tia Marcolina: - Never, for ever!- For ever, never! Não eram golpes de pêndula, era um diálogo do abismo, um cochicho do nada. E então de noite! Não que a noite fosse mais silenciosa. O silêncio era o mesmo que de dia. Mas a noite era a sombra, era a solidão ainda mais estreita, ou mais larga. Tic-tac, tic-tac. Ninguém, nas salas, na varanda, nos corredores, no terreiro, ninguém em parte nenhuma... Riem-se?
- Sim, parece que tinha um pouco de medo.
- Oh! fora bom se eu pudesse ter medo! Viveria. Mas o característico daquela situação é que eu nem sequer podia ter medo, isto é, o medo vulgarmente entendido. Tinha uma sensação inexplicável. Era como um defunto andando, um sonâmbulo, um boneco mecânico. Dormindo, era outra coisa. O sono dava-me alívio, não pela razão comum de ser irmão da morte, mas por outra. Acho que posso explicar assim esse fenômeno: - o sono, eliminando a necessidade de uma alma exterior, deixava atuar a alma interior. Nos sonhos, fardava-me orgulhosamente, no meio da família e dos amigos, que me elogiavam o garbo, que me chamavam alferes; vinha um amigo de nossa casa, e prometia-me o posto de tenente, outro o de capitão ou major; e tudo isso fazia-me viver. Mas quando acordava, dia claro, esvaía-se com o sono a consciência do meu ser novo e único -porque a alma interior perdia a ação exclusiva, e ficava dependente da outra, que teimava em não tornar... Não tornava. Eu saía fora, a um lado e outro, a ver se descobria algum sinal de regresso. Soeur Anne, soeur Anne, ne vois-tu rien venir? Nada, coisa nenhuma; tal qual como na lenda francesa. Nada mais do que a poeira da estrada e o capinzal dos morros. Voltava para casa, nervoso, desesperado, estirava-me no canapé da sala. Tic-tac, tic-tac. Levantava-me, passeava, tamborilava nos vidros das janelas, assobiava. Em certa ocasião lembrei-me de escrever alguma coisa, um artigo político, um romance, uma ode; não escolhi nada definitivamente; sentei-me e tracei no papel algumas palavras e frases soltas, para intercalar no estilo. Mas o estilo, como tia Marcolina, deixava-se estar. Soeur Anne, soeur Anne... Coisa nenhuma. Quando muito via negrejar a tinta e alvejar o papel.
- Mas não comia?
- Comia mal, frutas, farinha, conservas, algumas raízes tostadas ao fogo, mas suportaria tudo alegremente, se não fora a terrível situação moral em que me achava. Recitava versos, discursos, trechos latinos, liras de Gonzaga, oitavas de Camões, décimas, uma antologia em trinta volumes. As vezes fazia ginástica; outra dava beliscões nas pernas; mas o efeito era só uma sensação física de dor ou de cansaço, e mais nada. Tudo silêncio, um silêncio vasto, enorme, infinito, apenas sublinhado pelo eterno tic-tac da pêndula. Tic-tac, tic-tac...
- Na verdade, era de enlouquecer.
- Vão ouvir coisa pior. Convém dizer-lhes que, desde que ficara só, não olhara uma só vez para o espelho. Não era abstenção deliberada, não tinha motivo; era um impulso inconsciente, um receio de achar-me um e dois, ao mesmo tempo, naquela casa solitária; e se tal explicação é verdadeira, nada prova melhor a contradição humana, porque no fim de oito dias deu-me na veneta de olhar para o espelho com o fim justamente de achar-me dois. Olhei e recuei. O próprio vidro parecia conjurado com o resto do universo; não me estampou a figura nítida e inteira, mas vaga, esfumada, difusa, sombra de sombra. A realidade das leis físicas não permite negar que o espelho reproduziu-me textualmente, com os mesmos contornos e feições; assim devia ter sido. Mas tal não foi a minha sensação. Então tive medo; atribuí o fenômeno à excitação nervosa em que andava; receei ficar mais tempo, e enlouquecer. - Vou-me embora, disse comigo. E levantei o braço com gesto de mau humor, e ao mesmo tempo de decisão, olhando para o vidro; o gesto lá estava, mas disperso, esgaçado, mutilado... Entrei a vestir-me, murmurando comigo, tossindo sem tosse, sacudindo a roupa com estrépito, afligindo-me a frio com os botões, para dizer alguma coisa. De quando em quando, olhava furtivamente para o espelho; a imagem era a mesma difusão de linhas, a mesma decomposição de contornos... Continuei a vestir-me. Subitamente por uma inspiração inexplicável, por um impulso sem cálculo, lembrou-me... Se forem capazes de adivinhar qual foi a minha idéia...
- Diga.
- Estava a olhar para o vidro, com uma persistência de desesperado, contemplando as próprias feições derramadas e inacabadas, uma nuvem de linhas soltas, informes, quando tive o pensamento... Não, não são capazes de adivinhar.
- Mas, diga, diga.
- Lembrou-me vestir a farda de alferes. Vesti-a, aprontei-me de todo; e, como estava defronte do espelho, levantei os olhos, e...não lhes digo nada; o vidro reproduziu então a figura integral; nenhuma linha de menos, nenhum contorno diverso; era eu mesmo, o alferes, que achava, enfim, a alma exterior. Essa alma ausente com a dona do sítio, dispersa e fugida com os escravos, ei-la recolhida no espelho. Imaginai um homem que, pouco a pouco, emerge de um letargo, abre os olhos sem ver, depois começa a ver, distingue as pessoas dos objetos, mas não conhece individualmente uns nem outros; enfim, sabe que este é Fulano, aquele é Sicrano; aqui está uma cadeira, ali um sofá. Tudo volta ao que era antes do sono. Assim foi comigo. Olhava para o espelho, ia de um lado para outro, recuava, gesticulava, sorria e o vidro exprimia tudo. Não era mais um autômato, era um ente animado. Daí em diante, fui outro. Cada dia, a uma certa hora, vestia-me de alferes, e sentava-me diante do espelho, lendo olhando, meditando; no fim de duas, três horas, despia-me outra vez. Com este regime pude atravessar mais seis dias de solidão sem os sentir...
Quando os outros voltaram a si, o narrador tinha descido as escadas.
Machado de Assis, Papéis Avulsos
Quatro ou cinco cavalheiros debatiam, uma noite, várias questões de alta transcendência, sem que a disparidade dos votos trouxesse a menor alteração aos espíritos. A casa ficava no morro de Santa Teresa, a sala era pequena, alumiada a velas, cuja luz fundia-se misteriosamente com o luar que vinha de fora. Entre a cidade, com as suas agitações e aventuras, e o céu, em que as estrelas pestanejavam, através de uma atmosfera límpida e sossegada, estavam os nossos quatro ou cinco investigadores de coisas metafísicas, resolvendo amigavelmente os mais árduos problemas do universo.
Por que quatro ou cinco? Rigorosamente eram quatro os que falavam; mas, além deles, havia na sala um quinto personagem, calado, pensando, cochilando, cuja espórtula no debate não passava de um ou outro resmungo de aprovação. Esse homem tinha a mesma idade dos companheiros, entre quarenta e cinqüenta anos, era provinciano, capitalista, inteligente, não sem instrução, e, ao que parece, astuto e cáustico. Não discutia nunca; e defendia-se da abstenção com um paradoxo, dizendo que a discussão é a forma polida do instinto batalhador, que jaz no homem, como uma herança bestial; e acrescentava que os serafins e os querubins não controvertiam nada, e, aliás, eram a perfeição espiritual e eterna. Como desse esta mesma resposta naquela noite, contestou-lha um dos presentes, e desafiou-o a demonstrar o que dizia, se era capaz. Jacobina (assim se chamava ele) refletiu um instante, e respondeu:
- Pensando bem, talvez o senhor tenha razão.
Vai senão quando, no meio da noite, sucedeu que este casmurro usou da palavra, e não dois ou três minutos, mas trinta ou quarenta. A conversa, em seus meandros, veio a cair na natureza da alma, ponto que dividiu radicalmente os quatro amigos. Cada cabeça, cada sentença; não só o acordo, mas a mesma discussão tornou-se difícil, senão impossível, pela multiplicidade das questões que se deduziram do tronco principal e um pouco, talvez, pela inconsistência dos pareceres. Um dos argumentadores pediu ao Jacobina alguma opinião, - uma conjetura, ao menos.
- Nem conjetura, nem opinião, redargüiu ele; uma ou outra pode dar lugar a dissentimento, e, como sabem, eu não discuto. Mas, se querem ouvir-me calados, posso contar-lhes um caso de minha vida, em que ressalta a mais clara demonstração acerca da matéria de que se trata. Em primeiro lugar, não há uma só alma, há duas...
- Duas?
- Nada menos de duas almas. Cada criatura humana traz duas almas consigo: uma que olha de dentro para fora, outra que olha de fora para entro... Espantem-se à vontade, podem ficar de boca aberta, dar de ombros, tudo; não admito réplica. Se me replicarem, acabo o charuto e vou dormir. A alma exterior pode ser um espírito, um fluido, um homem, muitos homens, um objeto, uma operação. Há casos, por exemplo, em que um simples botão de camisa é a alma exterior de uma pessoa; - e assim também a polca, o voltarete, um livro, uma máquina, um par de botas, uma cavatina, um tambor, etc. Está claro que o ofício dessa segunda alma é transmitir a vida, como a primeira; as duas completam o homem, que é, metafisicamente falando, uma laranja. Quem perde uma das metades, perde naturalmente metade da existência; e casos há, não raros, em que a perda da alma exterior implica a da existência inteira. Shylock, por exemplo. A alma exterior aquele judeu eram os seus ducados; perdê-los equivalia a morrer. "Nunca mais verei o meu ouro, diz ele a Tubal; é um punhal que me enterras no coração." Vejam bem esta frase; a perda dos ducados, alma exterior, era a morte para ele. Agora, é preciso saber que a alma exterior não é sempre a mesma...
