
Certa vez, alguém, perguntou-me quem era o outro. Fácil de responder, diria prontamente se não tivesse parado para pensar... Em tese, o outro seria todo aquele que não sou eu. Métrica simetria ortográfica que não permite dúvidas.
Talvez, apenas uma... Quem sou eu, afinal?
Obviamente sonho em ser único, diferente de todos, especialmente de mim mesma... Mas não consigo! Podemos apresentar lampejos de criatividade...
Sentimo-nos como se fossemos verdadeiramente fazer a diferença...Não por muito tempo;
não por toda a vida, apenas e tão somente por momentos especiais, onde os sentimentos apresentam-se com a força dos Deuses do Olimpo, como Anjos caídos que fazem questão de levantar na euforia de provar momento singular, imperfeito e finito, sem travas e retoques.
Chego perto deste momento quando estou apaixonada, febril, praticamente em cólera por alguém, que em geral não posso ter... Lembro dos outros, pois geralmente o empecilho para ter a pessoa amada, costuma invariavelmente ser o outro.
Talvez não exista o outro, muito menos o eu. É tudo uma brincadeira de mal gosto, feita por alguém diferente de nós. Ou mais provavelmente o eu tenha sido absolvido pelo "nós" que dita o que vários "eus" acreditam, de alguma maneira ser o certo.
Eu, outro, nós certos e errados, somos emaranhados que tentamos desembaraçar, na esperança de achar, o que de fato nos remete aos significados da vida, que pode e deve perdurar, apenas enquanto emaranhados puderem continuar.
Somos a ânsia do afogado misturado ao fraco desbotado dos dentes amarelados do monge enclausurado. De toda forma não faz sentido, pois, ser é único na alma de quem sente, individualmente o que foi padronizado pelo outro que não pode apresentar-se por não existir.
Somos a mais bela confusa criatura que ousou existir...Não nos explicamos por achar uma tarefa demasiada difícil; mas cobramos que todos se expliquem.
Devaneios, surtos, ataques de nervos... Por não poder ser eu que o outro desaprova sob a luz da lareira na sala do Diabo que aquece o inferno da nossa própria consciência vil e profana dos belos sonhos arcanjos que harpas parecem tocar...