- Não?
- Não, senhor; muda de natureza e de estado. Não aludo a certas almas absorventes, como a pátria, com a qual disse o Camões que morria, e o poder, que foi a alma exterior de César e de Cromwell. São almas enérgicas e exclusivas; mas há outras, embora enérgicas, de natureza mudável. Há cavalheiros, por exemplo, cuja alma exterior, nos primeiros anos, foi um chocalho ou um cavalinho de pau, e mais tarde uma provedoria de irmandade, suponhamos. Pela minha parte, conheço uma senhora, - na verdade, gentilíssima, - que muda de alma exterior cinco, seis vezes por ano. Durante a estação lírica é a ópera; cessando a estação, a alma exterior substitui-se por outra: um concerto, um baile do Cassino, a rua do Ouvidor, Petrópolis...
- Perdão; essa senhora quem é?
- Essa senhora é parenta do diabo, e tem o mesmo nome; chama-se Legião... E assim outros mais casos. Eu mesmo tenho experimentado dessas trocas. Não as relato, porque iria longe; restrinjo-me ao episódio de que lhes falei. Um episódio dos meus vinte e cinco anos...
Os quatro companheiros, ansiosos de ouvir o caso prometido, esqueceram a controvérsia. Santa curiosidade! tu não és só a alma da civilização, és também o pomo da concórdia, fruta divina, de outro sabor que não aquele pomo da mitologia. A sala, até há pouco ruidosa de física e metafísica, é agora um mar morto; todos os olhos estão no Jacobina, que conserta a ponta do charuto, recolhendo as memórias. Eis aqui como ele começou a narração:
- Tinha vinte e cinco anos, era pobre, e acabava de ser nomeado alferes da Guarda Nacional. Não imaginam o acontecimento que isto foi em nossa casa. Minha mãe ficou tão orgulhosa! tão contente! Chamava-me o seu alferes. Primos e tios, foi tudo uma alegria sincera e pura. Na vila, note-se bem, houve alguns despeitados; choro e ranger de dentes, como na Escritura; e o motivo não foi outro senão que o posto tinha muitos candidatos e que esses perderam. Suponho também que uma parte do desgosto foi inteiramente gratuita: nasceu da simples distinção. Lembra-me de alguns rapazes, que se davam comigo, e passaram a olhar-me de revés, durante algum tempo. Em compensação, tive muitas pessoas que ficaram satisfeitas com a nomeação; e a prova é que todo o fardamento me foi dado por amigos... Vai então uma das minhas tias, D. Marcolina, viúva do Capitão Peçanha, que morava a muitas léguas da vila, num sítio escuso e solitário, desejou ver-me, e pediu que fosse ter com ela e levasse a farda. Fui, acompanhado de um pajem, que daí a dias tornou à vila, porque a tia Marcolina, apenas me pilhou no sítio, escreveu a minha mãe dizendo que não me soltava antes de um mês, pelo menos. E abraçava-me! Chamava-me também o seu alferes. Achava-me um rapagão bonito. Como era um tanto patusca, chegou a confessar que tinha inveja da moça que houvesse de ser minha mulher. Jurava que em toda a província não havia outro que me pusesse o pé adiante. E sempre alferes; era alferes para cá, alferes para lá, alferes a toda a hora. Eu pedia-lhe que me chamasse Joãozinho, como dantes; e ela abanava a cabeça, bradando que não, que era o "senhor alferes". Um cunhado dela, irmão do finado Peçanha, que ali morava, não me chamava de outra maneira. Era o "senhor alferes", não por gracejo, mas a sério, e à vista dos escravos, que naturalmente foram pelo mesmo caminho. Na mesa tinha eu o melhor lugar, e era o primeiro servido. Não imaginam. Se lhes disser que o entusiasmo da tia Marcolina chegou ao ponto de mandar pôr no meu quarto um grande espelho, obra rica e magnífica, que destoava do resto da casa, cuja mobília era modesta e simples... Era um espelho que lhe dera a madrinha, e que esta herdara da mãe, que o comprara a uma das fidalgas vindas em 1808 com a corte de D. João VI. Não sei o que havia nisso de verdade; era a tradição. O espelho estava naturalmente muito velho; mas via-se-lhe ainda o ouro, comido em parte pelo tempo, uns delfins esculpidos nos ângulos superiores da moldura, uns enfeites de madrepérola e outros caprichos do artista. Tudo velho, mas bom...
- Espelho grande?
- Grande. E foi, como digo, uma enorme fineza, porque o espelho estava na sala; era a melhor peça da casa. Mas não houve forças que a demovessem do propósito; respondia que não fazia falta, que era só por algumas semanas, e finalmente que o "senhor alferes" merecia muito mais. O certo é que todas essas coisas, carinhos, atenções, obséquios, fizeram em mim uma transformação, que o natural sentimento da mocidade ajudou e completou. Imaginam, creio eu?
- Não.
- O alferes eliminou o homem. Durante alguns dias as duas naturezas equilibraram-se; mas não tardou que a primitiva cedesse à outra; ficou-me uma parte mínima de humanidade. Aconteceu então que a alma exterior, que era dantes o sol, o ar, o campo, os olhos das moças, mudou de natureza, e passou a ser a cortesia e os rapapés da casa, tudo o que me falava do posto, nada do que me falava do homem. A única parte do cidadão que ficou comigo foi aquela que entendia com o exercício da patente; a outra dispersou-se no ar e no passado. Custa-lhes acreditar, não?
- Custa-me até entender, respondeu um dos ouvintes.
- Vai entender. Os fatos explicarão melhor os sentimentos: os fatos são tudo. A melhor definição do amor não vale um beijo de moça namorada; e, se bem me lembro, um filósofo antigo demonstrou o movimento andando. Vamos aos fatos. Vamos ver como, ao tempo em que a consciência do homem se obliterava, a do alferes tornava-se viva e intensa. As dores humanas, as alegrias humanas, se eram só isso, mal obtinham de mim uma compaixão apática ou um sorriso de favor. No fim de três semanas, era outro, totalmente outro. Era exclusivamente alferes. Ora, um dia recebeu a tia Marcolina uma notícia grave; uma de suas filhas, casada com um lavrador residente dali a cinco léguas, estava mal e à morte. Adeus, sobrinho! adeus, alferes! Era mãe extremosa, armou logo uma viagem, pediu ao cunhado que fosse com ela, e a mim que tomasse conta do sítio. Creio que, se não fosse a aflição, disporia o contrário; deixaria o cunhado e iria comigo. Mas o certo é que fiquei só, com os poucos escravos da casa. Confesso-lhes que desde logo senti uma grande opressão, alguma coisa semelhante ao efeito de quatro paredes de um cárcere, subitamente levantadas em torno de mim. Era a alma exterior que se reduzia; estava agora limitada a alguns espíritos boçais. O alferes continuava a dominar em mim, embora a vida fosse menos intensa, e a consciência mais débil. Os escravos punham uma nota de humildade nas suas cortesias, que de certa maneira compensava a afeição dos parentes e a intimidade doméstica interrompida. Notei mesmo, naquela noite, que eles redobravam de respeito, de alegria, de protestos. Nhô alferes, de minuto a minuto; nhô alferes é muito bonito; nhô alferes há de ser coronel; nhô alferes há de casar com moça bonita, filha de general; um concerto de louvores e profecias, que me deixou extático. Ah ! pérfidos! mal podia eu suspeitar a intenção secreta dos malvados.
- Matá-lo?
- Antes assim fosse.
- Coisa pior?
- Ouçam-me. Na manhã seguinte achei-me só. Os velhacos, seduzidos por outros, ou de movimento próprio, tinham resolvido fugir durante a noite; e assim fizeram. Achei-me só, sem mais ninguém, entre quatro paredes, diante do terreiro deserto e da roça abandonada. Nenhum fôlego humano. Corri a casa toda, a senzala, tudo; ninguém, um molequinho que fosse. Galos e galinhas tão-somente, um par de mulas, que filosofavam a vida, sacudindo as moscas, e três bois. Os mesmos cães foram levados pelos escravos. Nenhum ente humano. Parece-lhes que isto era melhor do que ter morrido? era pior. Não por medo; juro-lhes que não tinha medo; era um pouco atrevidinho, tanto que não senti nada, durante as primeiras horas. Fiquei triste por causa do dano causado à tia Marcolina; fiquei também um pouco perplexo, não sabendo se devia ir ter com ela, para lhe dar a triste notícia, ou ficar tomando conta da casa. Adotei o segundo alvitre, para não desamparar a casa, e porque, se a minha prima enferma estava mal, eu ia somente aumentar a dor da mãe, sem remédio nenhum; finalmente, esperei que o irmão do tio Peçanha voltasse naquele dia ou no outro, visto que tinha saído havia já trinta e seis horas. Mas a manhã passou sem vestígio dele; à tarde comecei a sentir a sensação como de pessoa que houvesse perdido toda a ação nervosa, e não tivesse consciência da ação muscular. O irmão do tio Peçanha não voltou nesse dia, nem no outro, nem em toda aquela semana. Minha solidão tomou proporções enormes. Nunca os dias foram mais compridos, nunca o sol abrasou a terra com uma obstinação mais cansativa. As horas batiam de século a século no velho relógio da sala, cuja pêndula tic-tac, tic-tac, feria-me a alma interior, como um piparote contínuo da eternidade. Quando, muitos anos depois, li uma poesia americana, creio que de Longfellow, e topei este famoso estribilho: Never, for ever! - For ever, never! confesso-lhes que tive um calafrio: recordei-me daqueles dias medonhos. Era justamente assim que fazia o relógio da tia Marcolina: - Never, for ever!- For ever, never! Não eram golpes de pêndula, era um diálogo do abismo, um cochicho do nada. E então de noite! Não que a noite fosse mais silenciosa. O silêncio era o mesmo que de dia. Mas a noite era a sombra, era a solidão ainda mais estreita, ou mais larga. Tic-tac, tic-tac. Ninguém, nas salas, na varanda, nos corredores, no terreiro, ninguém em parte nenhuma... Riem-se?
- Sim, parece que tinha um pouco de medo.
- Oh! fora bom se eu pudesse ter medo! Viveria. Mas o característico daquela situação é que eu nem sequer podia ter medo, isto é, o medo vulgarmente entendido. Tinha uma sensação inexplicável. Era como um defunto andando, um sonâmbulo, um boneco mecânico. Dormindo, era outra coisa. O sono dava-me alívio, não pela razão comum de ser irmão da morte, mas por outra. Acho que posso explicar assim esse fenômeno: - o sono, eliminando a necessidade de uma alma exterior, deixava atuar a alma interior. Nos sonhos, fardava-me orgulhosamente, no meio da família e dos amigos, que me elogiavam o garbo, que me chamavam alferes; vinha um amigo de nossa casa, e prometia-me o posto de tenente, outro o de capitão ou major; e tudo isso fazia-me viver. Mas quando acordava, dia claro, esvaía-se com o sono a consciência do meu ser novo e único -porque a alma interior perdia a ação exclusiva, e ficava dependente da outra, que teimava em não tornar... Não tornava. Eu saía fora, a um lado e outro, a ver se descobria algum sinal de regresso. Soeur Anne, soeur Anne, ne vois-tu rien venir? Nada, coisa nenhuma; tal qual como na lenda francesa. Nada mais do que a poeira da estrada e o capinzal dos morros. Voltava para casa, nervoso, desesperado, estirava-me no canapé da sala. Tic-tac, tic-tac. Levantava-me, passeava, tamborilava nos vidros das janelas, assobiava. Em certa ocasião lembrei-me de escrever alguma coisa, um artigo político, um romance, uma ode; não escolhi nada definitivamente; sentei-me e tracei no papel algumas palavras e frases soltas, para intercalar no estilo. Mas o estilo, como tia Marcolina, deixava-se estar. Soeur Anne, soeur Anne... Coisa nenhuma. Quando muito via negrejar a tinta e alvejar o papel.
- Mas não comia?
- Comia mal, frutas, farinha, conservas, algumas raízes tostadas ao fogo, mas suportaria tudo alegremente, se não fora a terrível situação moral em que me achava. Recitava versos, discursos, trechos latinos, liras de Gonzaga, oitavas de Camões, décimas, uma antologia em trinta volumes. As vezes fazia ginástica; outra dava beliscões nas pernas; mas o efeito era só uma sensação física de dor ou de cansaço, e mais nada. Tudo silêncio, um silêncio vasto, enorme, infinito, apenas sublinhado pelo eterno tic-tac da pêndula. Tic-tac, tic-tac...
- Na verdade, era de enlouquecer.
- Vão ouvir coisa pior. Convém dizer-lhes que, desde que ficara só, não olhara uma só vez para o espelho. Não era abstenção deliberada, não tinha motivo; era um impulso inconsciente, um receio de achar-me um e dois, ao mesmo tempo, naquela casa solitária; e se tal explicação é verdadeira, nada prova melhor a contradição humana, porque no fim de oito dias deu-me na veneta de olhar para o espelho com o fim justamente de achar-me dois. Olhei e recuei. O próprio vidro parecia conjurado com o resto do universo; não me estampou a figura nítida e inteira, mas vaga, esfumada, difusa, sombra de sombra. A realidade das leis físicas não permite negar que o espelho reproduziu-me textualmente, com os mesmos contornos e feições; assim devia ter sido. Mas tal não foi a minha sensação. Então tive medo; atribuí o fenômeno à excitação nervosa em que andava; receei ficar mais tempo, e enlouquecer. - Vou-me embora, disse comigo. E levantei o braço com gesto de mau humor, e ao mesmo tempo de decisão, olhando para o vidro; o gesto lá estava, mas disperso, esgaçado, mutilado... Entrei a vestir-me, murmurando comigo, tossindo sem tosse, sacudindo a roupa com estrépito, afligindo-me a frio com os botões, para dizer alguma coisa. De quando em quando, olhava furtivamente para o espelho; a imagem era a mesma difusão de linhas, a mesma decomposição de contornos... Continuei a vestir-me. Subitamente por uma inspiração inexplicável, por um impulso sem cálculo, lembrou-me... Se forem capazes de adivinhar qual foi a minha idéia...
- Diga.
- Estava a olhar para o vidro, com uma persistência de desesperado, contemplando as próprias feições derramadas e inacabadas, uma nuvem de linhas soltas, informes, quando tive o pensamento... Não, não são capazes de adivinhar.
- Mas, diga, diga.
- Lembrou-me vestir a farda de alferes. Vesti-a, aprontei-me de todo; e, como estava defronte do espelho, levantei os olhos, e...não lhes digo nada; o vidro reproduziu então a figura integral; nenhuma linha de menos, nenhum contorno diverso; era eu mesmo, o alferes, que achava, enfim, a alma exterior. Essa alma ausente com a dona do sítio, dispersa e fugida com os escravos, ei-la recolhida no espelho. Imaginai um homem que, pouco a pouco, emerge de um letargo, abre os olhos sem ver, depois começa a ver, distingue as pessoas dos objetos, mas não conhece individualmente uns nem outros; enfim, sabe que este é Fulano, aquele é Sicrano; aqui está uma cadeira, ali um sofá. Tudo volta ao que era antes do sono. Assim foi comigo. Olhava para o espelho, ia de um lado para outro, recuava, gesticulava, sorria e o vidro exprimia tudo. Não era mais um autômato, era um ente animado. Daí em diante, fui outro. Cada dia, a uma certa hora, vestia-me de alferes, e sentava-me diante do espelho, lendo olhando, meditando; no fim de duas, três horas, despia-me outra vez. Com este regime pude atravessar mais seis dias de solidão sem os sentir...
Quando os outros voltaram a si, o narrador tinha descido as escadas.
Machado de Assis, Papéis Avulsos
sexta-feira, junho 27, 2008
Viagem de metade
Tampouco pesam meus 25 anos,
quisera abrasar-me casuística, em virtudes
quantas...
agora tenho meu próprio soro ofídio,
livro-me dos perigos que passaram, e fugitiva,
ainda em sonhos.
De tudo que se viveu,
doenças vaginais
desvarios, espasmos
quantos... múltiplos.
amores liberais
paternais
Passou
Escreverei o fim do meu romance?
a vida de todos os dias mostra-me
com ares duvidosos
ora sim ora não pendularmente
e nem porque sim
e porque não
Indiferença
Fatalismo
Fui rajá numa noite de orgia
ergui um templo hedonista
discuti com viciosos
GRANDES
pequenos
com a alma aleijada, ah! tantas almas,
provei todas.
Em montes mouros
visitei castelos
escoei na lama de alguns pantânos,
onde lagos apareciam-me,
ali, vi lírios rindo para o céu. Meu céu...
Céu, este melancólico que antes pintei,
cinza em meu mais frio inverno
ibérico e alto que vi.
Diarréia
Loucura
Cigarrets, em Porto de Banús,
madrugada sem amor,
paisagem orgasmo transcendente,
sem espelhos...
Ausente
Ao crucificar a imanência,
encontrei
Ressurreição
Morte,
Ressurreição...
Enfim
agora, numa escalada, bestializar-me, lançar-me...
Lembro doloridamente de minhas teorias escapistas, que
permanecem nas malas, prontas...sempre prontas
Iluminadas pela razão, quase catequizada,
de braços abertos ao mundo, para a cidade
barroco-pobre,
em ruelas escuras
imaginando como foi o antes, de mim,
o centro
enfim.
Quero ver meu mundo
displicente
despenhar. .
junto aos meus pássaros alvos
meus voôs contraditórios, e na voz de um
minha busca por aventura, e no
fim
achegar-me ao demônio intelectual das lendas germânicas,
The Lunatic, eu, e eu, e mais, sempre eu,
ocupando espaços vagos duma narrativa, não menos
penosa, muito mais
romântica
foi assim que a fiz,
na tradução da metade, de agora.
quisera abrasar-me casuística, em virtudes
quantas...
agora tenho meu próprio soro ofídio,
livro-me dos perigos que passaram, e fugitiva,
ainda em sonhos.
De tudo que se viveu,
doenças vaginais
desvarios, espasmos
quantos... múltiplos.
amores liberais
paternais
Passou
Escreverei o fim do meu romance?
a vida de todos os dias mostra-me
com ares duvidosos
ora sim ora não pendularmente
e nem porque sim
e porque não
Indiferença
Fatalismo
Fui rajá numa noite de orgia
ergui um templo hedonista
discuti com viciosos
GRANDES
pequenos
com a alma aleijada, ah! tantas almas,
provei todas.
Em montes mouros
visitei castelos
escoei na lama de alguns pantânos,
onde lagos apareciam-me,
ali, vi lírios rindo para o céu. Meu céu...
Céu, este melancólico que antes pintei,
cinza em meu mais frio inverno
ibérico e alto que vi.
Diarréia
Loucura
Cigarrets, em Porto de Banús,
madrugada sem amor,
paisagem orgasmo transcendente,
sem espelhos...
Ausente
Ao crucificar a imanência,
encontrei
Ressurreição
Morte,
Ressurreição...
Enfim
agora, numa escalada, bestializar-me, lançar-me...
Lembro doloridamente de minhas teorias escapistas, que
permanecem nas malas, prontas...sempre prontas
Iluminadas pela razão, quase catequizada,
de braços abertos ao mundo, para a cidade
barroco-pobre,
em ruelas escuras
imaginando como foi o antes, de mim,
o centro
enfim.
Quero ver meu mundo
displicente
despenhar. .
junto aos meus pássaros alvos
meus voôs contraditórios, e na voz de um
minha busca por aventura, e no
fim
achegar-me ao demônio intelectual das lendas germânicas,
The Lunatic, eu, e eu, e mais, sempre eu,
ocupando espaços vagos duma narrativa, não menos
penosa, muito mais
romântica
foi assim que a fiz,
na tradução da metade, de agora.
domingo, junho 22, 2008
Espasmos pré-ação
Agora além da minha narrativa,
posso começar pela Idade Média e chegar engatinhando
na República...
com tanta coisa morta decorada,
em pauta a preparação se faz necessária
obviamente antes da ação...ah, que novidade...
eu tenho um raciocínio??
mas é claro...
precisava sair, os métodos já estão escassos,
a primeira fase foi loucura,
a segunda é a minha carta de alforria.
Ais, a cada instante...
As obras, que obras??
eu brinco,
eu só brinco...
Não vou pensar...
alguém tem poesia pra me dar?
Sim!
Torna-te aquilo que és!
posso começar pela Idade Média e chegar engatinhando
na República...
com tanta coisa morta decorada,
em pauta a preparação se faz necessária
obviamente antes da ação...ah, que novidade...
eu tenho um raciocínio??
mas é claro...
precisava sair, os métodos já estão escassos,
a primeira fase foi loucura,
a segunda é a minha carta de alforria.
Ais, a cada instante...
As obras, que obras??
eu brinco,
eu só brinco...
Não vou pensar...
alguém tem poesia pra me dar?
Sim!
Torna-te aquilo que és!
sábado, junho 14, 2008
segunda-feira, junho 09, 2008
domingo, junho 01, 2008
Um imenso prazer em revê-la!
I
Num imenso salto quantitativo,
a ebulição acontece na temperatura que lhe é devido.
Mas o que fizestes com tua memória?
Porque apagastes suas tantas vidas?
Era quando escondida dentro de ti,
à espera de algum momento ocular,
um Ulisses que iria lhe salvar...
Simplesmente medo e, ridicularmente o tempo parou;
e ali tu continuastes...
Cansada deste humor melancólico, desânimo sem alma que não
conseguias decifrar.
Somente implorava que não fosses agredida, e nem por isso deixou
de fazê-lo....
Transforma-se em nada,
nada na lama,
vende-se, aluga-se,
anula-se, perde-se...
Passa dias tentando entender o que realmente lhe fizeram,
e o que fez de ti...
Chama incessantemente por teu nome, um resgate.
Permanece escondida, abraçando os joelhos, protege a face,
tapa-lhe os olhos...
Espera o pesadelo acabar, entende que fez deste sua vida.
Revendo mentiras que disse para ti, algo que não poderia imaginar,
lugares e pessoas que não puderam se achegar.
O momento chegou, a ebulição acontece, ouço a voz que grita:
Acorda, é a vida!
Ela escuta, levanta, olha-se no espelho, vê tudo que perdeu e ganhou,
mas enfim sabe que se salvou.
Amores que voaram, lutas que acabaram, fantasmas em paz...
Limpando o limo, sentindo o cheiro exalando no ar, para que enfim
sua alma achegasse e pudesse ficar.
Escolhe um caminho, sem atalhos...começa de novo,
costura a própria alma no peito e pensa em tudo que foi
feito,
toma-te,
ama-te,
abraça-te,
alegra-te,
encontra-se.
Num imenso salto quantitativo,
a ebulição acontece na temperatura que lhe é devido.
Mas o que fizestes com tua memória?
Porque apagastes suas tantas vidas?
Era quando escondida dentro de ti,
à espera de algum momento ocular,
um Ulisses que iria lhe salvar...
Simplesmente medo e, ridicularmente o tempo parou;
e ali tu continuastes...
Cansada deste humor melancólico, desânimo sem alma que não
conseguias decifrar.
Somente implorava que não fosses agredida, e nem por isso deixou
de fazê-lo....
Transforma-se em nada,
nada na lama,
vende-se, aluga-se,
anula-se, perde-se...
Passa dias tentando entender o que realmente lhe fizeram,
e o que fez de ti...
Chama incessantemente por teu nome, um resgate.
Permanece escondida, abraçando os joelhos, protege a face,
tapa-lhe os olhos...
Espera o pesadelo acabar, entende que fez deste sua vida.
Revendo mentiras que disse para ti, algo que não poderia imaginar,
lugares e pessoas que não puderam se achegar.
O momento chegou, a ebulição acontece, ouço a voz que grita:
Acorda, é a vida!
Ela escuta, levanta, olha-se no espelho, vê tudo que perdeu e ganhou,
mas enfim sabe que se salvou.
Amores que voaram, lutas que acabaram, fantasmas em paz...
Limpando o limo, sentindo o cheiro exalando no ar, para que enfim
sua alma achegasse e pudesse ficar.
Escolhe um caminho, sem atalhos...começa de novo,
costura a própria alma no peito e pensa em tudo que foi
feito,
toma-te,
ama-te,
abraça-te,
alegra-te,
encontra-se.
Bênção
Quando, por uma lei das supremas potências,
O Poeta se apresenta à platéia entediada,
Sua mãe, estarrecida e prenhe de insolências,
Pragueja contra Deus, que dela então se apiada:
– “Ah! tivesse eu gerado um ninho de serpentes,
Em vez de amamentar esse aleijão sem graça!
Maldita a noite dos prazeres mais ardentes
Em que meu ventre concebeu minha desgraça!
Pois que entre todas neste mundo fui eleita
Para ser o desgosto de meu triste esposo,
E ao fogo arremessar não posso, qual se deita
Uma carta de amor, esse monstro asqueroso,
Eu farei recair teu ódio que me afronta
Sobre o instrumento vil de tuas maldições,
E este mau ramo hei de torcer de ponta a ponta,
Para que aí não vingue um só de seus botões!”
E rumina assim todo o ódio que a envenena,
E, por nada entender dos desígnios eternos,
Ela própria prepara ao fundo da Geena
A pira consagrada aos delitos maternos.
Sob a auréola, porém, de um anjo vigilante,
Inebria-se ao sol o infante deserdado,
E em tudo o que ele come ou bebe a cada instante
Há um gosto de ambrosia e néctar encarnado.
Às nuvens ele fala, aos ventos desafia
E a via-sacra entre canções percorre em festa;
O Espírito que o segue em sua romaria
Chora ao vê-lo feliz como ave da floresta.
Os que ele quer amar o observam com receio,
Ou então, por desprezo à sua estranha paz,
Buscam quem saiba acometê-lo em pleno seio,
E empenham-se em sangrar a fera que ele traz.
Ao pão e ao vinho que lhe servem de repasto
Eis que misturam cinza e pútridos bagaços;
Hipócritas, dizem-lhe o tato ser nefasto,
E se arrependem por lhe haver cruzado os passos.
Sua mulher nas praças perambula aos gritos:
“Pois se tão bela sou que ele deseja amar-me,
Farei tal qual os ídolos dos velhos ritos,
E assim, como eles, quero inteira redourar-me;
E aqui, de joelhos, me embebedarei de incenso,
De nardo e mirra, de iguarias e licores,
Para saber se desse amante tão intenso
Posso usurpar sorrindo os cândidos louvores.
E ao fatigar-me dessas ímpias fantasias,
Sobre ele pousarei a tíbia e férrea mão;
E minhas unhas, como as garras das Harpias,
Hão de abrir um caminho até seu coração.
Como ave tenra que estremece e que palpita,
Ao seio hei de arrancar-lhe o rubro coração,
E, dando rédea à minha besta favorita,
Por terra o deitarei sem dó nem compaixão!”
Ao Céu, de onde ele vê de um trono a incandescência,
O Poeta ergue sereno as suas mãos piedosas,
E o fulgurante brilho de sua vidência
Ofusca-lhe o perfil das multidões furiosas:
– “Bendito vós, Senhor, que dais o sofrimento,
Esse óleo puro que nos purga as imundícias
Como o melhor, o mais divino sacramento
E que prepara os fortes às santas delícias!
Eu sei que reservais um lugar para o Poeta
Nas radiantes fileiras das santas Legiões,
E que o convidareis à comunhão secreta
Dos Tronos, das Virtudes, das Dominações.
Bem sei que a dor é nossa dádiva suprema,
Aos pés da qual o inferno e a terra estão dispersos,
E que, para talhar-me um místico diadema,
Forçoso é lhes impor os tempos e universos.
Mas nem as jóias que em Palmira reluziam,
As pérolas do mar, o mais raro diamante,
Engastados por vós, ofuscar poderiam
Este belo diadema etéreo e cintilante;
Pois que ela apenas será feita de luz pura,
Arrancada à matriz dos raios primitivos,
De que os olhos mortais, radiantes de ventura,
Nada mais são que espelhos turvos e cativos!”
Charles BaudelaireE em tudo o que ele come ou bebe a cada instante
Há um gosto de ambrosia e néctar encarnado.
Às nuvens ele fala, aos ventos desafia
E a via-sacra entre canções percorre em festa;
O Espírito que o segue em sua romaria
Chora ao vê-lo feliz como ave da floresta.
Os que ele quer amar o observam com receio,
Ou então, por desprezo à sua estranha paz,
Buscam quem saiba acometê-lo em pleno seio,
E empenham-se em sangrar a fera que ele traz.
Ao pão e ao vinho que lhe servem de repasto
Eis que misturam cinza e pútridos bagaços;
Hipócritas, dizem-lhe o tato ser nefasto,
E se arrependem por lhe haver cruzado os passos.
Sua mulher nas praças perambula aos gritos:
“Pois se tão bela sou que ele deseja amar-me,
Farei tal qual os ídolos dos velhos ritos,
E assim, como eles, quero inteira redourar-me;
E aqui, de joelhos, me embebedarei de incenso,
De nardo e mirra, de iguarias e licores,
Para saber se desse amante tão intenso
Posso usurpar sorrindo os cândidos louvores.
E ao fatigar-me dessas ímpias fantasias,
Sobre ele pousarei a tíbia e férrea mão;
E minhas unhas, como as garras das Harpias,
Hão de abrir um caminho até seu coração.
Como ave tenra que estremece e que palpita,
Ao seio hei de arrancar-lhe o rubro coração,
E, dando rédea à minha besta favorita,
Por terra o deitarei sem dó nem compaixão!”
Ao Céu, de onde ele vê de um trono a incandescência,
O Poeta ergue sereno as suas mãos piedosas,
E o fulgurante brilho de sua vidência
Ofusca-lhe o perfil das multidões furiosas:
– “Bendito vós, Senhor, que dais o sofrimento,
Esse óleo puro que nos purga as imundícias
Como o melhor, o mais divino sacramento
E que prepara os fortes às santas delícias!
Eu sei que reservais um lugar para o Poeta
Nas radiantes fileiras das santas Legiões,
E que o convidareis à comunhão secreta
Dos Tronos, das Virtudes, das Dominações.
Bem sei que a dor é nossa dádiva suprema,
Aos pés da qual o inferno e a terra estão dispersos,
E que, para talhar-me um místico diadema,
Forçoso é lhes impor os tempos e universos.
Mas nem as jóias que em Palmira reluziam,
As pérolas do mar, o mais raro diamante,
Engastados por vós, ofuscar poderiam
Este belo diadema etéreo e cintilante;
Pois que ela apenas será feita de luz pura,
Arrancada à matriz dos raios primitivos,
De que os olhos mortais, radiantes de ventura,
Nada mais são que espelhos turvos e cativos!”
quinta-feira, maio 29, 2008
Burnt Norton
I
O tempo presente e o tempo passado
Estão ambos talvez presentes no tempo futuro,
E o tempo futuro contido no tempo passado.
Se todo o tempo é eternamente presente
Todo o tempo é irredimível.
O que podia ter sido é uma abstracção
Permanecendo possibilidade perpétua
Apenas num mundo de especulação.
O que podia ter sido e o que foi
Tendem para um só fim, que é sempre presente.
Ecoam passos na memória
Ao longo do corredor que não seguimos
Em direcção à porta que nunca abrimos
Para o roseiral. As minhas palavres ecoam
Assim, no teu espirito.
Mas para quê
Perturbar a poeira numa taça de folhas de rosa
Não sei.
Outros ecos
Habitam o jardim. Vamos segui-los?
Depressa, disse a ave, procura-os, procura-os,
Na volta do caminho. Através do primeiro portão,
No nosso primeiro mundo, seguiremos
O chamariz do tordo? No nosso primeiro mundo.
Ali estavam eles, dignos, invisiveis,
Movendo-se sem pressão, sobre as folhas mortas,
No calor do outono, através do ar vibrante,
E a ave chamou, em resposta à
Música não ouvida dissimulada nos arbustos,
E o olhar oculto cruzou o espaço, pois as rosas
Tinham o ar de flores que são olhadas.
Ali estavam como nossos convidados, recebidos e recebendo.
Assim nos movemos com eles, em cerimonioso cortejo,
Ao longo da alameda deserta, no círculo de buxo,
Para espreitar o lago vazio.
Lago seco, cimento seco, contornos castanhos,
E o lago encheu-se com água feita de luz do sol,
E os lótus elevaram-se, devagar, devagar,
A superfície cintilava no coração da luz,
E eles estavam atrás de nós, reflectidos no lago.
Depois uma nuvem passou, e o lago ficou vazio.
Vai, disse a ave, pois as folhas estavam cheias de crianças,
Escondendo-se excitadamente.. contendo o riso.
Vai, vai, vai, disse a ave: o género humano
Não pode suportar muita realidade.
O tempo passado e o tempo futuro
O que podia ter sido e o que foi
Tendem para um só fim, que é sempre presente.
II
Alhos e safiras na lama
Coagulam o eixo fixo.
O arame que vibra no sangue
Canta sob inventeradas cicatrizes
Apaziguando guerras há muito esquecidas.
A dança ao longo da artéria
A circulação da linfa
Estão representadas no rumo dos astros
Elevam-se ao verão na árvore
Nós movemo-nos acima da árvore em movimento
Na luz sobre a folha imaginada
E ouvimos no solo molhado
Lá em baixo, o cão de caça e o javali
Prosseguirem o seu ciclo como antes
Mas reconciliados no meio dos astros.
No ponto morto do mundo em rotação. Nem came nem
espírito;
Nem de nem para; no ponto morto, aí está a dança,
Mas nem paragem nem movimento. E não se chame a isso
fixidez,
Onde o passado e o futuro se reúnem. Nem movimento de
nem para,
Nem ascensâo nem declínio. Se não fosse o ponto, o ponto
morto,
Não haveria dança, e há só a dança.
Eu apenas posso dizer, estivemos ali: mas não posso dizer onde.
E não posso dizer por quanto tempo, pois seria situar isso no tempo.
A liberdade interior do desejo prático,
A libertação de acção e sofrimento, libertação da compulsão
Interior e exterior, e no entanto tendo à volta
Uma graça de sentido, uma luz branca em repouso e em movimento,
Erhebung sem movimento, concentração
Sem eliminação, ao mesmo tempo um novo mundo
E o velho tomado explícito, compreendida
No remate do seu êxtase parcial
A resolução do seu horror parcial.
Todavia o encadeamento de passado e futuro
Tecido na fraqueza do corpo em mutação
Protege a humanidade do céu e da danação
Que a carne não pode suportar.
O tempo passado e o tempo futuro
Apenas concedem um pouco de consciência.
Estar consciente é não estar no tempo
Mas apenas no tempo podem o momento no roseiral,
O momento no caramanchel onde a chuva batia,
O momento na igreja desabrigada ao entardecer
Ser lembrados; envolvidos em passado e futuro.
Apenas pelo tempo o tempo é conquistado.
III
Este é um lugar de desafeição
O tempo antes e o tempo depois
Numa luz sombria: nem luz do dia
Investindo a forma de lúcida quietude
Transformando a sombra em efémera beleza
Com vagarosa rotação sugerindo permanência
Nem escuridão para purificar a alma
Esvaziando o sensual pela privação
Purificando a afeição do temporal.
Nem plenitude nem vazio. Apenas um tremeluzir
Sobre os rostos tensos devastados pelo tempo
Distraídos da distracção pela dístracção
Cheios de fantasias e vazios de sentido
Túmida apatia sem concentração
Homens e pedaços de papel remolnhando no vento frio
Que sopra antes e depois do tempo,
Vento que entra e sai de pulmões viciados
Tempo antes e tempo depois.
Eructação de almas doentias
No ar desbotado, os miasmas
Levados no vento que varre os sombrios montes de Londres,
Hampstead e Clerkenwell, Campden e Putney,
Hihgate, Primrose e Ludgate. Não aqui
Não aqui a escuridão, neste mundo de agitadas vozes.
Desce mais, desce apenas
Ao mundo da solidão perpétua,
Mundo não mundo, mas aquilo que não é mundo,
Escuridão interna, privação
E destituição de toda a propriedade,
Dissecação do mundo do sentido,
Evacuação do mundo da fantasia,
Inoperância do mundo do espírito;
Estee é um dos caminhos, e o outro
É o mesmo, não em movimento
Mas abstenção de movimento; enquanto o mundo se move
Em apetência, nos seus caminhos metalizados
Do tempo passado e do tempo futuro.
IV
O tempo e o sino enterraram o dia,
A nuvem negra arrebata o sol.
Irá voltar-se para nós o girassol, a clematite
Desprender-se, debruçar-se; irão a gavinha e a vergôntea
Unir-se e aderir?
Os frígidos
Dedos do teixo descerão
Para nos envolver? Depois da asa do alcião
Ter respondido à luz com a luz e calar-se, a luz está em repouso
No ponto morto do mundo em rotação.
V
As palavras movem-se, a música move-se
Apenas no tempo; mas o que apenas vive
Apenas pode morrer. As palavras, depois de ditas,
Alcançam o silêncio. Apenas pela forma, pelo molde,
Podem as palavras ou a música alcançar
O repouso, tal como uma jarra chinesa ainda
Se move perpetuamente no seu repouso.
Não o repouso do violino, enquanto a nota dura,
Não isso apenas, mas a coexistência,
Ou digamos que o fim precede o princípio,
E que o fim e o princípio estiveram sempre ali
Antes do princípio e depois do fim.
E tudo é sempre agora. As palavras deformam-se,
Estalam e quebram-se por vezes, sob o fardo,
Sob a tensão, escorregam, deslizam, perecem,
Definham com imprecisão, não se mantêm,
Não ficam em repouso. Vozes estridentes
Ralhando, troçando, ou apenas tagarelando,
Assaltam-nas sempre. O Verbo no deserto
É muito atacado por vozes de tentação,
A sombra que chora na dança funérea,
O clamoroso lamento da quimera desconsolada.
O detalhe do molde é movimento,
Como na figura dos dez degraus.
O próprio desejo é movimento
Não desejável em si;
O próprio amor é inamovível,
Apenas a causa e o fim do movimento,
Intemporal, e sem desejo
Excepto no aspecto do tempo
Capturado sob a fonna de limitação
Entre o não ser e o ser.
De repente num raio de sol
Mesmo enquanto se move a poeira
Eleva-se o riso escondido
De crianças na folhagem
Depressa, aqui, agora, sempre-
Ridículo o triste tempo inútil
Que se estende antes e depois.
T.S. Elliot
O tempo presente e o tempo passado
Estão ambos talvez presentes no tempo futuro,
E o tempo futuro contido no tempo passado.
Se todo o tempo é eternamente presente
Todo o tempo é irredimível.
O que podia ter sido é uma abstracção
Permanecendo possibilidade perpétua
Apenas num mundo de especulação.
O que podia ter sido e o que foi
Tendem para um só fim, que é sempre presente.
Ecoam passos na memória
Ao longo do corredor que não seguimos
Em direcção à porta que nunca abrimos
Para o roseiral. As minhas palavres ecoam
Assim, no teu espirito.
Mas para quê
Perturbar a poeira numa taça de folhas de rosa
Não sei.
Outros ecos
Habitam o jardim. Vamos segui-los?
Depressa, disse a ave, procura-os, procura-os,
Na volta do caminho. Através do primeiro portão,
No nosso primeiro mundo, seguiremos
O chamariz do tordo? No nosso primeiro mundo.
Ali estavam eles, dignos, invisiveis,
Movendo-se sem pressão, sobre as folhas mortas,
No calor do outono, através do ar vibrante,
E a ave chamou, em resposta à
Música não ouvida dissimulada nos arbustos,
E o olhar oculto cruzou o espaço, pois as rosas
Tinham o ar de flores que são olhadas.
Ali estavam como nossos convidados, recebidos e recebendo.
Assim nos movemos com eles, em cerimonioso cortejo,
Ao longo da alameda deserta, no círculo de buxo,
Para espreitar o lago vazio.
Lago seco, cimento seco, contornos castanhos,
E o lago encheu-se com água feita de luz do sol,
E os lótus elevaram-se, devagar, devagar,
A superfície cintilava no coração da luz,
E eles estavam atrás de nós, reflectidos no lago.
Depois uma nuvem passou, e o lago ficou vazio.
Vai, disse a ave, pois as folhas estavam cheias de crianças,
Escondendo-se excitadamente.. contendo o riso.
Vai, vai, vai, disse a ave: o género humano
Não pode suportar muita realidade.
O tempo passado e o tempo futuro
O que podia ter sido e o que foi
Tendem para um só fim, que é sempre presente.
II
Alhos e safiras na lama
Coagulam o eixo fixo.
O arame que vibra no sangue
Canta sob inventeradas cicatrizes
Apaziguando guerras há muito esquecidas.
A dança ao longo da artéria
A circulação da linfa
Estão representadas no rumo dos astros
Elevam-se ao verão na árvore
Nós movemo-nos acima da árvore em movimento
Na luz sobre a folha imaginada
E ouvimos no solo molhado
Lá em baixo, o cão de caça e o javali
Prosseguirem o seu ciclo como antes
Mas reconciliados no meio dos astros.
No ponto morto do mundo em rotação. Nem came nem
espírito;
Nem de nem para; no ponto morto, aí está a dança,
Mas nem paragem nem movimento. E não se chame a isso
fixidez,
Onde o passado e o futuro se reúnem. Nem movimento de
nem para,
Nem ascensâo nem declínio. Se não fosse o ponto, o ponto
morto,
Não haveria dança, e há só a dança.
Eu apenas posso dizer, estivemos ali: mas não posso dizer onde.
E não posso dizer por quanto tempo, pois seria situar isso no tempo.
A liberdade interior do desejo prático,
A libertação de acção e sofrimento, libertação da compulsão
Interior e exterior, e no entanto tendo à volta
Uma graça de sentido, uma luz branca em repouso e em movimento,
Erhebung sem movimento, concentração
Sem eliminação, ao mesmo tempo um novo mundo
E o velho tomado explícito, compreendida
No remate do seu êxtase parcial
A resolução do seu horror parcial.
Todavia o encadeamento de passado e futuro
Tecido na fraqueza do corpo em mutação
Protege a humanidade do céu e da danação
Que a carne não pode suportar.
O tempo passado e o tempo futuro
Apenas concedem um pouco de consciência.
Estar consciente é não estar no tempo
Mas apenas no tempo podem o momento no roseiral,
O momento no caramanchel onde a chuva batia,
O momento na igreja desabrigada ao entardecer
Ser lembrados; envolvidos em passado e futuro.
Apenas pelo tempo o tempo é conquistado.
III
Este é um lugar de desafeição
O tempo antes e o tempo depois
Numa luz sombria: nem luz do dia
Investindo a forma de lúcida quietude
Transformando a sombra em efémera beleza
Com vagarosa rotação sugerindo permanência
Nem escuridão para purificar a alma
Esvaziando o sensual pela privação
Purificando a afeição do temporal.
Nem plenitude nem vazio. Apenas um tremeluzir
Sobre os rostos tensos devastados pelo tempo
Distraídos da distracção pela dístracção
Cheios de fantasias e vazios de sentido
Túmida apatia sem concentração
Homens e pedaços de papel remolnhando no vento frio
Que sopra antes e depois do tempo,
Vento que entra e sai de pulmões viciados
Tempo antes e tempo depois.
Eructação de almas doentias
No ar desbotado, os miasmas
Levados no vento que varre os sombrios montes de Londres,
Hampstead e Clerkenwell, Campden e Putney,
Hihgate, Primrose e Ludgate. Não aqui
Não aqui a escuridão, neste mundo de agitadas vozes.
Desce mais, desce apenas
Ao mundo da solidão perpétua,
Mundo não mundo, mas aquilo que não é mundo,
Escuridão interna, privação
E destituição de toda a propriedade,
Dissecação do mundo do sentido,
Evacuação do mundo da fantasia,
Inoperância do mundo do espírito;
Estee é um dos caminhos, e o outro
É o mesmo, não em movimento
Mas abstenção de movimento; enquanto o mundo se move
Em apetência, nos seus caminhos metalizados
Do tempo passado e do tempo futuro.
IV
O tempo e o sino enterraram o dia,
A nuvem negra arrebata o sol.
Irá voltar-se para nós o girassol, a clematite
Desprender-se, debruçar-se; irão a gavinha e a vergôntea
Unir-se e aderir?
Os frígidos
Dedos do teixo descerão
Para nos envolver? Depois da asa do alcião
Ter respondido à luz com a luz e calar-se, a luz está em repouso
No ponto morto do mundo em rotação.
V
As palavras movem-se, a música move-se
Apenas no tempo; mas o que apenas vive
Apenas pode morrer. As palavras, depois de ditas,
Alcançam o silêncio. Apenas pela forma, pelo molde,
Podem as palavras ou a música alcançar
O repouso, tal como uma jarra chinesa ainda
Se move perpetuamente no seu repouso.
Não o repouso do violino, enquanto a nota dura,
Não isso apenas, mas a coexistência,
Ou digamos que o fim precede o princípio,
E que o fim e o princípio estiveram sempre ali
Antes do princípio e depois do fim.
E tudo é sempre agora. As palavras deformam-se,
Estalam e quebram-se por vezes, sob o fardo,
Sob a tensão, escorregam, deslizam, perecem,
Definham com imprecisão, não se mantêm,
Não ficam em repouso. Vozes estridentes
Ralhando, troçando, ou apenas tagarelando,
Assaltam-nas sempre. O Verbo no deserto
É muito atacado por vozes de tentação,
A sombra que chora na dança funérea,
O clamoroso lamento da quimera desconsolada.
O detalhe do molde é movimento,
Como na figura dos dez degraus.
O próprio desejo é movimento
Não desejável em si;
O próprio amor é inamovível,
Apenas a causa e o fim do movimento,
Intemporal, e sem desejo
Excepto no aspecto do tempo
Capturado sob a fonna de limitação
Entre o não ser e o ser.
De repente num raio de sol
Mesmo enquanto se move a poeira
Eleva-se o riso escondido
De crianças na folhagem
Depressa, aqui, agora, sempre-
Ridículo o triste tempo inútil
Que se estende antes e depois.
T.S. Elliot
terça-feira, maio 27, 2008
Antes
E pensar que chegastes a face
quiçá quase agarrar-te em loucura.
E neste instante poderia estar aprisionada
em porões fétidos e
úmidos onde só se mira a escuridão.
Pedindo socorro, sem sentir nada...
No começo de uma vida,
todas as apostas foram desvalidas
no tempo,
num formato onde reinava a revolta
e a falta.
Até hoje não acreditas para donde ias...
Talves lhe afirmem um dia os deuses,
estavas morta e não sabias.
Um brinde ao defunto!
quiçá quase agarrar-te em loucura.
E neste instante poderia estar aprisionada
em porões fétidos e
úmidos onde só se mira a escuridão.
Pedindo socorro, sem sentir nada...
No começo de uma vida,
todas as apostas foram desvalidas
no tempo,
num formato onde reinava a revolta
e a falta.
Até hoje não acreditas para donde ias...
Talves lhe afirmem um dia os deuses,
estavas morta e não sabias.
Um brinde ao defunto!
Esquecimento
Se queres inda ver como escondida
Guardo no peito a tua imagem pura,
— Imagem que no céu da minha vida
É como um sol ardente que fulgura;
Convida o coração na sepultura
A viver e pulsar por ti; convida
Minh'alma para amar de novo; cura
A, que lhe abriste, cáustica ferida...
Só pedira a paixão com que me iludo
Que um raio apenas d'essa luz me desses,
E uma palavra do teu lábio mudo;
Mas nem ouves, sequer, as minhas preces;
E enquanto, para amar-te, esqueço tudo,
Tu, por um nada, o meu amor esqueces.
Osório Duque-Estrada
Guardo no peito a tua imagem pura,
— Imagem que no céu da minha vida
É como um sol ardente que fulgura;
Convida o coração na sepultura
A viver e pulsar por ti; convida
Minh'alma para amar de novo; cura
A, que lhe abriste, cáustica ferida...
Só pedira a paixão com que me iludo
Que um raio apenas d'essa luz me desses,
E uma palavra do teu lábio mudo;
Mas nem ouves, sequer, as minhas preces;
E enquanto, para amar-te, esqueço tudo,
Tu, por um nada, o meu amor esqueces.
Osório Duque-Estrada
domingo, maio 25, 2008
À margem
Eu tentei ir ao teu encontro,
buscando formas para não te respirar..
Fui essa noite,
cheguei até o mar e era como se eu
não soubesse nadar,
olhei para a margem e não fui,
os peixes que haviam eram predadores,
se ao menos houvessem golfinhos ali...
Eu poderia
ir voando...
mas nem lembrei.
Sabia dos ventos e das tempestades
e imaginava em alto mar...
Eu não fui,
não te encontrei,
não nadei,
só fiquei com medo à margem...
buscando formas para não te respirar..
Fui essa noite,
cheguei até o mar e era como se eu
não soubesse nadar,
olhei para a margem e não fui,
os peixes que haviam eram predadores,
se ao menos houvessem golfinhos ali...
Eu poderia
ir voando...
mas nem lembrei.
Sabia dos ventos e das tempestades
e imaginava em alto mar...
Eu não fui,
não te encontrei,
não nadei,
só fiquei com medo à margem...
quarta-feira, maio 21, 2008
segunda-feira, maio 19, 2008
Feed-back
Depende,
de que depende?
Vênus está presente ainda,
e no início do ano astral,
segundo o que se mire,
donde se mire...
Com a lua cheia, romantismo pra enfeitar,
ainda imprecisa, eu preciso
do feed-back imperfeito de ontem..
Não, insano e irracional,
devorar-nos na calçada não poderia fazer
algum mal.
Não quero ser vista por aqueles olhos,
não quero mais a imagem que vias...
A direção do olhar, nunca é a mesma,
não há nenhuma graça em aprisioná-lo
em passados.
de que depende?
Vênus está presente ainda,
e no início do ano astral,
segundo o que se mire,
donde se mire...
Com a lua cheia, romantismo pra enfeitar,
ainda imprecisa, eu preciso
do feed-back imperfeito de ontem..
Não, insano e irracional,
devorar-nos na calçada não poderia fazer
algum mal.
Não quero ser vista por aqueles olhos,
não quero mais a imagem que vias...
A direção do olhar, nunca é a mesma,
não há nenhuma graça em aprisioná-lo
em passados.
domingo, maio 18, 2008
A musa
Que miras?
A ti...
Passeando no escuro,
olhos a buscam,
exibindo a cabeleira loira,
olhos esbugalhados verde e vermelho,
trazem a bandeira da alucinação.
Não quero mais um refém da minha imagem,
procuras uma musa?
Eu lhe entregarei algumas fagulhas que estourariam
e marcas vermelhas talvez nos serviriam como algum
fetiche...incendiariam teu corpo.
Acenderá com paixão e desejo,
poderemos nos comer por toda a noite...
Exauridos pela manhã, não haveria nada
a ser dito.
Eu faria o tipo livre, sem saber o que fazer ao certo.
Mas se a função é somente dar-lhe alguma
inspiração, vai ser fácil...
Surgiria em teus sonhos e o faria sorrir durante o sono.
Só não queira aprisionar-me,
musas são livres... mesmo quando impotentes..
Use-a, transforme-a...
na realidade
é só imagem..
Tirá-la da condição de imagem de sonho
para a realidade
é forte demais para uma musa
tão desanimada.
A musa é lembrança,
é saudade,
é poesia...
A musa é amor mesmo que distante.
É paixão.
Num romantismo que só a distancia
do que é sonho ao que é realidade.
A musa nem existe de
verdade..
Sâmara
A ti...
Passeando no escuro,
olhos a buscam,
exibindo a cabeleira loira,
olhos esbugalhados verde e vermelho,
trazem a bandeira da alucinação.
Não quero mais um refém da minha imagem,
procuras uma musa?
Eu lhe entregarei algumas fagulhas que estourariam
e marcas vermelhas talvez nos serviriam como algum
fetiche...incendiariam teu corpo.
Acenderá com paixão e desejo,
poderemos nos comer por toda a noite...
Exauridos pela manhã, não haveria nada
a ser dito.
Eu faria o tipo livre, sem saber o que fazer ao certo.
Mas se a função é somente dar-lhe alguma
inspiração, vai ser fácil...
Surgiria em teus sonhos e o faria sorrir durante o sono.
Só não queira aprisionar-me,
musas são livres... mesmo quando impotentes..
Use-a, transforme-a...
na realidade
é só imagem..
Tirá-la da condição de imagem de sonho
para a realidade
é forte demais para uma musa
tão desanimada.
A musa é lembrança,
é saudade,
é poesia...
A musa é amor mesmo que distante.
É paixão.
Num romantismo que só a distancia
do que é sonho ao que é realidade.
A musa nem existe de
verdade..
Sâmara
sábado, maio 17, 2008
Escolha
Entre vento e navalha escolho o vento
entre verde e vermelho aquele azul
que até na morte servirá de espelho
ao vento que por dentro me deslumbra
Entre ventre e cipreste escolho o Sol
Entre as mãos que se dão a que se oculta
Entre o que nunca soube o que já sobra
Entre a relva um milímetro de bruma.
David Mourão Ferreira
entre verde e vermelho aquele azul
que até na morte servirá de espelho
ao vento que por dentro me deslumbra
Entre ventre e cipreste escolho o Sol
Entre as mãos que se dão a que se oculta
Entre o que nunca soube o que já sobra
Entre a relva um milímetro de bruma.
David Mourão Ferreira
segunda-feira, maio 12, 2008
Sóbria
O
medo
é
de
desmoronamentos...
De
gra
dar-
se.
Perder-se do
CONCRETO
OBJETIVO
DE
SER.
Não podes comer teu próprio vômito...
É disso que tens medo,
e isso é bom...
é muito bom...
medo
é
de
desmoronamentos...
De
gra
dar-
se.
Perder-se do
CONCRETO
OBJETIVO
DE
SER.
Não podes comer teu próprio vômito...
É disso que tens medo,
e isso é bom...
é muito bom...
Procrastinar
Esperando sempre o melhor momento para lidar
com os pequenos passados,
frustrações,
e minha sóbria capacidade em decidir
se vou ou se fico...
É claro que viajarei,
porque estou com medo?
Agora que acabastes de vomitar-te por inteiro,
e tenta, esforça-se para deixar o ar perfumado,
não podes olhar dentros de mis ojos...
Para cantarte o que nunca digo...
Farei poesia impetuosa,
ou deixarei o eu procrastinar a tal
equilíbrio... quando?
O tempo que eu tenho, quanto mais?
Os anos em galés acabaram...
E na própria realidade que eu descortino a cada
dia encontro a essência de viver, e é só isso...mesmo...
Domingo inteiro regado por muita cafeína,
Mas qual é o medo pra quem já sucumbiu a tantos desmoronamentos
da própria alma?
Voltar pra casa e juntar os cacos, nunca foi problema...
A maior-idade aos 25 faz alguma diferença?
O espelho acena dizendo que sim.
Os artigos sobre ética, moral também...
Meu senso estético, e ideal de liberdade,
de personalidade...
gritam, pedem-me símbolos.
Só peço ao Deus que Kant inventou para Lampe,
por necessidade; repreenda minha luxúria...essa maldita
que está em mim.
Como no dia de pentecostes, junto à minha lentidão taurina,
desça o espírito-virgem da independência emocional,
vaginal, visceral...
É teimosia ou fantasia?
Quem vai responder,
hein, Sâmara...
Sâmara, Sâmaraaaaaa
Vas embarcar?
ou proscratinar?
com os pequenos passados,
frustrações,
e minha sóbria capacidade em decidir
se vou ou se fico...
É claro que viajarei,
porque estou com medo?
Agora que acabastes de vomitar-te por inteiro,
e tenta, esforça-se para deixar o ar perfumado,
não podes olhar dentros de mis ojos...
Para cantarte o que nunca digo...
Farei poesia impetuosa,
ou deixarei o eu procrastinar a tal
equilíbrio... quando?
O tempo que eu tenho, quanto mais?
Os anos em galés acabaram...
E na própria realidade que eu descortino a cada
dia encontro a essência de viver, e é só isso...mesmo...
Domingo inteiro regado por muita cafeína,
Mas qual é o medo pra quem já sucumbiu a tantos desmoronamentos
da própria alma?
Voltar pra casa e juntar os cacos, nunca foi problema...
A maior-idade aos 25 faz alguma diferença?
O espelho acena dizendo que sim.
Os artigos sobre ética, moral também...
Meu senso estético, e ideal de liberdade,
de personalidade...
gritam, pedem-me símbolos.
Só peço ao Deus que Kant inventou para Lampe,
por necessidade; repreenda minha luxúria...essa maldita
que está em mim.
Como no dia de pentecostes, junto à minha lentidão taurina,
desça o espírito-virgem da independência emocional,
vaginal, visceral...
É teimosia ou fantasia?
Quem vai responder,
hein, Sâmara...
Sâmara, Sâmaraaaaaa
Vas embarcar?
ou proscratinar?
sábado, maio 10, 2008
olha...
Desde algum dia não movo as peças do tabuleiro,
como ventos do norte,
furacões, ou simplesmente
movimentos súbitos desse fluxo
dessa vida,
obscuramente hibernando,
quebrando espelhos,
buscando imagens.
Da mais bem-vinda rídicula palavra ânimo,
breves partidas também?
Eu ainda olho, olho.
como ventos do norte,
furacões, ou simplesmente
movimentos súbitos desse fluxo
dessa vida,
obscuramente hibernando,
quebrando espelhos,
buscando imagens.
Da mais bem-vinda rídicula palavra ânimo,
breves partidas também?
Eu ainda olho, olho.
quinta-feira, maio 08, 2008
O reconhecimento
Olha quem está presente...
Eis que tudo se faz novo,
as trombetas anunciaram o que o fogo
fez... e toda a purificação na formação
fidedigna da atual narrativa.
Na formação de valores pendentes, no resgate
da própria alma.
Agora tudo é revestido da mais pura lucidez,
a vida doa para a razão toda a praticidade,
mas mostra o produto final de hoje...
Como disse um amigo: É isso!
É tudo isso... eu digo!
Eis que tudo se faz novo,
as trombetas anunciaram o que o fogo
fez... e toda a purificação na formação
fidedigna da atual narrativa.
Na formação de valores pendentes, no resgate
da própria alma.
Agora tudo é revestido da mais pura lucidez,
a vida doa para a razão toda a praticidade,
mas mostra o produto final de hoje...
Como disse um amigo: É isso!
É tudo isso... eu digo!
sexta-feira, abril 11, 2008
quarta-feira, abril 09, 2008
Espasmos de lucidez
Minha predisposição suícida de lançar
ao abismo
partiu...
Achegou-se sentimentos que são filhos bastardos
da realidade projetada.
E agora eu os projeto.
Estudo, estudo...leio, leio...e no fim acabarei como
todos, no meu fim.
Tentam me enforcar durante o sono,
o que obviamente traz me o não bem-vindo torcicolo...
que coisa rídicula...eu e torcicolo, se a segunda é bem
mais real, parece que sim.
Mas agora a Doroty chega em casa,
e pensa uma forma de deixar as malas como estão,
pra que a partida seja em pronto..
Doroty às avessas...
O tempo me acaba, sobram café e livros..
Sâmara
ao abismo
partiu...
Achegou-se sentimentos que são filhos bastardos
da realidade projetada.
E agora eu os projeto.
Estudo, estudo...leio, leio...e no fim acabarei como
todos, no meu fim.
Tentam me enforcar durante o sono,
o que obviamente traz me o não bem-vindo torcicolo...
que coisa rídicula...eu e torcicolo, se a segunda é bem
mais real, parece que sim.
Mas agora a Doroty chega em casa,
e pensa uma forma de deixar as malas como estão,
pra que a partida seja em pronto..
Doroty às avessas...
O tempo me acaba, sobram café e livros..
Sâmara
terça-feira, abril 08, 2008
Soneto
Agregado infeliz de sangue e cal,
Fruto rubro de carne agonizante,
Filho da grande força fecundante
De minha brônzea trama neuronial,
Que poder embriológico fatal
Destruiu, com a sinergia de um gigante,
E tua morfogênese de infante
A minha morfogênese ancestral?!
Porção de minha plásmica substância,
Em que lugar irás passar a infância,
Tragicamente anônimo, a feder?!
Ah! Possas tu dormir, feto esquecido,
Panteisticamente dissolvido
Na monumentalidade do NÃO SER!
Augusto dos Anjos
Fruto rubro de carne agonizante,
Filho da grande força fecundante
De minha brônzea trama neuronial,
Que poder embriológico fatal
Destruiu, com a sinergia de um gigante,
E tua morfogênese de infante
A minha morfogênese ancestral?!
Porção de minha plásmica substância,
Em que lugar irás passar a infância,
Tragicamente anônimo, a feder?!
Ah! Possas tu dormir, feto esquecido,
Panteisticamente dissolvido
Na monumentalidade do NÃO SER!
Augusto dos Anjos
quarta-feira, abril 02, 2008
A Fausto
Aquele que parte em busca do definido,
o tornar-à-ser.
Grandes aspirações, prisioneiro e só.
Ondas propícias ao conquistar a vida;
ao se mostrar para o mundo e se afirmar
diante as Helenas.
Arrojado em terras estranjeiras,
coisa alguma ensinar que
aos púpilos sirva, entusiasmo ou dor?
Nas fotografias que não estás?
Sem cessar de meu peito,
promete o botão desabrochando;
enquanto flores tu já colhias.
Fostes presente e sempre o serás.
Já não há contentar um homem feito, e
nas vãs aparências desdenhando...
No úmido ou no seco, frio ou cálido,
novo sangue vivaz, incansável?
Pensei que não...
Nada tivera que me fosse próprio,
amor de verdade e doce apego,
que seja ilusões da vida, ardentes, livres,
restitui-me
agora!
E caminhai, com rapidez medida, desde o céu,
pela terra, ao fundo inferno.
Desejo beber contigo, mas não se cumpre amanhã o que
hoje não for feito.
E nem um dia só perder se deve.
Enfim, licença lhe dou de a si mentir algumas vezes,
que não dura isso muito.
Ânsia ou terror te dilaceram.
Basta já disso! Isso que tem de ser, enfim suceda!
Espera a tua amante, tudo no mundo achando
escuto e triste, não sais do sentido,
loucamente te ama.
Sâmara, a Margarida.
o tornar-à-ser.
Grandes aspirações, prisioneiro e só.
Ondas propícias ao conquistar a vida;
ao se mostrar para o mundo e se afirmar
diante as Helenas.
Arrojado em terras estranjeiras,
coisa alguma ensinar que
aos púpilos sirva, entusiasmo ou dor?
Nas fotografias que não estás?
Sem cessar de meu peito,
promete o botão desabrochando;
enquanto flores tu já colhias.
Fostes presente e sempre o serás.
Já não há contentar um homem feito, e
nas vãs aparências desdenhando...
No úmido ou no seco, frio ou cálido,
novo sangue vivaz, incansável?
Pensei que não...
Nada tivera que me fosse próprio,
amor de verdade e doce apego,
que seja ilusões da vida, ardentes, livres,
restitui-me
agora!
E caminhai, com rapidez medida, desde o céu,
pela terra, ao fundo inferno.
Desejo beber contigo, mas não se cumpre amanhã o que
hoje não for feito.
E nem um dia só perder se deve.
Enfim, licença lhe dou de a si mentir algumas vezes,
que não dura isso muito.
Ânsia ou terror te dilaceram.
Basta já disso! Isso que tem de ser, enfim suceda!
Espera a tua amante, tudo no mundo achando
escuto e triste, não sais do sentido,
loucamente te ama.
Sâmara, a Margarida.
quarta-feira, março 05, 2008
segunda-feira, fevereiro 25, 2008
sábado, fevereiro 16, 2008
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